Você sabe como Portugal anda das pernas na área ambiental? Provavelmente, como eu, não faz a menor idéia. Portugal e Brasil estão separados pelo Atlântico e pela língua portuguesa (como diria Oscar Wilde sobre ingleses e americanos). E na área ambiental? Haveria algo em comum? Temos algo a aprender com a experiência lusitana?
Ricardo Garcia, jornalista brasileiro radicado em Lisboa e responsável pela cobertura ambiental d’O Público, um dos principais diários do país, tirou-me da ignorância.
Ele chama atenção para três questões, uma em que Portugal está tão mal quanto o Brasil (ordenamento territorial), outras em que vai muito bem (reciclagem e renováveis).
“Muitas vezes, quando estou fora de Portugal, perguntam-me quais são os principais problemas ambientais do país. Eu sempre aponto um em particular: a desordem na ocupação do espaço. O “ordenamento do território” é tanto um termo feio, como um conceito que teima em vingar por aqui . As leis de uso do solo existem há anos. Mas não conseguem impedir a construção desordenada e a falta de planeamento, sobretudo por influência de distorções primárias- como o fato de as câmaras municipais (equivalente a prefeituras) buscarem nas taxas sobre as construções uma fatia importante do seu orçamento. A falta de planeamento e a sua implantação deficiente são a matriz de onde emergem muitos outros problemas ambientais: sistemas de transportes insustentáveis, falta de áreas verdes, poluição atmosférica e sonora, redução da qualidade de vida. Basta dar uma volta pelo interior do país ou pela periferia das grandes cidades para ver o que isto significa. Agora mesmo, acabam de inaugurar uma enorme auto-estrada aqui onde vivo, em Cascais, que apenas estimulará mais trânsito automóvel, contrariando todos os princípios da sustentabilidade e do bom senso em políticas de transportes”.
Por outro lado, o jornalista lembra a reciclagem e a geração de energias renováveis como áreas em que o país se destaca, “embora longe do ideal”.
“[As renováveis se desenvolveram] em parte, por natural vocação – é um país com boa disponibilidade de água (em média, entenda-se, pois há regiões específicas em processo de desertificação) e que investiu forte em barragens nas últimas décadas. Mas Portugal também está a se sair bem nas chamadas “novas renováveis”. A energia eólica supriu, em 2008, 11% da electricidade consumida no país. Somando esta fatia às barragens e biomassa, mais pequenas parcelas de geotérmica e solar, as renováveis estão já em torno dos 40%.”
Sobre a reciclagem conta: “Uma das primeiras reportagens que fiz em Portugal, em 1988 ou 89, foi sobre a reciclagem. Estava-se na primeira infância da coisa e apenas a reciclagem do vidro tinha alguma expressão, e em alguns municípios seleccionados. Hoje, todo mundo recicla. Em grande parte, isto se deve às normas da União Europeia, que obrigam os Estados-membros e as indústrias a garantirem taxas mínimas de reciclagem (de embalagens, de pneus, de pilhas, etc). O resultado tem sido a proliferação de sistemas de recolha de lixo reciclável, em especial através de “ecopontos”, para depósito de vidro, papéis e embalagens em geral (plástico e metal).”
Você pode acompanhar um pouco do trabalho do Ricardo aqui, no microsite que ele criou para a cobertura da conferência de Copenhague – para os portugueses, Copenhaga. Ele também é autor do livro “Sobre a Terra: Um Guia para Quem Lê e Escreve Sobre Ambiente” (Editora Público, Lisboa).