Hoje, 23 de novembro, é dia de não comprar nada. A data é observada por ativistas em dezenas de países, em particular no Estados Unidos, onde o dia seguinte ao de Ação de Graças marca o início da estação de compras de fim-de-ano. Na chamada Black Friday, as grandes redes de varejo abrem de madrugada e oferecem descontos tão irresistíveis que para alguns vale até pisotear o próximo para chegar primeiro, como aconteceu em 2008 em Long Island.
Resistir à noção de que precisamos consumir é a ideia por trás do Dia Sem Compras. Desde o início dos anos 90 o protesto é encabeçado pela revista canadense Adbusters. Esse ano a Adbusters encampou também o Natal Sem Compras, uma campanha iniciada por menonitas canadenses para livrar o Natal do estigma comercial. “Por gerações, o Natal tem sido sequestrado por forças comerciais… esse ano, vamos resgatá-lo”, diz o website da revista.
Enquanto o Dia Sem Compras é popular entre ativistas, ambientalistas e cidadãos preocupados com o consumismo, a data é vista com alarme por muitos, inclusive lojistas e economistas.
Em artigo no The Guardian, o pesquisador da New Economics Foundation, Andrew Simms, comenta a eficácia do Dia Sem Compras. “Historicamente, apelar com sucesso para a abstinência – persuadir adolescentes a não fazer sexo, por exemplo – tende a falhar se não houver uma alternativa igualmente atrativa a disposição”, escreveu. “Em segundo lugar, uma das poucas coisas que a maioria dos economistas concorda é que falta demanda (gasto) na economia”. Simms advoga um novo tipo de materialismo, baseado em uma economia melhor, e não maior, e no “mantra” de consertar, reduzir, reutilizar e reciclar.
De fato, observado como apenas um dia no contexto de uma economia viciada em crescimento, o Dia Sem Compras acaba vulnerável a críticas. A AdBusters diz que ainda assim ele é válido, pois instiga uma transformação que faz com que as pessoas “de repente se lembrem o que é realmente viver”.
A Holstee, fabricante de camisetas e carteiras a partir de material reciclado, tenta oferecer uma alternativa aos consumidores na chamada sexta-feira negra. Nesse dia, a empresa simplesmente fecha para negócios e, esse ano, lançou a iniciativa Block Friday, que sugere que os cidadãos, em vez de consumir, reservem o dia para fazer algo que gostam. “Vamos retomar a Sexta-Feira Negra para ser conscientes da forma com que gastamos nosso tempo e dinheiro”, encoraja a empresa.
Funcionários da Walmart dizem que vão reservar a sexta-feira negra para fazer greve e protestar contra condições de trabalho, salários baixos, e contra a decisão da empresa de abrir as portas às 20 horas do Dia de Ação de Graças, invadindo o feriado mais tradicional dos EUA.
Sem a pressão de dar presentes no Natal, não é preciso passar dias nas lojas correndo atrás de barganhas e sobra tempo para refletir sobre como a economia pode viver sem tanta demanda – propostas para buscar a prosperidade sem crescimento não faltam.