A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) lançou ontem uma campanha para estimular o consumo e a criação industrial de insetos com fins alimentares, dado seu alto teor nutricional, onipresença e baixo custo. Cerca de 1.900 insetos já integram a dieta tradicional de um terço da população mundial. Pense na farofa de içá, feita com o abdômen da formiga tanajura, prato caipira típico do interior de São Paulo. Ou nos besouros vendidos vivos, voando dentro de sacos de plástico, em mercados mexicanos. Deu água na boca? Um terço da população mundial responderia que sim. Gabril Tchango, ministro de Florestas do Gabão, lembrou durante o evento, na sede da FAO, em Roma, que os insetos são responsáveis por 10% da proteína animal consumida naquele país da costa oeste da África.
Estudo recém-concluído pela FAO, em parceria com a Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, um dos maiores centros de pesquisa do assunto, indica que os insetos mais requisitados para fins alimentares são os besouros (31%), seguidos por lagartas (18%), abelhas, vespas e formigas (14%) e gafanhotos ou grilos (13%). Uma versão em inglês do documento, “Edible insects, Future prospects for food and feed security“, que mapeia o grande potencial de mercado da entomofagia, pode ser baixada no site da organização.
As possibilidades são, de fato, quase ilimitadas. Segundo a FAO, os insetos representam mais da metade do milhão de espécies já descritas no planeta. Um das poucas classes de animais que podem se beneficiar num cenário de aquecimento global, eles se reproduzem rapidamente, são ricos em proteínas, gordura e minerais e podem ser consumidos inteiros ou convertidos em complemento alimentar em pó. As várias espécies de grilos têm entre 8 e 20 miligramas de ferro por 100 gramas de peso seco, mais do que os 6 miligramas encontrados num peso equivalente de carne bovina. E criar insetos é bem mais barato. A produção de um quilo de besouros ou gafanhotos demanda dois quilos de restos de alimentos e outros resíduos orgânicos, enquanto o quilo de carne bovina requer 8 kg de ração. Eles também consomem menos água e produzem um volume menor de gases-estufa que a pecuária tradicional. Como têm sangue frio, eles não precisam do alimento para manter estável a temperatura do corpo.
Mas as barreiras à adoção de um cardápio à base de almôndegas de gafanhoto e confeitos de ovas de mosca não são meramente culturais. A Europa, por exemplo, proibe a comercialização de produtos alimentares à base de insetos. O diário francês Libération contou recentemente como um visitante de Burkina Faso teve apreendidos 94 quilos de cochonilha – segundo ele para consumo pessoal – ao chegar ao aeroporto em Londres. Essas dificuldades são discutidas por Arnold van Huis, uma das maiores autoridades no assunto e um dos autores do estudo publicado pela FAO, numa conferência TED, que você pode ver no vídeo ao lado, em inglês.
O que você acha dessa iniciativa? É uma boa estratégia para valorizar uma fonte de nutrientes negligenciada, que pode inclusive valorizar a manutenção de florestas? Ou seria uma medida desesperada de uma organização que não faz a menor ideia de como alimentar um planeta cada vez mais populoso?[:en]
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) lançou ontem uma campanha para estimular o consumo e a criação industrial de insetos com fins alimentares, dado seu alto teor nutricional, onipresença e baixo custo. Cerca de 1.900 insetos já integram a dieta tradicional de um terço da população mundial. Pense na farofa de içá, feita com o abdômen da formiga tanajura, prato caipira típico do interior de São Paulo. Ou nos besouros vendidos vivos, voando dentro de sacos de plástico, em mercados mexicanos. Deu água na boca? Um terço da população mundial responderia que sim. Gabril Tchango, ministro de Florestas do Gabão, lembrou durante o evento, na sede da FAO, em Roma, que os insetos são responsáveis por 10% da proteína animal consumida naquele país da costa oeste da África.
Estudo recém-concluído pela FAO, em parceria com a Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, um dos maiores centros de pesquisa do assunto, indica que os insetos mais requisitados para fins alimentares são os besouros (31%), seguidos por lagartas (18%), abelhas, vespas e formigas (14%) e gafanhotos ou grilos (13%). Uma versão em inglês do documento, “Edible insects, Future prospects for food and feed security“, que mapeia o grande potencial de mercado da entomofagia, pode ser baixada no site da organização.
As possibilidades são, de fato, quase ilimitadas. Segundo a FAO, os insetos representam mais da metade do milhão de espécies já descritas no planeta. Um das poucas classes de animais que podem se beneficiar num cenário de aquecimento global, eles se reproduzem rapidamente, são ricos em proteínas, gordura e minerais e podem ser consumidos inteiros ou convertidos em complemento alimentar em pó. As várias espécies de grilos têm entre 8 e 20 miligramas de ferro por 100 gramas de peso seco, mais do que os 6 miligramas encontrados num peso equivalente de carne bovina. E criar insetos é bem mais barato. A produção de um quilo de besouros ou gafanhotos demanda dois quilos de restos de alimentos e outros resíduos orgânicos, enquanto o quilo de carne bovina requer 8 kg de ração. Eles também consomem menos água e produzem um volume menor de gases-estufa que a pecuária tradicional. Como têm sangue frio, eles não precisam do alimento para manter estável a temperatura do corpo.
Mas as barreiras à adoção de um cardápio à base de almôndegas de gafanhoto e confeitos de ovas de mosca não são meramente culturais. A Europa, por exemplo, proibe a comercialização de produtos alimentares à base de insetos. O diário francês Libération contou recentemente como um visitante de Burkina Faso teve apreendidos 94 quilos de cochonilha – segundo ele para consumo pessoal – ao chegar ao aeroporto em Londres. Essas dificuldades são discutidas por Arnold van Huis, uma das maiores autoridades no assunto e um dos autores do estudo publicado pela FAO, numa conferência TED, que você pode ver no vídeo ao lado, em inglês.
O que você acha dessa iniciativa? É uma boa estratégia para valorizar uma fonte de nutrientes negligenciada, que pode inclusive valorizar a manutenção de florestas? Ou seria uma medida desesperada de uma organização que não faz a menor ideia de como alimentar um planeta cada vez mais populoso?