Mais de 40 mil pessoas já assinaram uma petição para que a World Meteorological Organization (WMO) – a agência das Nações Unidas que, entre outras coisas, nomeia eventos climáticos – mude sua lista de nomes para tempestades tropicais. Em vez de Katrina e Sandy, por exemplo, os organizadores da campanha querem que os eventos ganhem o nome de políticos que rejeitam o consenso científico da mudança climática.
A campanha “Climate Name Change” foi criada pela agência de publicidade Barton F. Graf 9000 para a ONG 350.org, encabeçada pelo ativista Bill McKibben. Um vídeo lançado na internet no início dessa semana (ao lado) mostra coberturas de TV fictícias – em estilo bem americano – de tempestades chamadas, por exemplo, Michele Bachmann e Marco Rubio.
Deputada que disputou a candidatura do Partido Republicano à presidência dos EUA em 2012, Michel Bachmann é conhecida por afirmar: “Dióxido de carbono não é um gás prejudicial, é inofensivo… É natural… Dizem que temos de reduzir essa substância natural para criar uma redução arbitrária em algo que está acontecendo naturalmente na Terra”.
Senador Republicano pelo estado da Flórida, Marco Rubio afirmou: “O governo não pode mudar o clima… Podemos aprovar um punhado de leis que vão destruir nossa economia, mas isso não vai mudar o clima”. Ele é visto como um dos Republicanos com potencial para disputar a presidência nas próximas eleições.
“A prática de dar nome a tempestades (ciclones tropicais) começou anos atrás, com o objetivo de ajudar na identificação rápida durante os alertas, porque supõe-se que nomes são muito mais fáceis de lembrar do que números e termos técnicos”, diz o website da WMO. “Muita gente concorda que dar nomes a tempestades torna mais fácil para que a mídia noticie estes eventos, aumenta o interesse nos alertas e o estado de preparação por parte da comunidade.”
A campanha para mudar o nome dos furacões com certeza chamou a atenção da mídia americana e, pelo jeito, o intuito dos organizadores não é tanto mudar o sistema nomenclativo da WMO, mas aumentar o interesse no tema da mudança climática e o estado de preparação da comunidade antes de votar em políticos conhecidos por rejeitar o consenso científico.
Alguns comentaristas nos EUA criticaram a campanha por abordar furacões, argumentando que não há evidências científicas claras de uma ligação entre a mudança climática e o aumento da frequência ou intensidade desses fenômenos.
Para o editor do jornal britânico The Guardian, Leo Hickman, porém, a principal crítica à campanha é que ela é datada, mais especificamente, de 2007.
“O mundo real está deixando para trás aqueles que terminantemente rejeitam a ciência que substancia a noção de que as emissões antropogênicas de gases de efeito estufa aquecem o planeta”, escreveu.
“O que vemos mais agora, porém, são céticos das políticas climáticas. Sim, alguns são os mesmos personagens de antes, mas que sutil e astutamente se reposicionaram ao longo dos últimos anos. Em vez de reivindicar que a ciência climática é uma fraude ou fundamentalmente falha, eles agora dizem que as políticas propostas para o clima terão pouco ou nenhum impacto sobre a temperatura do planeta e são, portanto, um desperdício de tempo e de dinheiro.”
De fato, fica cada vez mais difícil negar o consenso científico. Há poucas semanas, a Reuters antecipou que o quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças do Clima (IPCC) – cuja divulgação oficial inicia em setembro – calcula em pelo menos 95% o grau de certeza de que as atividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis, são a principal causa do aquecimento registrado desde os anos 50.
Em vez de renomear furacões ou ajudar a acabar de vez com o “ceticismo” climático, o principal feito da campanha talvez venha a ser inaugurar uma época em que o ativismo ambiental finalmente comece a explorar a propaganda como ferramenta na luta para convencer eleitores e políticos de que a hora de agir, mais do que nunca, é agora.