Los Alamos, berço da bomba atômica e maior arsenal nuclear do planeta, está em chamas. Os incêndios de verão que assolaram o vizinho Arizona, ao longo do último mês, alcançaram o estado de New Mexico, onde moro, no último domingo. Na segunda-feira, ao chegar do Brasil, encontrei a estrada que passa pela minha cidade, Santa Fe, congestionada por veículos vindos de Los Alamos. Carros, caminhões, ônibus municipais lotados com quem não tem outro meio de locomoção – todos fluiam lentamente para longe, lotados com tudo o que as famílias conseguiam carregar. Não foram poucos os que arrastaram carretas e barcos a reboque. A população foi primeiro convidada e depois intimada a evacuar a área. Cerca de 12 mil pessoas tiveram de procurar abrigo fora do alcance das chamas. Muitas delas foram alojadas num paraíso da jogatina, o Thunder Rock Casino [uma conhecida tem visitado o local com outras amigas solteiras, na esperança de encontrar físicos solitários que dariam maridos com boa renda].
Não é a primeira vez que Los Alamos passa por semelhante situação. Há cerca de uma década, o fogo destruiu uma centena de imóveis da cidade.
Desta vez, foram convocados mil bombeiros para conter o dano e evitar que o incêndio avance os três quilômetros que separam as montanhas Jemez, epicentro do fogo, dos 30 mil tambores com lixo nuclear armazenado no laboratório, como é conhecido o complexo nuclear. Foram instalados detectores de radiação em pontos estratégicos para monitorar possíveis vazamentos – que, segundo as autoridades, não têm como acontecer. A EPA, a agência ambiental norte-americana, enviou um avião para fazer o mesmo tipo de monitoramento nas alturas.
Os 2 mil edifícios que compõem o laboratório estão cercados e as notícias de quem acompanha o problema de perto não são otimistas. A extensão do estrago poderia dobrar ou triplicar, declarou na quarta-feira Douglas Tucker, chefe dos bombeiros do município. Ontem à noite os boletins oficiais eram mais otimistas, mas o fogo persiste e já atinge imóveis.
Estou a 56 quilômetros da tragédia – vemos a fumaça, sentimos o ar pesado e o calor de rachar. Os móveis e as vias respiratórias acumulam cinzas. E, claro, pensamos na possibilidade de fugir.
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