Nova York se tornou, dias atrás, o sétimo estado americano a instituir legalmente um novo tipo de corporação. Conhecida como benefit corporation, sua missão é não apenas criar valor aos acionistas, mas gerar benefícios à sociedade. Ao lado de um projeto recém-aprovado pela Câmara dos Deputados americana para permitir o crowdfunding de pequenas empresas, o avanço das benefit corporations pode ser mais uma indicação de que, como quer o movimento Occupy Wall Street, há mudanças em gestação no templo do capitalismo mundial.
A ideia da benefit corporation, ou B-Corp, é usar as empresas como ferramenta para a mudança social. Para isso, ela tem como missão criar impacto material positivo na sociedade e no meio ambiente, como dever fiduciário requerer a consideração de elementos não financeiros na tomada de decisões, e como obrigação ser transparente e reportar sobre sua performance usando padrões de terceiros reconhecidos. Dentro de 120 dias a partir do fim de cada ano fiscal, as B-corps precisam publicar “relatório de benefícios” nas áreas social e ambiental.
A aposta é que, com as B-corp, fique mais fácil para consumidores e a sociedade em geral diferenciar entre as boas empresas e aquelas que apenas tem um bom marketing sobre questões sociais e ambientais. De acordo com o B Lab, entidade sem fins lucrativos que trabalha para criar e certificar uma comunidade de B-corps, 488 empresas já se tornaram B-corps nos Estados Unidos. Os estados Maryland, Califórnia, Vermont, Nova Jersey, Virginia e Havaí também aprovaram legislação instituindo as B-corps. Em Michigan, Pensilvânia e Carolina do Norte, há projetos em tramitação.
Menos poder e o fim da personificação das corporações são algumas das demandas do movimento Occupy Wall Street, que no sábado dia 17 de dezembro conclama os cidadãos para celebrar 3 meses da ocupação original com uma ocupação ao meio dia em Nova York. Em 17 de janeiro, o movimento vai ocupar o Congresso americano para mandar um recado aos congressistas de que é hora de “fazer algo pelo povo”.
Surpreendentemente, os deputados federais cruzaram as barreiras partidárias em novembro e aprovaram o “Entrepreneur Access to Capital Act”, um projeto que facilita que pequenas empresas levantem capital por meio de crowdfunding. O projeto, que ainda precisa passar pelo Senado, permite que qualquer cidadão invista até 10 mil dólares em pequenas empresas não registradas na Securities and Exchange Commission (SEC), a agência reguladora do mercado de capitais. Atualmente, apenas “investidores credenciados” podem comprar participações em firmas.
O crowdfunding, ou financiamento coletivo, foi popularizado em sites como Kickstarter, que usam um modelo de doação para financiar projetos artísticos e criativos ou campanhas sem fins lucrativos. O projeto aprovado na Câmara americana tem recebido críticas por desregular o financiamento de pequenas empresas e aumentar o risco para pequenos investidores, mas seus apoiadores garantem que trata-se de um movimento de democratização dos investimentos que vai gerar negócios e empregos locais. E permitir que consumidores apóiem com capital as empresas que geram benefícios para sua comunidade.