“Em termos de biologia marinha, na área do pré-sal quase nada se conhece”. Foi assim que o professor Belmiro Castro, do Institulo Oceanográfico da USP, caracterizou as pesquisas sobre os ecossistemas presentes na região que deve ser explorada pela Petrobrás na Bacia de Santos.
Em seminário que reuniu, na última semana, professores da USP e profissionais da estatal, foram abordados temas como segurança, tutela marinha, meio ambiente e repercussões sociais da exploração do petróleo em alto-mar.
Segundo Castro, a oceanografia operacional, que no Golfo do México, por exemplo, faz um monitoramento seleto e aprofundado da área de extração de petróleo, não conta ainda no Brasil com uma rede de dados bem estabelecida e precisa, o que prejudica a obtenção de informações da região que pretende ser um dos maiores polos mundiais produtores do óleo.
O conhecimento das condições topográficas e ambientais da área só seria possível por meio de uma “rede maregráfica” que determinasse a aquisição contínua de dados e a assimilação dos mesmos em modelos matemáticos. “Só assim poderíamos manter certo nível de confiabilidade das previsões de tempo e clima e monitorar os ecossistemas que compartilham do espaço marinho a altas profundidades”, comenta o professor.
A exploração da camada do pré-sal exigirá do País tecnologias que consigam extrair petróleo a uma distância de 300 km da costa e 7.000 m de profundidade. Umas das maiores preocupações é com a ocorrência de grandes vazamentos, como o que assolou o Golfo do Mexico, no final do último mês. Para o professor Paulo Sumida, do Instituto Oceanográfico da USP, um evento dessa magnitude teria efeitos inconcebíveis para os ecossistemas marinhos e as comunidades humanas que dependem diretamente do mar como fonte de sustento.
“O impacto ambiental de um vazamento de grandes proporções é imensurável num ecossistema em que, estima-se, contamos com cerca de 10 milhões de espécies. Por isso, a busca de tecnologias mais aprimoradas, assim como a pesquisa e o monitoramento marinho, devem ser ininterruptos”, afirmou.
Segundo Wellington Belo, do Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES), a estatal iniciou, desde maio do ano passado – marco inicial da exploração do pré-sal –, um programa de pesquisas cujos primeiros resultados, a serem divulgados nos próximos meses, fornecerão dados sobre o comportamento da estrutura de produção depois de submetida a todas as cargas ambientais da área.
“O desconhecimento ambiental implica riscos para a exploração. Por isso estamos buscando utilizar as informações de maneira mais integrada entre a Meteorologia e a Oceanografia, além de incrementar nossos equipamentos, visando inclusive tecnologias fora do País, para explorar o petróleo da forma mais sustentável, com o menor prejuízo ambiental possível”, afirma o pesquisador.
A exploração na Bacia de Santos ofereceria desafios nunca antes enfrentados em outras partes do mundo. Segundo Belo, muita da experiência utilizada aqui provém de processos realizados no Golfo do México, onde os Estados Unidos já desenvolveram uma cadeia bastante aprimorada de produção. Porém, a principal diferença refere-se às condições meteorológicas: lá, a alta ocorrência de furacões determina um processo diferente de construção das plataformas; elas são projetadas com uma arquitetura que favoreça, em primeiro lugar, uma evacuação de emergência.
Para Sumida, outro grande risco ambiental na região da Bacia de Santos é a instalação dos dutos que levam o petróleo até costa e o trânsito de navios entre as plataformas e o continente. Um dos principais problemas decorrentes dessas operações poderia ser a destruição de uma grande cadeia de corais que habitariam essa região. Os resultados das poucas pesquisas já realizadas indicaram que a costa brasileira é marcadamente habitada por recifes de águas profundas, diversamente da maioria das regiões marítimas do planeta, onde essas espécies predominariam em ambientes mais próximos à superfície.
O ciclo de seminários sobre o pré-sal na USP ainda não terminou. Saiba mais aqui sobre os próximos eventos.