O império Disney, que inclui parques temáticos, estúdios de cinema e televisão, uma linha de cruzeiros, comercialização de brinquedos e roupas, e uma marca de valor quase inestimável, tem prometido mundos e fundos no quesito sustentabilidade. Seu presidente, Bob Iger, já declarou que quer que a Disney seja “a empresa mais admirada do mundo”. A pressão vem tanto dos seus dois principais públicos – mães e crianças –, que têm demonstrado maior consciência ambiental, quanto de seus acionistas, que exigem a redução dos impactos do grupo.
O desafio é grande, já que a Disney é, quase que por definição, o paraíso da exuberância e dos excessos. Vejam o exemplo da Disney World, o parque temático inaugurado em 1971 em Orlando, no estado da Florida, nos EUA. Tudo ali é superlativo – inclusive do ponto de vista ambiental. A sua frota de ônibus é a terceira maior do estado. O monotrilho já rodou 30 vezes a distância da Terra à Lua. Cerca de 62 mil pessoas trabalham no resort, maior empregador dos Estados Unidos. Esse time produz 285 mil libras de roupa suja por dia. Fora as 30 mil peças de roupa enviadas diariamente para lavagem a seco. O parque também promove um consumo anual de 75 milhões de Coca-Colas, 13 milhões de garrafas de água mineral e 10 milhões de hamburgers.
Tal abundância tem o poder de atrair 120 milhões de visitantes para os 11 parques temáticos da Disney a cada ano. Essa exuberância também é parcialmente responsável pelos US$ 38 bilhões que a empresa faturou no ano passado. E aí cabe a pergunta: é possível manter esse espírito a um baixo custo ambiental. A resposta, a esta altura do campeonato, é um sonoro talvez.
Há dois anos, Iger lançou uma iniciativa com metas ambiciosas: zerar o volume de lixo enviado a aterros e as emissões diretas de carbono (num longo prazo não identificado). No curto prazo, até 2013, o grupo deverá reduzir os dois indicadores à metade tendo como ano de referência 2006. Para conseguir isso, ele está investindo em eficiência energética, na ampliação da participação das renováveis na sua matriz e no aumento da utilização de materiais reciclados pós-consumo.
As metas referentes aos resíduos sólidos vão bem. O volume enviado a aterros sanitários já caiu 44% graças à digitalização total dos filmes produzidos pelos estúdios Disney (o que dispensa o uso de filme e fitas) e à reciclagem de parte do lixo nos parques. Parte dele é reprocessada e transformada em sacolas plásticas e nos crachas que dão direito ao ingresso nas atrações. Também houve progressos na conservação da água (que ainda não tem metas específicas). A Disney World reaproveita 23 milhões de litros diariamente e a linha de cruzeiros melhorou suas lavanderias recentemente e conseguiu reduzir em 20% o volume de água consumida.
Mas a coisa se complica quando se trata de emissões atmosféricas. No relatório anual de cidadania empresarial, publicado em março, a Disney informa que já reduziu em 4,6% as emissões de carbono desde o ano de referência, 2006, mas que o último levantamento indicou um aumento de 0,5% entre 2009 e 2010. Para compensar, a empresa investiu nos últimos dois anos US$ 15,5 milhões em projetos de reflorestamento no Peru, na República Democrática do Congo, na China e nos Estados Unidos. Mesmo assim, fica difícil imaginar que a empresa conseguirá cumprir sua meta dentro de dois anos.
A vitória da Disney nessa batalha é essencial, dado o seu poder de fogo e de influência. Mas é difícil imaginar a compatibilização de dois conceitos tão díspares: de um lado o prazer dos excessos, do outro a sustentabilidade.
[1] http://fmlink.com/article.cgi?type=News&archive=false&title=Walt%20Disney%20Co.%20joins%20Ceres%20corporate%20sustainability%20network&mode=sourcecatid=4&display=article&id=41164