Há quase três meses, nossa blogueira Regina Scharf nos dava um panorama sobre a situação do lixo na cidade italiana de Nápoles, onde, há dois anos, milhares de moradores protestaram contra o descaso das autoridades na gestão do lixo local. O problema parecia contornado, mas, desde a última semana, a cidade tem revivido episódios da história de 2008.
Italianos da cidade de Terzigno, a 20 km da capital napolitana, foram às ruas para evitar a construção de mais um aterro sanitário na região. Segundo os moradores, não há mais condições de depositar lixo no município. O aterro antigo, além de saturado, não contaria com as mínimas condições de tratamento de resíduos, oferecendo graves riscos às pastagens e lavouras locais. A província de Nápoles tem uma das mais altas densidades demográficas da Itália e concentra alguns dos maiores lixões de toda a Europa.
Desde a semana passada, famílias inteiras estão organizando piquetes para impedir o tráfego dos caminhões e estendem faixas com estatísticas alarmantes, como as que destacam a cidade de Terzigno com uma incidência de tumores 80% mais alta que a média nacional. Lia-se em um dos cartezes: “Não ao lixo, não às mentiras, não à violência. Nós queremos viver”.
A população local tem entrado em combate com a polícia, em cenas que se assemelham a uma verdadeira guerra civil. Quem anda pela cidade encontra montanhas gigantes de lixo, que muitas vezes são queimadas nos protestos, o acaba por torná-los ainda mais perigosos e piorar a qualidade de um dos ares mais poluídos da Itália.
Em resposta, o premier italiano Silvio Berlusconi prometeu gastar 14 milhões de euros (R$ 23,8 milhões) para reformar o aterro existente em Terzigno e afirmou que o espaço não representa nenhuma ameaça para a saúde pública.
O comissário de meio ambiente da União Europeia, Janez Potocnik, revelou preocupação com a situação em Nápoles e disse que as medidas tomadas pelas autoridades desde a crise de 2008 foram insuficientes.
Berlusconi, até semanas atrás, apontava a “solução” da crise do lixo de 2008 como um dos principais feitos de sua atual administração. Foi eleito, inclusive, com a promessa de dar um ponto final ao problema. Mas a questão precisava mais do que de um esparadrapo político. Sem ironias, a sujeira começa a transbordar de novo e já vaza pelos ladrões.