Richard Branson e seus colegas do B Team concentram-se em instituir a contabilidade dos impactos socioambientais (positivos e negativos) das empresas, desenvolver incentivos e subsídios e discutir o perfil ideal das lideranças globais
Toda causa precisa de um líder icônico – e a luta pela inclusão da sustentabilidade no modelo de negócios das empresas acaba de encontrar o seu. O irreverente Sir Richard Branson, um dos homens mais ricos da Grã- Bretanha, lançou em junho uma ofensiva para persuadir o empresariado a trocar as metas de curto prazo por estratégias que incorporem as preocupações socioambientais. Trata-se do B Team, uma aliança de líderes empresariais de prestígio global, unidos para persuadir governos e multinacionais a adotarem novos paradigmas. “Não devemos incumbir apenas políticos e organizações sociais de lidar com os problemas do mundo – as empresas também deveriam ajudar”, defende Branson. “Muitas empresas tomam iniciativas importantes individualmente – mas elas poderiam ser muito mais poderosas e ter um impacto maior se atuassem coletivamente.”
Branson escolheu a dedo os parceiros que queria ver envolvidos nesse esforço coletivo. A lista inclui, entre outros, o brasileiro Guilherme Leal, da Natura; Ratan Tata, do Grupo Tata, um dos conglomerados mais poderosos da Índia; Paul Polman, CEO da Unilever, líder mundial na fabricação de bens de consumo; Arianna Huffington, do influente website Huffington Post; François- Henri Pinault, CEO da holding francesa Kering, dona de grandes lojas e marcas de luxo; o Nobel Muhammad Yunnus, fundador do banco de microcrédito Grameen; e a ex-primeira ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, que liderou a comissão da ONU que consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável nos anos 1980. Branson divide a coordenação com Jochen Zeitz, até recentemente CEO da indústria de artigos esportivos Puma e uma das principais vozes no debate sobre a responsabilidade social corporativa (mais aqui).
No momento, ele é diretor da Kering, de Pinault. O conceito do B Team, em si, não é novo. Coletivos de empresários com ideias mais arejadas, interessados em fomentar a responsabilidade social corporativa, estão nessa luta há duas décadas, atuando em organizações como o Instituto Ethos e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. A novidade do B Team é que ele é liderado por Branson, um trator que não aceita “não” como resposta.
O homem é um cruzamento de Bill Gates com Lady Gaga. Construiu do zero uma fortuna de US$ 4,6 bilhões, que inclui as 400 empresas do Virgin Group, concentradas nos setores de turismo e entretenimento. Um dos seus projetos mais vistosos é a Virgin Galactic, primeira empresa privada de exploração espacial, que já recebeu US$ 80 milhões de candidatos a astronautas amadores. “Cansei de esperar pela oportunidade de ir ao espaço em uma espaçonave americana ou russa a um preço razoável”, justificou. Branson é, também, um marqueteiro despudorado e hiperativo. Estrelou reality show, fez ponta nos Simpsons e em um filme de James Bond, tentou quebrar recordes em balonismo e pulou de um edifício em Las Vegas vestido a rigor. Perto dele, Eike Batista é aprendiz.
Nos últimos anos, colocou sua exuberância a serviço do bem comum. Seguindo os passos de Bill Gates, decidiu doar metade de sua riqueza e tem fomentado iniciativas de desenvolvimento e democratização na África. Mais importante: é uma figura agregadora, que costura alianças entre personagens de destaque no mundo político e empresarial para multiplicar o poder de fogo de cada indivíduo. Formou mutirões de notáveis sob as bandeiras mais diversas, do banimento dos arsenais nucleares à redução da pegada de carbono do setor privado.
Foi também responsável pela articulação de um grupo batizado de The Elders (Os Anciãos) – que inclui Nelson Mandela, Fernando Henrique Cardoso e o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, com a finalidade de usar seu peso político para mediar conflitos regionais.
O B Team usará o talento agregador de Branson para replicar a experiência bem-sucedida de Jochen Zeitz à frente da Puma. O grupo pretende disseminar o lema da multinacional alemã – empresas devem ser “justas, honestas, positivas e criativas” – e se concentrar em três frentes: instituir a contabilidade dos impactos socioambientais (positivos e negativos) das empresas; desenvolver incentivos e subsídios para práticas sustentáveis; e discutir qual seria o perfil ideal das lideranças globais.
A formação dessa força-tarefa de elite vem confirmar que o debate socioambiental nas empresas chegou à maturidade. Já se foram os tempos heroicos em que os empresários engajados cabiam em uma Porsche conversível.
*Regina Scharf é jornalista especializada em Meio Ambiente.
Leia a outra coluna desta edição:
Ricardo Abramovay em “Propostas para a conferência de meio ambiente“
[:en]Richard Branson e seus colegas do B Team concentram-se em instituir a contabilidade dos impactos socioambientais (positivos e negativos) das empresas, desenvolver incentivos e subsídios e discutir o perfil ideal das lideranças globais
Toda causa precisa de um líder icônico – e a luta pela inclusão da sustentabilidade no modelo de negócios das empresas acaba de encontrar o seu. O irreverente Sir Richard Branson, um dos homens mais ricos da Grã- Bretanha, lançou em junho uma ofensiva para persuadir o empresariado a trocar as metas de curto prazo por estratégias que incorporem as preocupações socioambientais. Trata-se do B Team, uma aliança de líderes empresariais de prestígio global, unidos para persuadir governos e multinacionais a adotarem novos paradigmas. “Não devemos incumbir apenas políticos e organizações sociais de lidar com os problemas do mundo – as empresas também deveriam ajudar”, defende Branson. “Muitas empresas tomam iniciativas importantes individualmente – mas elas poderiam ser muito mais poderosas e ter um impacto maior se atuassem coletivamente.”
Branson escolheu a dedo os parceiros que queria ver envolvidos nesse esforço coletivo. A lista inclui, entre outros, o brasileiro Guilherme Leal, da Natura; Ratan Tata, do Grupo Tata, um dos conglomerados mais poderosos da Índia; Paul Polman, CEO da Unilever, líder mundial na fabricação de bens de consumo; Arianna Huffington, do influente website Huffington Post; François- Henri Pinault, CEO da holding francesa Kering, dona de grandes lojas e marcas de luxo; o Nobel Muhammad Yunnus, fundador do banco de microcrédito Grameen; e a ex-primeira ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, que liderou a comissão da ONU que consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável nos anos 1980. Branson divide a coordenação com Jochen Zeitz, até recentemente CEO da indústria de artigos esportivos Puma e uma das principais vozes no debate sobre a responsabilidade social corporativa (mais aqui).
No momento, ele é diretor da Kering, de Pinault. O conceito do B Team, em si, não é novo. Coletivos de empresários com ideias mais arejadas, interessados em fomentar a responsabilidade social corporativa, estão nessa luta há duas décadas, atuando em organizações como o Instituto Ethos e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. A novidade do B Team é que ele é liderado por Branson, um trator que não aceita “não” como resposta.
O homem é um cruzamento de Bill Gates com Lady Gaga. Construiu do zero uma fortuna de US$ 4,6 bilhões, que inclui as 400 empresas do Virgin Group, concentradas nos setores de turismo e entretenimento. Um dos seus projetos mais vistosos é a Virgin Galactic, primeira empresa privada de exploração espacial, que já recebeu US$ 80 milhões de candidatos a astronautas amadores. “Cansei de esperar pela oportunidade de ir ao espaço em uma espaçonave americana ou russa a um preço razoável”, justificou. Branson é, também, um marqueteiro despudorado e hiperativo. Estrelou reality show, fez ponta nos Simpsons e em um filme de James Bond, tentou quebrar recordes em balonismo e pulou de um edifício em Las Vegas vestido a rigor. Perto dele, Eike Batista é aprendiz.
Nos últimos anos, colocou sua exuberância a serviço do bem comum. Seguindo os passos de Bill Gates, decidiu doar metade de sua riqueza e tem fomentado iniciativas de desenvolvimento e democratização na África. Mais importante: é uma figura agregadora, que costura alianças entre personagens de destaque no mundo político e empresarial para multiplicar o poder de fogo de cada indivíduo. Formou mutirões de notáveis sob as bandeiras mais diversas, do banimento dos arsenais nucleares à redução da pegada de carbono do setor privado.
Foi também responsável pela articulação de um grupo batizado de The Elders (Os Anciãos) – que inclui Nelson Mandela, Fernando Henrique Cardoso e o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, com a finalidade de usar seu peso político para mediar conflitos regionais.
O B Team usará o talento agregador de Branson para replicar a experiência bem-sucedida de Jochen Zeitz à frente da Puma. O grupo pretende disseminar o lema da multinacional alemã – empresas devem ser “justas, honestas, positivas e criativas” – e se concentrar em três frentes: instituir a contabilidade dos impactos socioambientais (positivos e negativos) das empresas; desenvolver incentivos e subsídios para práticas sustentáveis; e discutir qual seria o perfil ideal das lideranças globais.
A formação dessa força-tarefa de elite vem confirmar que o debate socioambiental nas empresas chegou à maturidade. Já se foram os tempos heroicos em que os empresários engajados cabiam em uma Porsche conversível.
*Regina Scharf é jornalista especializada em Meio Ambiente.
Leia a outra coluna desta edição:
Ricardo Abramovay em “Propostas para a conferência de meio ambiente“