As usinas nucleares estão com tudo. Na última semana, conseguiram dois aliados de muito peso – o presidente Barack Obama e o zilionário Bill Gates.
Obama, que em campanha nunca negou apreciar o modelo atômico, anunciou seu apoio à instalação de duas novas usinas nucleares no estado da Geórgia, com capacidade de 1.150 megawatts cada, as primeiras construídas nos Estados Unidos em trinta anos. “Investir em energia nuclear continua sendo um gesto necessário”, disse Obama na ocasião. “Esperamos que este anúncio reafirme tanto a nossa seriedade em enfrentar os desafios energéticos quanto o nosso desejo de encarar este desafio não de um ponto de vista ideológico, mas como uma questão muito mais importante do que a política”.No fim de janeiro, quando fez o discurso anual sobre o Estado da União, o presidente já havia deixado claro que pretendia trilhar esse caminho. Nas semanas que se seguiram, seu gabinete informou que propunha ampliar a dotação do programa de financiamento de usinas nucleares.
O outro peso-pesado que decidiu apostar todas as suas fichas no nucleor é Bill Gates. Em palestra sobre energia e mudanças climáticas da série de conferências virtuais TED, o pai do computador pessoal e, agora, filantropo, defendeu o uso de novos modelos de reatores nucleares para atingir uma meta de emissões zero de carbono. Para Gates, este é o milagre que pode evitar uma catástrofe planetária.Ele teria inclusive investido algumas dezenas de milhões de dólares na TerraPower, empresa de Washington que está desenvolvendo os chamados reatores de nêutrons rápidos. Segundo Gates, essa tecnologia permitiria reciclar os resíduos, elevando a eficiência da usina ao máximo. Os reatores de nêutrons rápidos são descritos num artigo da revista Scientific American de alguns anos atrás.
As palestras anuais de Gates no TED são sempre surpreendentes. No ano passado, ele soltou mosquitos no auditório para chamar a atenção para o tamanho do problema da malária. “Por que os ricos seriam privados dessa experiência”, perguntou, antes de avisar que os insetos não estavam infectados. A diferença é que, ao contrário da malária, assunto de pobre, a evolução da questão nuclear é acompanhada de perto por milhares de lobistas que, com certeza, apreciaram os desdobramentos da última semana.