Morcegos, como abelhas e anfíbios, têm sofrido uma redução dramática de suas populações nos últimos anos. O mamífero alado é caçado por transmitir a raiva e por sua fama injusta de vampiro – apenas três dentre mais de mil espécies se alimentam de sangue. No entanto, a maior ameaça atual à sobrevivência de inúmeras famílias de morcegos é uma doença micótica, a Síndrome do Nariz Branco. O mal não foi plenamente compreendido, mas há indicações de que ele promove uma degeneração das asas e da pele. Seu nome se deve à presença de fungos brancos, que se espalham pelo focinho e as asas dos animais em hibernação. A baixa temperatura favorece o ataque do Geomyces destructans e impede que o sistema imunológico do morcego se defenda. Fungo semelhante foi identificado na Europa, mas parece oferecer risco muito menor.
Estima-se que, desde 2006, mais de um milhão de animais teriam morrido em decorrência em 17 estados norte-americanos. Eles foram praticamente erradicados de muitas cavernas do país e há campanhas para que algumas espécies sejam listadas como apresentando grande risco de extinção. É o caso do pequeno morcego marrom, um insetívoro que se parece a um camundongo cor de chocolate, até recentemente um dos mamíferos nativos mais comuns dos Estados Unidos. A epidemia é tão grave que o US Fish &Wildlife Service, o serviço florestal dos EUA, está impondo uma interrupção temporária nas atividades espeleológicas onde a síndrome foi detectada. Aqui no estado de New Mexico, onde moro, 28 cavernas com grandes populações de morcegos foram fechadas, embora a doença ainda não tenha chegado no estado.
Os acadêmicos têm avaliado várias outras estratégias para tentar frear a expansão do fungo – mas nenhuma parece promissora. O uso de fungicidas poderia matar microorganismos que co-habitam as cavernas, causando transtornos ecológicos imponderáveis. Aquecer as cavernas também não parece ser uma opção pois isto impediria a hibernação dos morcegos e traria uma série de outros problemas.
Não se trata apenas de um problema ambiental. Estudo recém-publicado na revista Science estima que os morcegos prestam serviços à agricultura norte-americana avaliados em US$ 22,9 bilhões anuais – um número que poderia, em diferentes contextos, flutuar entre $3,7 e $53 bilhões por ano.
A pesquisa, focada no impacto econômico do comprometimento da população de morcegos da América do Norte, foi coordenada por Gary McCracken, chefe do Departmento de Ecologia e Biologia Evolutiva da University of Tennessee. Segundo o pesquisador, o principal serviço prestado pelos morcegos está associado à sua dieta. Eles se alimentam de enormes quantidades de insetos, reduzindo as perdas e o consumo de agrotóxicos. Um único grupo de 150 morcegos marrons do estado de Indiana come quase 1,3 milhão de insetos por ano. Dentre os principais favorecidos estão os produtores de milho e algodão. Morcegos também ajudam a combater doenças que atingem os humanos. Algumas espécies se alimentam, por exemplo, do mosquito transmissor da encefalite do Nilo, uma doença neurológica que também tem ocorrências registradas no norte da África e em Portugal.
O estudo também aponta outra ameaça: a energia do vento. Muitas espécies migratórias têm sofrido baixas por se chocarem contra as pás de turbinas eólicas. “Há estimativas de que, até 2020, as turbinas terão matado entre 33 mil e 11 mil animais a cada ano na regiões altas do Meio Atlântico [ou seja, os estados de Pennsylvania, New York, New Jersey e Connecticut]. Por que as espécies migratórias e que vivem em árvores são atraídas por essas turbinas ainda é um mistério”, dizem os pesquisadores.