Fast-food e vegetarianismo são conceitos que sempre estiveram em extremos opostos no espectro da sustentabilidade. Aparentemente, não mais. A cadeia de restaurantes Otarian acaba de abrir sua terceira loja, em Londres (as duas primeiras estão em Nova York), avançando em sua missão de espalhar o vegetarianismo e a alimentação de baixo carbono – e rápida – pelo mundo. Autodenominada uma rede de restaurantes “fast-casual”, a Otarian almeja operar pelo menos 60 lojas.
Sem papas na língua, a dona da rede, Radhika Oswal, diz que a Otarian é “a cadeia de restaurantes mais sustentável do mundo”. O menu traz não apenas os preços de cada item – hamburgueres de cogumelo, wraps de legumes, sopas e curries, entre outros –, mas as emissões de carbono envolvidas no cultivo, colheita e processamento dos ingredientes, além do transporte, embalagem, venda e disposição dos resíduos. Um sanduíche Tex Mex, por exemplo, leva guacamole, salsa, queijo e alface, e representa 1,59 kg de CO2 equivalente, ou 0,69 kg a menos do que se incluísse carne, informa o menu. Os cálculos são feitos de acordo com os padrões do GHG Protocol para contabilidade do ciclo de vida de produtos.
A rede garante reciclar e compostar 98% dos resíduos, incluindo restos de comida e embalagens, que aparentemente são usadas em profusão. Elas também servem para propagar mensagens como: “se os americanos parassem de comer carne, poderíamos alimentar um bilhão de africanos com os grãos economizados”. Outras similares decoram as latas de lixo e emanam das TVs afixadas nas paredes, segundos resenhas que circulam pela internet. E, no final de cada transação, os atendentes entoam: “obrigado por salvar o mundo, uma refeição por vez”.
Não há dúvida de que nossas escolhas alimentares têm impactos ambientais, e recentemente o debate sobre “food-miles” (a distância que os ingredientes viajam) reviveu com um artigo crítico publicado no The New York Times e a reação da comunidade que defende a produção local de alimentos. Entretanto, a sensação que fica diante das descrições de quem já esteve no Otarian é de um vegetarianismo mais do que rápido. Mais ou menos assim: se comeu sua refeição vegetariana hoje, já fez sua parte. E claro que o objetivo é vender sempre mais refeições – cada uma vale créditos no “cartão Carbon Karma” e adiciona pontos em direção a um item de graça.
A rede diz adquirir seus ingredientes de acordo com um “princípio da proximidade”, ou seja, o mais próximo da cozinha possível, mas não especifica quanto nem indica quem são os fornecedores. Garante, porém, que não compra nada que precise ser transportado de avião. “Temos uma política de não usar transporte aéreo porque aviões em particular, e o transporte em geral, embora às vezes sejam excitantes (para as pessoas, não as plantas), emitem muitos gases de efeito estufa”, diz o website do Otarian. Mesmo sem avião na parada, fico imaginando a a reação dos vegetarianos de carteirinha e dos amantes da slow food ao vegetarianismo rápido do Otarian.