Na capital mundial do petróleo, a água está confirmando sua vocação de recurso não-renovável.
A Nasa, a agência espacial norte-americana, divulgou dias atrás as fotos acima, obtidas por três satélites. Elas ilustram a expansão da agricultura em uma área desértica do norte da Arábia Saudita nos últimos 25 anos. É possível ver plantações verdejantes e campos secos, estes em laranja. Também dá para ver uma cidade em roxo, bem no alto das imagens. Não conseguiu visualizar? A Nasa oferece uma versão ampliada dessas fotos. A região fotografada, que recebe uns poucos centímetros de chuva por ano, passou a produzir trigo e outros alimentos num dos países mais secos do mundo. Um país seco, mas sedento, com um consumo de água per capita 33% superior à média mundial, que é de 1385 metros cúbicos por ano per capita, segundo a ONG Water Footprint. Para dar conta de tal demanda insustentável, cerca de 66% da água consumida hoje pelos sauditas vem de outros países.
No ano passado, Mohammed Al-Saud, ministro adjunto para Assuntos de Água e Eletricidade, declarou que as importações de alimentos terão de aumentar para poupar os freáticos sauditas, cada vez mais exauridos. O uso da água pela agricultura já estaria comprometendo, inclusive, o abastecimento das cidades. Não ajuda o fato de que apenas 6% da água consumida – 300 mil metros cúbicos diários – seja reciclada. Ou que 20% da água disponível se perde no sistema de distribuição.
Num contexto complicado como esse, como explicar a expansão agrícola divulgada pela Nasa? Não se trata de milagre. Segundo a agência espacial, os agricultores perfuraram poços que levaram a um enorme aquífero formado na última Era Glacial. Essa água fóssil é bombeada para um sistema de irrigação por pivô central. Como não há reposição desse estoque, pela quase inexistência de chuvas, a abundância deverá durar apenas algumas décadas. Hidrologistas mencionados pela Nasa teriam estimado em 50 anos o período máximo de exploração desse estoque antes que a extração se torne inviável economicamente.
O caso saudita é um exemplo dramático de duas coisas: de como a capacidade de renovação dos estoques de água nem sempre se concretiza; e de como a vida em grandes porções do planeta só é possível graças à injeção de petrodólares, outro recurso não renovável e fadado a desaparecer num futuro não muito distante.[:en]
Na capital mundial do petróleo, a água está confirmando sua vocação de recurso não-renovável.
A Nasa, a agência espacial norte-americana, divulgou dias atrás as fotos acima, obtidas por três satélites. Elas ilustram a expansão da agricultura em uma área desértica do norte da Arábia Saudita nos últimos 25 anos. É possível ver plantações verdejantes e campos secos, estes em laranja. Também dá para ver uma cidade em roxo, bem no alto das imagens. Não conseguiu visualizar? A Nasa oferece uma versão ampliada dessas fotos. A região fotografada, que recebe uns poucos centímetros de chuva por ano, passou a produzir trigo e outros alimentos num dos países mais secos do mundo. Um país seco, mas sedento, com um consumo de água per capita 33% superior à média mundial, que é de 1385 metros cúbicos por ano per capita, segundo a ONG Water Footprint. Para dar conta de tal demanda insustentável, cerca de 66% da água consumida hoje pelos sauditas vem de outros países.
No ano passado, Mohammed Al-Saud, ministro adjunto para Assuntos de Água e Eletricidade, declarou que as importações de alimentos terão de aumentar para poupar os freáticos sauditas, cada vez mais exauridos. O uso da água pela agricultura já estaria comprometendo, inclusive, o abastecimento das cidades. Não ajuda o fato de que apenas 6% da água consumida – 300 mil metros cúbicos diários – seja reciclada. Ou que 20% da água disponível se perde no sistema de distribuição.
Num contexto complicado como esse, como explicar a expansão agrícola divulgada pela Nasa? Não se trata de milagre. Segundo a agência espacial, os agricultores perfuraram poços que levaram a um enorme aquífero formado na última Era Glacial. Essa água fóssil é bombeada para um sistema de irrigação por pivô central. Como não há reposição desse estoque, pela quase inexistência de chuvas, a abundância deverá durar apenas algumas décadas. Hidrologistas mencionados pela Nasa teriam estimado em 50 anos o período máximo de exploração desse estoque antes que a extração se torne inviável economicamente.
O caso saudita é um exemplo dramático de duas coisas: de como a capacidade de renovação dos estoques de água nem sempre se concretiza; e de como a vida em grandes porções do planeta só é possível graças à injeção de petrodólares, outro recurso não renovável e fadado a desaparecer num futuro não muito distante.