A região abriga 50% da biodiversidade mundial, ao mesmo tempo em que apresenta os maiores declínios populacionais da vida selvagem e a maior desigualdade do mundo – o que amplia as consequências econômicas da perda da natureza, com comunidades indígenas particularmente vulneráveis. Entenda como as empresas devem contribuir com a conservação
Por Andrea Pradilla*
A América Latina estará na vanguarda das principais discussões globais sobre biodiversidade este ano. Pela primeira vez, meu país natal, a Colômbia, sediará a Conferência das Partes da ONU sobre Biodiversidade (COP 16), que começa em 21 de outubro na cidade de Cali.
A COP é o órgão regulador da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um tratado internacional lançado aqui na América Latina durante a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, em 1992 – a Eco 92. Com o objetivo de impulsionar compromissos globais para proteger a natureza e garantir o uso sustentável dos recursos do nosso planeta, esta 16ª edição traz como tema “Paz com a Natureza”.
A COP 16 reunirá diversos atores, como governos, sociedade civil, empresas, instituições financeiras e academia, para catalisar ações coletivas para transformar nossa relação com o mundo natural. Após a adoção do Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework (GBF) na COP 15, esta próxima conferência internacional é um momento chave para avaliar se este roteiro de ação está tendo efeito em interromper e reverter a perda de biodiversidade.
Um problema multidimensional
De acordo com o WWF, entre 1970 e 2018 o mundo sofreu um declínio de 69% nas populações de espécies, em grande parte devido a desmatamento, práticas agrícolas, uso excessivo de recursos naturais, mudança climática e poluição. A ONU relatou, enquanto isso, que 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção.
A biodiversidade também está intimamente ligada às atividades econômicas e ao papel das empresas. O New Nature Economy Report II do Fórum Econômico Mundial descobriu que mais da metade do PIB global está em risco como resultado da perda de biodiversidade. Portanto, reverter essas tendências alarmantes é crucial em várias dimensões, incluindo aspectos ambientais, econômicos e humanos.
A região mais biodiversa e desigual do mundo
A América Latina abriga 50% da biodiversidade mundial, incluindo ecossistemas importantes como a Amazônia, a floresta tropical mais biodiversa do mundo; os Andes, a maior cadeia de montanhas da Terra; e o Caribe, uma das regiões com maior biodiversidade marinha. Ao mesmo tempo, é a região que mostra os maiores declínios populacionais da vida selvagem.
A América Latina também é a região mais desigual do mundo, o que amplia as consequências econômicas da perda da natureza, com comunidades indígenas particularmente vulneráveis. Um em cada cinco empregos está intimamente ligado à biodiversidade, de acordo com análise da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. Portanto, uma transição justa não deve apenas proteger a natureza, mas também garantir que as populações mais vulneráveis sejam apoiadas, diminuindo a lacuna entre sustentabilidade e equidade social.
Nesse contexto, modelos de negócios mais sustentáveis que considerem os impactos na natureza podem fazer uma grande diferença nas perspectivas da região, ambiental, social e economicamente. É por isso que uma transição para uma economia positiva para a natureza é especialmente crítica para a América Latina, e sediar a COP 16 na Colômbia é uma oportunidade fundamental para colocar a natureza no centro da agenda ambiental global.
O papel do relatório de impacto
Entender e abordar os impactos das empresas na natureza é essencial para promover a conservação e interromper a perda de biodiversidade. É por isso que a presença da Global Reporting Initiative na COP 16 será centrada em como impulsionar a responsabilização empresarial por seus impactos na natureza.
Na GRI, estamos moldando o debate global sobre a importância da biodiversidade na agenda do desenvolvimento sustentável. No início do ano, uma grande revisão do Padrão de Biodiversidade da GRI (GRI 101) foi publicada, para representar as melhores práticas acordadas internacionalmente em transparência corporativa e biodiversidade. Na COP 16, focaremos em nossos esforços para estimular os relatórios de biodiversidade, construídos no GRI 101.
Compartilharemos experiências deste programa, que foi implementado em níveis global e regional. Na Rede GRI América Latina, temos trabalhado com empresas que abrangem os setores de energia, serviços e sociedade civil, identificando oportunidades e desafios no uso do GRI 101 para apoiar seus esforços de divulgação de biodiversidade.
Para apoiar o uso de nosso Padrão de Biodiversidade, a GRI Academy, o principal portal educacional do mundo para profissionais de relatórios de sustentabilidade, lançou o Charting a greener path: reporting on biodiversity with GRI Standards. O treinamento online fornece o know-how sobre a melhor aplicação do GRI 101 e aprofunda-se na biodiversidade como um tópico mais amplo.
Em linha com o compromisso da GRI de tornar os padrões acessíveis a um público global diversificado, durante a COP 16 apresentaremos as traduções em espanhol e português do GRI 101. O padrão também está disponível em árabe, francês, alemão, italiano, indonésio, japonês, chinês simplificado e chinês tradicional.
Para trazer a responsabilidade empresarial sobre os impactos da biodiversidade para o centro das atenções, durante a COP 16, os representantes seniores da GRI falarão em eventos e workshops nacionais, regionais e internacionais. Eles também se envolverão com uma ampla gama de partes interessadas, incluindo formuladores de políticas, empresas e representantes governamentais.
Ação coletiva e responsabilidade compartilhada
A proteção de nossa herança natural só pode ser feita por meio de um esforço coletivo, incluindo governos, setor privado, sociedade civil, comunidades locais, instituições financeiras e outros. Esse ethos de múltiplas partes interessadas, conforme previsto pelo GRI, precisa ser um pré-requisito para que a COP 16 tenha alguma chance de atingir seus objetivos.
Se essa responsabilidade compartilhada puder ser concretizada, acredito que a COP 16 será o ponto de virada para a América Latina e o restante do mundo. A conferência é capaz de entregar um legado duradouro que vai além das palavras de apoio da comunidade global sobre a preservação da biodiversidade e se move para a ação necessária para garantir um futuro sustentável para o benefício das gerações presentes e futuras.
*Andrea Pradilla é diretora da rede regional da Global Reporting Initiative (GRI) para a América Latina, com sede em Bogotá. A GRI é uma organização sem fins lucrativos que fornece padrões, ferramentas e treinamento que capacitam organizações de todos os tamanhos a criar valor sustentável e de longo prazo.