As demandas do mercado de comunicação empresarial são crescentes e as empresas precisam lidar com o desafio de comunicar os resultados não só econômicos, mas também sociais e ambientais de seus negócios. O fato de o sucesso de uma empresa estar fortemente ligado à sua reputação e à sua aceitação pela sociedade torna a comunicação elemento chave no suporte às diversas áreas e processos necessários em busca da sustentabilidade.
Divulgar o que se pode comprovar, coerência entre a realidade e o que é comunicado, transparência, não omitir erros, utilizar linguagem acessível e de fácil entendimento e considerar partes interessadas na estratégia de comunicação são essenciais para uma boa comunicação.
O Relatório de Sustentabilidade, desenvolvido geralmente com base nas diretrizes Global Reporting Initiative (GRI), é uma ferramenta de comunicação do desempenho organizacional, que deve trazer informações que permitam a comparação de resultados de uma empresa ao longo dos anos e entre organizações diferentes.
Essa comparação é útil para identificar a empresa com as melhores práticas e resultados em determinados aspectos, fundamentar a escolha do cliente, do consumidor, do financiador e do investidor, fornecer um panorama do setor e facilitar a compreensão da situação em relação aos concorrentes. Assim, a comparabilidade entre empresas é extremamente importante tanto para as empresas quando para os stakeholders.
Ao comparar os relatórios de sustentabilidade de onze empresas do setor de energia que compõem a carteira 2013 do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBOVESPA nota-se que a maioria apresentou resultados de 2009 e 2010, junto aos resultados de 2011. Poucas empresas relataram apenas dados de 2011, em geral relacionados aos indicadores de acidentes, rotatividade e treinamentos. Algumas apresentaram um acompanhamento histórico superior a três anos para determinados indicadores, e todas elas ofereceram análises e justificativas para boa parte dos resultados, comparando-os principalmente com dados de 2010.
É possível perceber que os problemas de comparabilidade de respostas a indicadores GRI são comuns, o que prejudica a utilidade dos relatórios e a capacidade de análise do desempenho das empresas. Tais problemas são decorrentes da qualidade das respostas dadas pelas empresas e da ambiguidade ou instrução insuficiente de determinados indicadores.
No caso do indicador sobre o número de pessoas deslocadas física e economicamente foi identificado o seguinte problema: enquanto a maioria das companhias reporta o número de pessoas, seguindo as diretrizes do GRI, outras reportam o número de famílias, o que impede que o impacto de suas atividades seja adequadamente dimensionado. Essa dificuldade de comparação é grave, por se tratar de uma informação muito importante para o setor. O principal impacto social de suas atividades consiste no reassentamento de comunidades para dar espaço a usinas de geração e a linhas de transmissão e distribuição.
Também foi identificado problema de comparabilidade na resposta ao indicador referente ao fator de disponibilidade média da usina, discriminado por fonte de energia e por sistema regulatório. Parece haver dúvidas em relação à discriminação por fonte de energia, o que pode ser visto como uma necessidade de melhor especificação por parte do GRI. Algumas empresas reportam o fator de disponibilidade discriminado por tipo de usina: usinas hidrelétricas, termelétricas e usinas eólicas; outras reportam por empreendimento; outras por fonte de energia primária (carvão, gás, hídrica, óleo e urânio); e outras não discriminam algumas fontes.
O indicador referente à taxa de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e óbitos relacionados ao trabalho também apresenta problemas: são utilizados dois modos para calcular as referidas taxas. Nesse caso, especificidades do País influenciam na comparabilidade dos relatórios. A diretriz GRI indica que deve ser usado o fator 200.000 horas-homem, já a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) indica o uso de 1.000.000 horas-homem como fator. Isso poderia ser solucionado pelas empresas, apresentando as taxas calculadas das duas formas, o que permitiria a comparação tanto entre empresas brasileiras como estrangeiras.
No que diz respeito à comparabilidade entre anos, de maneira geral, as empresas reportam um histórico comparativo de resultados quantitativos. No entanto, ainda há espaço para melhorias, com maior atenção para resultados relacionados à segurança no trabalho e gestão de pessoas, além de análises mais sólidas acerca da evolução do desempenho de aspectos materiais para as empresas, considerando resultados mais antigos.
Em relação à comparabilidade entre empresas, nota-se uma necessidade de maior atenção por parte das organizações em relação ao que é pedido pelos indicadores GRI. É necessário ainda aperfeiçoar orientações fornecidas pelo GRI para a resposta a determinados indicadores, o que reduziria problemas de interpretação das empresas. Com o aprimoramento das diretrizes GRI e maior atenção das empresas no reporte, os resultados serão mais passíveis de comparação, possibilitando uma avaliação setorial mais precisa e, inclusive, avaliações e ajustes de políticas públicas.
*Munir Souza é gestor de sustentabilidade da Keyassociados e Tais Faria Brandão é especialista em sustentabilidade da Keyassociados
** Os artigos e textos de de caráter opinativo expressam a visão de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista da Página22 e GVCes