Quando chamou uma greve geral para 1o de maio passado, o movimento Occupy Wall Street deparou-se com um problema. Em geral, quem organiza greves são os sindicatos, organizações que defendem os direitos dos trabalhadores. Os sindicatos – que hoje representam apenas 12% dos trabalhadores americanos – em grande parte se opuseram às manifestações do 1o de maio e, mesmo que não o tivessem feito, teriam tido pouco efeito. A maioria dos que participaram dos eventos em várias cidades dos EUA era gente que perdeu o emprego, que trabalha meio período ou independentemente. Esse contingente de freelancers forma um terço da força de trabalho nos EUA e tende a crescer.
São trabalhadores independentes, consultores, empregados temporários – desde tipos criativos que prestam serviço a grandes empresas até baristas, babás e passeadores de cachorro. Basicamente, gente que cria o próprio trabalho e para quem benefícios como férias pagas, fundo de pensão e seguro saúde saíram de cena e provavelmente não vão voltar tão cedo. Alguns optaram por trabalhar independentemente para ter mais flexibilidade e poder fazer o que gostam, mas a grande maioria simplesmente não tem opção.
É o precariat, nas palavras do acadêmico britânico Guy Standing. Segundo ele, a nova classe trabalhadora é caracterizada pela ausência de várias formas de segurança relacionadas ao trabalho comuns sob o capitalismo industrial. Entre elas, segurança quanto a oportunidades de trabalho e de incrementar suas habilidades para obter trabalho, ao próprio trabalho quando ele ocorre e ao fluxo de renda. Além, claro, da impossibilidade de ter uma voz coletiva no mercado de trabalho por meio, por exemplo, de sindicatos.
Nos EUA, entretanto, uma organização que defende os direitos da nova classe trabalhadora floresceu nos últimos anos. O Sindicato dos Freelancers é sediado em Nova York, estado em que conta com 110 mil membros, mas também serve a trabalhadores de outros estados americanos. No total, conta com cerca de 175 mil membros – cerca da metade tem menos de 40 anos. É dono e opera uma companhia de seguros com fins lucrativos – registrada como uma B Corporation – e oferece planos de aposentadoria para trabalhadores independentes. O sindicato organiza eventos, levanta fundos para políticos que defendem os direitos dos freelancers e faz lobby para aprovar legislação na esfera estadual.
A mais recente empreitada do sindicato foi angariar apoio no legislativo de Nova York para o Freelance Payment Protection Act, um projeto de lei que institui procedimentos para ajudar os trabalhadores freelancers a receber de clientes que não pagam. O projeto foi aprovado no ano passado pela Câmara dos Deputados e agora está em análise pelo Senado novaiorquino. A campanha para obter apoio para o projeto chama os trabalhadores a adicionar suas contas não pagas à “maior fatura do mundo”.
O Sindicato dos Freelancers não opera formalmente como um sindicato – não tem poder para negociar coletivamente ou chamar greves –, mas como uma entidade não governamental. E aí talvez more o paradoxo – enquanto uma organização como a de Nova York é cada vez mais necessária para oferecer rede de apoio a parcela crescente da população, sua existência diminui a pressão sobre os governos e o restante da sociedade para reformar as instituições sociais e dar conta de uma mudança tão dramática na força de trabalho.