Quem já viajou pelos Estados Unidos sabe que a coisa mais fácil é botar o carro na estrada – há estradas que levam a todas as maiores cidades americanas, graças ao Sistema Interestadual de Rodovias iniciado pelo presidente Dwight D. Eisenhower in 1956. O que pouca gente sabe é que além das rodovias, há também um sistema interestadual de ciclovias, o US Bicycle Route System (USBRS), estabelecido em 1978. Em junho, foi aprovada a construção de seis novas rotas do USBRS, as primeiras em 30 anos. A esperança é que um dia o sistema de ciclovias seja tão extenso quanto o de rodovias, dando aos americanos a opção de viajar, mesmo que longas distâncias, de magrela.
Atualmente, o USBRS tem duas rotas: a 76 que atravessa os estados de Virginia, Kentucky e Illinois, e a 1 que passa pela Carolina do Norte e Virginia. As novas rotas foram aprovadas para os estados de Maine, New Hampshire, Michigan e Alaska. Outros 18 estados têm planos para desenvolver rotas e integrá-las ao sistema. Os ativistas acreditam que a hora é propícia para dar um salto no desenvolvimento das rotas e suas conexões – o ciclismo vive um boom nos EUA, a construção de ciclovias atingiu pico histórico e o setor de bicicletas movimenta mais de US$ 6 bilhões ao ano. Se o USBRS realmente ganhar impulso, o país deixará de ter um punhado de ciclovias para dispor de um sistema de transporte alternativo conectando áreas urbanas, rurais e subúrbios e possibilitando viagens interestaduais. Os benefícios não são só de quem está no selim: segundo um estudo da Universidade de Massachussets, cada US$ 1 milhão gasto em obras de infra-estrutura para ciclismo gera 11,4 empregos locais. O mesmo milhão empregado na construção de estrada para automóveis gera 7,8 empregos.
Apesar disso, há quem veja grande incômodo nas ciclovias. O jornalista econômico John Cassidy, por exemplo, causou polêmica em março ao publicar no blog da revista The New Yorker um post abraçando o ponto de vista dos motoristas sobre a expansão das ciclovias na cidade de Nova York. “De uma perspectiva econômica, questiono se cobrir a cidade com ciclovias – mais de 320 km nos últimos 3 anos – vai de encontro a um critério objetivo de custo-benefício”, escreveu Cassidy. “Além de um certo ponto, dado o limitado número de ciclistas na cidade, o benefício de mais ciclovias acaba em rendimentos decrescentes, e os custos para os motoristas (e pedestres) de implementar tal política aumenta. Atingimos esse ponto? Eu diria que sim”.
Uma das respostas ao post de Cassidy veio do lugar mais improvável: a revista The Economist. O articulista Ryan Avent respondeu ao post de Cassidy a partir de uma perspectiva econômica. “Claro, se os motoristas pagassem por todos os custos que impõem aos outros haveria menos motoristas reclamando sobre ciclovias e mais pessoas usando as ciclovias. Na atual situação, dado que os ciclistas ajudam a aliviar algumas externalidades (um ciclistas usa muito menos espaço do que um carro, não usa estacionamento na rua, não emite ozônio, e não contribui para as mudanças climáticas), parece bastante racional alocar uma porção maior das ruas de Nova York para ciclovias”. Vale a leitura.
A polêmica iniciada por Cassidy ficou conhecida como a “batalha das ciclovias” e continua atiçando ânimos. Enquanto as obras para o sistema interestadual de ciclovias decolam, é bom saber que um dos temas mais quentes do momento em Nova York é a bicicleta.