Há fortes evidências de que o ataque terrorista a um shopping de Nairobi, no Quênia, que terminou hoje depois de 80 horas de terror e matou 72 pessoas, foi financiado pelo tráfico de presas de elefantes. Como discutido recentemente no post Atrás de toda revolução, há sempre uma crise ambiental, são raras as expressões de violência ou rebelião que não estejam enterradas até o joelho na carência de sustentabilidade.
Historicamente, a Al-Shabab, organização que reivindicou o ato, baseada na Somália e apoiada pela Al Qaeda, dominava as operações do porto da cidade de Kismayo, por onde escoa a produção somaliana de carvão. Segundo a revista Mother Jones, o grupo apelava para a extorsão e suborno ali em em outras áreas sob seu controle. No ano passado, ela foi expulsa de Kismayo por forças internacionais.
Quando essa fonte de recursos secou, o grupo resolveu direcionar suas energias para o tráfico de marfim. Há três anos, The Elephant Action League, uma ONG focada na proteção dos elefantes, publicou uma investigação que a Al-Shabab estaria caçando estes e outros paquidermes no Quênia e coordenando operações de tráfico de marfim e chifres. Esse comércio seria responsável por até 40% de seus recursos. Para a entidade:
Enquanto o Ocidente continuar a lutar contra organizações de terrorismo radical por meio do sequestro de seus bens em contas em bancos offshore, empresas de fachada e “instituições de caridade”, essas organizações, inclusive a Al Shabab, dependerão cada vez mais do contrabando como fonte de financiamento.
Outro estudo, publicado em abril deste ano, pelo International Conservation Caucus Foundation – uma organização que trabalha questões de conservação no congresso americano – atualizou esses dados e foi mais fundo, dando sinais de que a atuação de fundamentalistas nesse comércio está crescendo, sobretudo devido à valorização do marfim no mercado chinês. Ele questiona a capacidade de agências governamentais voltadas para a conservação de enfrentar um predador de tal porte.
O marfim oferece uma fonte de renda de fácil acesso e impossível de rastrear a terroristas e organizações extremistas tanto no Quênia quanto na Somália, e isso é uma ameaça direta aos Estados Unidos e a seus aliados africanos. (…) Nenhuma agência ambiental do mundo tem estrutura para enfrentar terroristas, insurgentes e exércitos rebeldes, mas é isso que se espera do Kenya Wildlife Service (KWS), do Institut Congolais pour la Conservation de la Nature (ICCN) [respectivamente órgãos ambientais do Quênia e do Congo] e de autoridades ambientais do Chade, para citar apenas alguns.
O colunista Chris Tackett, do website Treehugger observa que o governo americano já percebeu essa dificuldade. Há duas semanas, a ex-secretária de Estado Hilary Clinton, em discurso na Casa Branca, chamou atenção para o impacto da caça ilegal e o tráfico de animais sobre a segurança da África.
Estaria em tempo de se criar um Conselho de Segurança Ambiental da ONU?[:en]
Há fortes evidências de que o ataque terrorista a um shopping de Nairobi, no Quênia, que terminou hoje depois de 80 horas de terror e matou 72 pessoas, foi financiado pelo tráfico de presas de elefantes. Como discutido recentemente no post Atrás de toda revolução, há sempre uma crise ambiental, são raras as expressões de violência ou rebelião que não estejam enterradas até o joelho na carência de sustentabilidade.
Historicamente, a Al-Shabab, organização que reivindicou o ato, baseada na Somália e apoiada pela Al Qaeda, dominava as operações do porto da cidade de Kismayo, por onde escoa a produção somaliana de carvão. Segundo a revista Mother Jones, o grupo apelava para a extorsão e suborno ali em em outras áreas sob seu controle. No ano passado, ela foi expulsa de Kismayo por forças internacionais.
Quando essa fonte de recursos secou, o grupo resolveu direcionar suas energias para o tráfico de marfim. Há três anos, The Elephant Action League, uma ONG focada na proteção dos elefantes, publicou uma investigação que a Al-Shabab estaria caçando estes e outros paquidermes no Quênia e coordenando operações de tráfico de marfim e chifres. Esse comércio seria responsável por até 40% de seus recursos. Para a entidade:
Enquanto o Ocidente continuar a lutar contra organizações de terrorismo radical por meio do sequestro de seus bens em contas em bancos offshore, empresas de fachada e “instituições de caridade”, essas organizações, inclusive a Al Shabab, dependerão cada vez mais do contrabando como fonte de financiamento.
Outro estudo, publicado em abril deste ano, pelo International Conservation Caucus Foundation – uma organização que trabalha questões de conservação no congresso americano – atualizou esses dados e foi mais fundo, dando sinais de que a atuação de fundamentalistas nesse comércio está crescendo, sobretudo devido à valorização do marfim no mercado chinês. Ele questiona a capacidade de agências governamentais voltadas para a conservação de enfrentar um predador de tal porte.
O marfim oferece uma fonte de renda de fácil acesso e impossível de rastrear a terroristas e organizações extremistas tanto no Quênia quanto na Somália, e isso é uma ameaça direta aos Estados Unidos e a seus aliados africanos. (…) Nenhuma agência ambiental do mundo tem estrutura para enfrentar terroristas, insurgentes e exércitos rebeldes, mas é isso que se espera do Kenya Wildlife Service (KWS), do Institut Congolais pour la Conservation de la Nature (ICCN) [respectivamente órgãos ambientais do Quênia e do Congo] e de autoridades ambientais do Chade, para citar apenas alguns.
O colunista Chris Tackett, do website Treehugger observa que o governo americano já percebeu essa dificuldade. Há duas semanas, a ex-secretária de Estado Hilary Clinton, em discurso na Casa Branca, chamou atenção para o impacto da caça ilegal e o tráfico de animais sobre a segurança da África.
Estaria em tempo de se criar um Conselho de Segurança Ambiental da ONU?