Acabou o suspense. Nos últimos cinco meses, o presidente americano vinha dando dicas de que se preparava para lançar um grande plano de ação contra o aquecimento global, tópico que havia apenas tangenciado no seu primeiro mandato. Hoje, em discurso a estudantes da Georgetown University, ele revelou uma série de medidas passíveis de implantação sem aprovação do Congresso (e, portanto, relativamente imunes às barreiras impostas pela oposição republicana). Em última instância, a iniciativa visa honrar o compromisso de reduzir em 17% as emissões nacionais de carbono, tomando como base o ano de 2005, até o fim desta década. E, claro, tirar os Estados Unidos de uma posição vexatória: a de lanterna do debate climático global.
A reação ao pacote foi variada. Para alguns analistas, ele representa “uma rara vitória dos ambientalistas” (The Atlantic) e “um passo histórico” (The Guardian); para outros, é apenas uma iniciativa “pouco inspirada” (Forbes). Tire suas próprias conclusões. Estes são os principais pontos do plano (que você pode ler na íntegra ou resumido, ambas versões em inglês) :
- A decisão que, segundo vários analistas, terá impacto mais concreto: desestimular a operação de termelétricas a carvão via estabelecimento de limites de emissões para unidades que já estejam operando (as unidades novas já tinham limites a respeitar, que ainda não entraram em vigor e cuja implantação deverá ser acelerada);
- Remover barreiras à importação de tecnologias associadas a energias limpas;
- Fomentar a cooperação climática bilateral com vários outros países, inclusive o Brasil;
- Instalar projetos eólicos, solares e geotérmicos em terras federais com a finalidade de gerar energia suficiente para abastecer 6 milhões de lares até 2020 (a iniciativa deverá dobrar a capacidade de geração alternativa já existente em terras federais);
- Ampliar a eficiência energética de eletrodomésticos, equipamentos industriais e construções. O governo deverá apoiar iniciativas que aumentem em 20% a eficiência de edifícios comerciais, industriais e multi-familiares até 2020. Com isso, pretende reduzir a poluição por carbono em um total de 3 bilhões de toneladas até 2030 (valor cumulativo, não anual) – mais da metade das emissões anuais do setor energético no país;
- Introduzir medidas de adaptação de cidades costeiras à progressiva elevação do nível dos oceanos.
Vale notar que Obama, como esperado, passa bem longe de temas essenciais e polêmicos, como os mecanismos de cap-and-trade e os impostos sobre emissões de carbono. Também apoiou a utilização de fontes de energia controvertidas, como a nuclear e o gás de xisto, obtido via fracking (fraturamento hidráulico). Mas o presidente americano surpreendeu ao mencionar o polêmico óleoduto Keystone XL, projetado para atravessar boa parte da América do Norte, levando óleo de Alberta, no Canadá, para refinarias no Texas. Ele declarou que só autorizará a obra se ela “não aumentar significativamente as emissões de carbono”. A declaração parece promissora (difícil negar que um projeto dessa magnitude tenha baixo impacto nas emissões de carbono). Entretanto, a promessa poderá ser vazia, já que há posições divergentes a respeito dentro do próprio governo federal. Uma análise de impacto socioambiental preliminar realizada pelo Departamento de Estado vai nessa linha (no que é contestada pela a EPA, a agência ambiental federal). Enfim, o fiel da balança começou a pender para o lado dos ambientalistas, mas a batalha não está ganha.[:en]
Acabou o suspense. Nos últimos cinco meses, o presidente americano vinha dando dicas de que se preparava para lançar um grande plano de ação contra o aquecimento global, tópico que havia apenas tangenciado no seu primeiro mandato. Hoje, em discurso a estudantes da Georgetown University, ele revelou uma série de medidas passíveis de implantação sem aprovação do Congresso (e, portanto, relativamente imunes às barreiras impostas pela oposição republicana). Em última instância, a iniciativa visa honrar o compromisso de reduzir em 17% as emissões nacionais de carbono, tomando como base o ano de 2005, até o fim desta década. E, claro, tirar os Estados Unidos de uma posição vexatória: a de lanterna do debate climático global.
A reação ao pacote foi variada. Para alguns analistas, ele representa “uma rara vitória dos ambientalistas” (The Atlantic) e “um passo histórico” (The Guardian); para outros, é apenas uma iniciativa “pouco inspirada” (Forbes). Tire suas próprias conclusões. Estes são os principais pontos do plano (que você pode ler na íntegra ou resumido, ambas versões em inglês) :
- A decisão que, segundo vários analistas, terá impacto mais concreto: desestimular a operação de termelétricas a carvão via estabelecimento de limites de emissões para unidades que já estejam operando (as unidades novas já tinham limites a respeitar, que ainda não entraram em vigor e cuja implantação deverá ser acelerada);
- Remover barreiras à importação de tecnologias associadas a energias limpas;
- Fomentar a cooperação climática bilateral com vários outros países, inclusive o Brasil;
- Instalar projetos eólicos, solares e geotérmicos em terras federais com a finalidade de gerar energia suficiente para abastecer 6 milhões de lares até 2020 (a iniciativa deverá dobrar a capacidade de geração alternativa já existente em terras federais);
- Ampliar a eficiência energética de eletrodomésticos, equipamentos industriais e construções. O governo deverá apoiar iniciativas que aumentem em 20% a eficiência de edifícios comerciais, industriais e multi-familiares até 2020. Com isso, pretende reduzir a poluição por carbono em um total de 3 bilhões de toneladas até 2030 (valor cumulativo, não anual) – mais da metade das emissões anuais do setor energético no país;
- Introduzir medidas de adaptação de cidades costeiras à progressiva elevação do nível dos oceanos.
Vale notar que Obama, como esperado, passa bem longe de temas essenciais e polêmicos, como os mecanismos de cap-and-trade e os impostos sobre emissões de carbono. Também apoiou a utilização de fontes de energia controvertidas, como a nuclear e o gás de xisto, obtido via fracking (fraturamento hidráulico). Mas o presidente americano surpreendeu ao mencionar o polêmico óleoduto Keystone XL, projetado para atravessar boa parte da América do Norte, levando óleo de Alberta, no Canadá, para refinarias no Texas. Ele declarou que só autorizará a obra se ela “não aumentar significativamente as emissões de carbono”. A declaração parece promissora (difícil negar que um projeto dessa magnitude tenha baixo impacto nas emissões de carbono). Entretanto, a promessa poderá ser vazia, já que há posições divergentes a respeito dentro do próprio governo federal. Uma análise de impacto socioambiental preliminar realizada pelo Departamento de Estado vai nessa linha (no que é contestada pela a EPA, a agência ambiental federal). Enfim, o fiel da balança começou a pender para o lado dos ambientalistas, mas a batalha não está ganha.