Qual é a melhor maneira de preservar a biodiversidade e os serviços florestais? Cercar a área e não permitir nenhuma atividade direta? Ou firmar uma parceria com comunidades locais para que possam explorar os recursos naturais e deles extrair o sustento?
Esse é o enigma mais antigo e polêmico do mundo da conservação. A reposta apaziguadora é que depende da “vocação” de cada área: se já existe algum uso tradicional, se o ecossistema é especialmente frágil etc. No Brasil, ambos os modelos fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Ainda assim, defensores e detratores costumam se interpelar nesta discussão que trata de qual papel deve ter a conservação nos propósitos do desenvolvimento.
Um estudo divulgado hoje pelo Center for International Forestry Research (Cifor) assumes ares definitivos. O trabalho compara estudos de caso em 16 países da América Latina, África e Ásia e dá o veredito: a conservação de base comunitária tem melhores resultados na redução do desmatamento.
Em média, as áreas de proteção integral perdem 1,47% da cobertura florestal por ano, enquanto naquelas em que é permitido o manejo e a comercialização de produtos e serviços, a perda não passa de 0,24%.
A notícia é alvissareira para quem acredita no duplo valor da conservação de florestas: de um lado, a manutenção da biodiversidade e dos serviços essenciais como formação das chuvas e estoque de carbono; de outro, a justiça social e a criação de oportunidades econômicas para população de baixa renda.
Combina também com algumas constatações brasileiras, segundo as quais onde tem gente tomando conta e vivendo daqueles recursos, a floresta é mais protegida. Por isso é que, historicamente, as terras indígenas têm melhor desempenho em evitar o desmatamento ilegal que outras unidades de conservação, onde a fiscalização é precária, o que abre caminho para os aproveitadores. (entenda os diferentes tipos de UC aqui)
“Não estamos argumentando que os parques (um tipo de unidade de proteção integral) em áreas de floresta tropical são inúteis. Estamos dizendo que florestas de manejo comunitário são um componente-chave do grande pacote da conservação florestal”, afirma o co-autor do estudo, Manuel Guariguata. É curioso constatar que, mesmo com toda a disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável, as áreas de manejo comunitário representam apenas 8% das florestas protegidas em todo o mundo.
Mas, como nada pode ser tão simples nesse mundo de novos paradigmas, o sucesso desses empreendimentos não é automático. No Brasil, temos exemplos claros disso. São muitas as reservas extrativistas (na sigla, Resex, unidade de uso sustentável inventada por Chico Mendes) que não conseguem sustentabilidade econômica e dependem do apoio de governos ou de ONGs.
Quando esse pezinho econômico do tripé da sustentabilidade não está firme, todos os demais benefícios ficam em risco. É por isso que, segundo Guariguata, os fatores que influenciam o desempenho ambiental do manejo comunitário, tais como as leis e os mercados, ainda precisam ser estudos mais a fundo.
Este texto foi publicado originalmente em Planeta Sustentável, onde a subeditora Carolina Derivi escreve o blog Ecobalaio