A revista Forbes acaba de divulgar a sua lista anual das 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos – e desta vez a publicação focou pesado nos investimentos sociais desses cidadãos.
É uma chuva de números atordoante. A começar pelo famoso Giving Pledge, uma iniciativa lançada pelos dois homens mais ricos dos EUA, Bill Gates e Warren Buffet, que fazem campanha para que os bilionários doem pelo menos a metade de suas fortunas ao longo de suas vidas ou no seu testamento. Desde o seu lançamento, em junho de 2010, 92 pessoas ou famílias aderiram. Você pode ler aqui as cartas em que elas explicam porque toparam a empreitada. O caso mais notório é o do próprio Buffet, que doou US$ 31 bilhões em ações à fundação criada por Gates. Ele também deu alguns bilhões para as fundações criadas por seus próprios filhos. Na sua declaração de princípios, Buffet reconhece que deu muita sorte em nascer branco, homem e americano, e que é sua obrigação compartilhar os ganhos derivados de tais vantagens competitivas.
O compromisso é discutido por seus idealizadores num debate interessante para quem trabalha nesse circuito, e que pode ser visto no site da revista. Num dado momento, Gates e Buffet explicam que é muito mais fácil tirar dinheiro dos novos bilionários, gente que enriqueceu por esforço próprio, do que os filhos deles. Gates, num excesso diplomático, racionaliza, dizendo que estes “se sentem na obrigação de manter a fortuna que receberam”.
Vejamos, pois, quem são os maiores doadores e beneficiários no terreno da conservação e promoção da sustentabilidade:
- Citando a Giving USA, que mapeia dados da filantropia no país, no ano passado os americanos doaram U$ 8 bilhões para projetos ambientais ou entidades ligadas aos direitos dos animais. Parece muito, mas é apenas 3% do total de doações filantrópicas;
- Estas são as não-governamentais com foco ambiental que mais recebem doações privadas de americanos (dados de 2010): Nature Conservancy (US$ 527 milhões), WWF (US$ 124,5 milhões), Ducks Unlimited, que promove a proteção de áreas úmidas e as aves que ali vivem (US$ 98,6 milhões);
- Os maiores doadores para as causas ambientais são Gordon Moore, fundador da Intel (mais de US$ 1 bilhão para projetos voltados para a biodiversidade amazônica e a conservação marinha); Thomas Friedkin, dono de uma rede de distribuidoras da Toyota (US$ 100 milhões para criar 2.5 milhões de hectares de áreas de conservação na Tanzânia); Thomas Steyer, dono de uma série de fundos de investimentos (US$ 82 milhões, sobretudo para a pesquisa de energias alternativas em universidades) e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg (US $50 milhões anuais, por quatro anos, para o Sierra Club).
A filantropia promovida por bilionários não é sem controvérsia. Primeiro porque há pouco controle público sobre a forma como as fundações tomam decisões – será que as causas escolhidas e a alocação de fundos é a mais sábia? Segundo porque, quando elas estabelecem parcerias com organizações de países e comunidades pobres, detêm uma parcela desproporcional de poder, que tende a impor decisões de cima para baixo, tomadas por quem não pertence aos grupos imediatamente interessados.
Todas essas críticas são pertinentes – mas essa dinheirama é de fazer salivar quem vem de um país como o nosso, onde as elites doam pouco e raríssimas famílias criam fundações. Por isso, que tal lançar um movimento similar ao Giving Pledge no Brasil?[:en]
A revista Forbes acaba de divulgar a sua lista anual das 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos – e desta vez a publicação focou pesado nos investimentos sociais desses cidadãos.
É uma chuva de números atordoante. A começar pelo famoso Giving Pledge, uma iniciativa lançada pelos dois homens mais ricos dos EUA, Bill Gates e Warren Buffet, que fazem campanha para que os bilionários doem pelo menos a metade de suas fortunas ao longo de suas vidas ou no seu testamento. Desde o seu lançamento, em junho de 2010, 92 pessoas ou famílias aderiram. Você pode ler aqui as cartas em que elas explicam porque toparam a empreitada. O caso mais notório é o do próprio Buffet, que doou US$ 31 bilhões em ações à fundação criada por Gates. Ele também deu alguns bilhões para as fundações criadas por seus próprios filhos. Na sua declaração de princípios, Buffet reconhece que deu muita sorte em nascer branco, homem e americano, e que é sua obrigação compartilhar os ganhos derivados de tais vantagens competitivas.
O compromisso é discutido por seus idealizadores num debate interessante para quem trabalha nesse circuito, e que pode ser visto no site da revista. Num dado momento, Gates e Buffet explicam que é muito mais fácil tirar dinheiro dos novos bilionários, gente que enriqueceu por esforço próprio, do que os filhos deles. Gates, num excesso diplomático, racionaliza, dizendo que estes “se sentem na obrigação de manter a fortuna que receberam”.
Vejamos, pois, quem são os maiores doadores e beneficiários no terreno da conservação e promoção da sustentabilidade:
- Citando a Giving USA, que mapeia dados da filantropia no país, no ano passado os americanos doaram U$ 8 bilhões para projetos ambientais ou entidades ligadas aos direitos dos animais. Parece muito, mas é apenas 3% do total de doações filantrópicas;
- Estas são as não-governamentais com foco ambiental que mais recebem doações privadas de americanos (dados de 2010): Nature Conservancy (US$ 527 milhões), WWF (US$ 124,5 milhões), Ducks Unlimited, que promove a proteção de áreas úmidas e as aves que ali vivem (US$ 98,6 milhões);
- Os maiores doadores para as causas ambientais são Gordon Moore, fundador da Intel (mais de US$ 1 bilhão para projetos voltados para a biodiversidade amazônica e a conservação marinha); Thomas Friedkin, dono de uma rede de distribuidoras da Toyota (US$ 100 milhões para criar 2.5 milhões de hectares de áreas de conservação na Tanzânia); Thomas Steyer, dono de uma série de fundos de investimentos (US$ 82 milhões, sobretudo para a pesquisa de energias alternativas em universidades) e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg (US $50 milhões anuais, por quatro anos, para o Sierra Club).
A filantropia promovida por bilionários não é sem controvérsia. Primeiro porque há pouco controle público sobre a forma como as fundações tomam decisões – será que as causas escolhidas e a alocação de fundos é a mais sábia? Segundo porque, quando elas estabelecem parcerias com organizações de países e comunidades pobres, detêm uma parcela desproporcional de poder, que tende a impor decisões de cima para baixo, tomadas por quem não pertence aos grupos imediatamente interessados.
Todas essas críticas são pertinentes – mas essa dinheirama é de fazer salivar quem vem de um país como o nosso, onde as elites doam pouco e raríssimas famílias criam fundações. Por isso, que tal lançar um movimento similar ao Giving Pledge no Brasil?