2013 marca o centésimo aniversário de subsídios que beneficiaram continuamente a indústria do petróleo nos Estados Unidos. Em 1913, o país buscava formas de incentivar um setor que gastava fortunas com a extração e o refino e que ainda não contavam com o mercado que se desenvolveu nas décadas seguintes. Mas, passado um século, petróleo e gás natural dominam a matriz energética global. O barril de petróleo está cotado a robustos US$ 100 – vender ouro negro é um negócio da China. Não há razão para subsidiar.
Segundo o último World Energy Outlook, balanço anual publicado da Agência Internacional de Energia, foram dados US$ 523 bilhões em subsídios ao consumo de combustíveis fósseis em 2011, quase 30% mais do que no ano anterior e seis vezes mais do que os subsídios ao consumo de renováveis, inclusive solar, eólica, geotérmica e hidrelétrica. Isso barateia o preço do petróleo na bomba, expandindo o consumo a níveis que não são realistas. Outros US$ 100 bilhões subsidiam o processo produtivo.
“Por meio desses subsídios, os governos cortam os preços que os indivíduos pagam pela energia fóssil em quase um quarto – encorajando o despedício e obstruindo os esforços de estabilizar o clima”, ponderou esta semana, Lester Brown, decano fundador do Worldwatch Institute e do Earth Policy Instititute, duas respeitadas instituições que compilam dados globais em temas ligados à sustentabilidade, em artigo publicado no website Treehugger.
É fato que, nos últimos quatro anos, a luta contra os subsídios às energias fósseis contabilizou algumas vitórias. As maiores economias, reunidas no G20, comprometeram-se “eliminar e racionalizar no médio prazo subsídios ineficientes a combustíveis fósseis”. A Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) aprovou moção semelhante. Entretanto, entre as promessas e os esforços reais, há um abismo.
Esta semana, um outro artigo, publicado na revista mensal bem pensante The Atlantic, pergunta por que raios os Estados Unidos, que precisam desesperadamente enxugar o orçamento, não acabam com esses subsídios. O articulista, Jordan Weissmann lembra que as indústrias do setor petroleiro têm exibido lucros fartos e podem dispensar a caridade (as operações da Exxon nos EUA renderam US$ 7,5 bilhões após impostos em 2012; a Occidental Petroleum, uma companhia independente, teve faturamento apenas ligeiramente inferior no mesmo período).
O problema é que, historicamente, os lobistas do petróleo sempre ganharam a queda-de-braço travada com quem se posicionava contra os subsídios. Até aqui, o presidente Barack Obama pouco conseguiu. No entanto, esta semana, ele contra-atacou com uma proposta um tanto irônica: defendeu a concessão de US$2 bilhões, distribuidos ao longo de dez anos, para a pesquisa de combustíveis automotivos alternativos ao petróleo (electricidade, biocombustíveis, células de combustível, mas também gás natural produzido localmente). Os recursos deverão vir dos royalties que já são pagos por indústrias do setor petrolífero que fazem exploração offshore. A oposição republicana, como era de se esperar, torceu o nariz.
É uma decisão que tem seus problemas: fomenta o uso de combustíveis alternativos que são um tanto imperfeitos. O gás natural também é um combustível fóssil, promotor do aquecimento global, e os biocombustíveis exigem a expansão de monoculturas que substituem as lavouras com fins alimentícios. Mas não deixa de ser divertido ver Obama, que não consegue eliminar os subsídios ao petróleo, obrigar a indústria petrolífera a financiar combustíveis que lhe farão concorrência.
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2013 marca o centésimo aniversário de subsídios que beneficiaram continuamente a indústria do petróleo nos Estados Unidos. Em 1913, o país buscava formas de incentivar um setor que gastava fortunas com a extração e o refino e que ainda não contavam com o mercado que se desenvolveu nas décadas seguintes. Mas, passado um século, petróleo e gás natural dominam a matriz energética global. O barril de petróleo está cotado a robustos US$ 100 – vender ouro negro é um negócio da China. Não há razão para subsidiar.
Segundo o último World Energy Outlook, balanço anual publicado da Agência Internacional de Energia, foram dados US$ 523 bilhões em subsídios ao consumo de combustíveis fósseis em 2011, quase 30% mais do que no ano anterior e seis vezes mais do que os subsídios ao consumo de renováveis, inclusive solar, eólica, geotérmica e hidrelétrica. Isso barateia o preço do petróleo na bomba, expandindo o consumo a níveis que não são realistas. Outros US$ 100 bilhões subsidiam o processo produtivo.
“Por meio desses subsídios, os governos cortam os preços que os indivíduos pagam pela energia fóssil em quase um quarto – encorajando o despedício e obstruindo os esforços de estabilizar o clima”, ponderou esta semana, Lester Brown, decano fundador do Worldwatch Institute e do Earth Policy Instititute, duas respeitadas instituições que compilam dados globais em temas ligados à sustentabilidade, em artigo publicado no website Treehugger.
É fato que, nos últimos quatro anos, a luta contra os subsídios às energias fósseis contabilizou algumas vitórias. As maiores economias, reunidas no G20, comprometeram-se “eliminar e racionalizar no médio prazo subsídios ineficientes a combustíveis fósseis”. A Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) aprovou moção semelhante. Entretanto, entre as promessas e os esforços reais, há um abismo.
Esta semana, um outro artigo, publicado na revista mensal bem pensante The Atlantic, pergunta por que raios os Estados Unidos, que precisam desesperadamente enxugar o orçamento, não acabam com esses subsídios. O articulista, Jordan Weissmann lembra que as indústrias do setor petroleiro têm exibido lucros fartos e podem dispensar a caridade (as operações da Exxon nos EUA renderam US$ 7,5 bilhões após impostos em 2012; a Occidental Petroleum, uma companhia independente, teve faturamento apenas ligeiramente inferior no mesmo período).
O problema é que, historicamente, os lobistas do petróleo sempre ganharam a queda-de-braço travada com quem se posicionava contra os subsídios. Até aqui, o presidente Barack Obama pouco conseguiu. No entanto, esta semana, ele contra-atacou com uma proposta um tanto irônica: defendeu a concessão de US$2 bilhões, distribuidos ao longo de dez anos, para a pesquisa de combustíveis automotivos alternativos ao petróleo (electricidade, biocombustíveis, células de combustível, mas também gás natural produzido localmente). Os recursos deverão vir dos royalties que já são pagos por indústrias do setor petrolífero que fazem exploração offshore. A oposição republicana, como era de se esperar, torceu o nariz.
É uma decisão que tem seus problemas: fomenta o uso de combustíveis alternativos que são um tanto imperfeitos. O gás natural também é um combustível fóssil, promotor do aquecimento global, e os biocombustíveis exigem a expansão de monoculturas que substituem as lavouras com fins alimentícios. Mas não deixa de ser divertido ver Obama, que não consegue eliminar os subsídios ao petróleo, obrigar a indústria petrolífera a financiar combustíveis que lhe farão concorrência.