É hora de partir para um esforço conjunto de inclusão desse segmento, abandonando de vez a visão anacrônica que insiste em separá-lo do agronegócio
Declarado este ano de 2014, pela Assembleia-geral das Nações Unidas, como o “Ano Internacional da Agricultura Familiar”, temos uma boa oportunidade para refletir sobre o papel e a importância desse segmento nos agronegócios.
Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as cifras do agronegócio em 2013 devem chegar a R$ 1 trilhão, ampliando a sua participação no PIB para 22,8%. A safra colhida – recorde com 187,1 milhões de toneladas – teve um crescimento de 12% com relação à de 2011/12, em cerca de 56 milhões de hectares cultivados.
De 1975 a 2010, a área cultivada de grãos aumentou 45,6%, e a produção, 268% (seis vezes), conforme levantamento da Fundação Getulio Vargas. Tal aumento de produtividade permitiu ao País poupar cerca de 60 milhões de hectares que seriam necessários para atingir esse volume, mantida a produtividade do início do período.
A partir da utilização intensiva de recursos naturais, insumos modernos e capital, o exercício da atividade empresarial nos agronegócios tem estado cada vez mais restrito ao reduzido número dos agricultores ditos empresariais.
Segundo levantamento [1], cerca de 500 mil estabelecimentos empresariais (11% do total) produzem 86,6% do valor bruto da produção. Sua capacitação, organização e cadastro bancário os tornam aptos ao acesso ao crédito, às tecnologias de produção e gerenciamento e aos canais de comercialização.
Os demais, perto de 4 milhões [2] de pequenos e médios agricultores, na grande maioria familiares, acabam por constituir o contingente de produtores rurais incapazes de operar nas regras da agricultura empresarial. Dados do levantamento, trabalhados em 2010, mostram que 66% do total de estabelecimentos rurais respondem por apenas 3,27% da renda bruta (ver tabela na versão digital deste Artigo).
[1] ALVES, E. ; ROCHA, D. P. “Ganhar tempo é possível?” in: GASQUES, J. G; VIEIRA FILHO, J. E.; NAVARRO, Z. (orgs.). A agricultura brasileira: desempenho, desafios e perspectivas. Brasília: IPEA, 2010
[2] São 3.900.519 estabelecimentos com renda bruta entre 0 a 10 salários mínimos, segundo o IBGE
Constituído por pequenas e médias propriedades tocadas em regime familiar, o agronegócio familiar deve ser entendido como aquele que se dedica à produção diversificada de produtos diferenciados, de alto valor agregado, em geral atrelado às etapas de pré-processamento e processamento desenvolvidas ou não dentro da propriedade.
Representando a possibilidade concreta da adoção dos novos paradigmas da agricultura sustentável, esse segmento do agronegócio tem ampliado suas contribuições tanto no âmbito social quanto na e conservação do nosso patrimônio ambiental e cultural.
Mas, diante de limitações de acesso ao crédito, por força de exigências cada vez mais difíceis de serem atendidas e da baixa adesão do sistema financeiro privado, torna-se incapaz de operar segundo os requisitos da atividade empresarial.
Prova disso pode ser encontrada no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o maior programa do governo federal voltado para o financiamento do pequeno agricultor que, criado em 1995, em sua melhor estatística registrou, em 2012, cerca de 2,14 milhões de contratos.
Hoje, o problema consiste menos na quantidade de recursos alocados e mais nas limitações de capacitação, assistência técnica e acesso às linhas de crédito, pouco atrativas aos agentes financeiros.
É hora de partir para um esforço conjunto de inclusão desse segmento nos agronegócios, abandonando de vez a visão anacrônica que insiste em separar agricultura familiar de agronegócio.
Por suas particularidades e exigência de maior integração à cadeia produtiva, o agronegócio familiar deve operar a partir de modelos de negócio próprios, desenhados segundo suas especificidades.
Como preconiza o atual diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano, “o apoio à agricultura familiar não precisa e não deve ser feito em oposição à grande escala, a agricultura especializada, que também desempenha um papel importante para garantir o abastecimento global de alimentos”.
Quem sabe não seria um bom momento para nos unirmos em torno de iniciativas voltadas para o fortalecimento do agronegócio familiar? Estão previstas várias delas em 2014, no Brasil e em mais 45 países, e da sociedade brasileira se espera uma resposta efetiva para a inclusão desse segmento como um imperativo de sustentabilidade nos agronegócios.
*Engenheiro agrônomo, diretor da Hecta – Desenvolvimento Empresarial nos Agronegócios e consultor de agronegócios com foco em sustentabilidade e responsabilidade social corporativa – hecta.sp@gmail.com[:en]É hora de partir para um esforço conjunto de inclusão desse segmento, abandonando de vez a visão anacrônica que insiste em separá-lo do agronegócio
Declarado este ano de 2014, pela Assembleia-geral das Nações Unidas, como o “Ano Internacional da Agricultura Familiar”, temos uma boa oportunidade para refletir sobre o papel e a importância desse segmento nos agronegócios.
Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as cifras do agronegócio em 2013 devem chegar a R$ 1 trilhão, ampliando a sua participação no PIB para 22,8%. A safra colhida – recorde com 187,1 milhões de toneladas – teve um crescimento de 12% com relação à de 2011/12, em cerca de 56 milhões de hectares cultivados.
De 1975 a 2010, a área cultivada de grãos aumentou 45,6%, e a produção, 268% (seis vezes), conforme levantamento da Fundação Getulio Vargas. Tal aumento de produtividade permitiu ao País poupar cerca de 60 milhões de hectares que seriam necessários para atingir esse volume, mantida a produtividade do início do período.
A partir da utilização intensiva de recursos naturais, insumos modernos e capital, o exercício da atividade empresarial nos agronegócios tem estado cada vez mais restrito ao reduzido número dos agricultores ditos empresariais.
Segundo levantamento [1], cerca de 500 mil estabelecimentos empresariais (11% do total) produzem 86,6% do valor bruto da produção. Sua capacitação, organização e cadastro bancário os tornam aptos ao acesso ao crédito, às tecnologias de produção e gerenciamento e aos canais de comercialização.
Os demais, perto de 4 milhões [2] de pequenos e médios agricultores, na grande maioria familiares, acabam por constituir o contingente de produtores rurais incapazes de operar nas regras da agricultura empresarial. Dados do levantamento, trabalhados em 2010, mostram que 66% do total de estabelecimentos rurais respondem por apenas 3,27% da renda bruta (ver tabela na versão digital deste Artigo).
[1] ALVES, E. ; ROCHA, D. P. “Ganhar tempo é possível?” in: GASQUES, J. G; VIEIRA FILHO, J. E.; NAVARRO, Z. (orgs.). A agricultura brasileira: desempenho, desafios e perspectivas. Brasília: IPEA, 2010
[2] São 3.900.519 estabelecimentos com renda bruta entre 0 a 10 salários mínimos, segundo o IBGE
Constituído por pequenas e médias propriedades tocadas em regime familiar, o agronegócio familiar deve ser entendido como aquele que se dedica à produção diversificada de produtos diferenciados, de alto valor agregado, em geral atrelado às etapas de pré-processamento e processamento desenvolvidas ou não dentro da propriedade.
Representando a possibilidade concreta da adoção dos novos paradigmas da agricultura sustentável, esse segmento do agronegócio tem ampliado suas contribuições tanto no âmbito social quanto na e conservação do nosso patrimônio ambiental e cultural.
Mas, diante de limitações de acesso ao crédito, por força de exigências cada vez mais difíceis de serem atendidas e da baixa adesão do sistema financeiro privado, torna-se incapaz de operar segundo os requisitos da atividade empresarial.
Prova disso pode ser encontrada no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o maior programa do governo federal voltado para o financiamento do pequeno agricultor que, criado em 1995, em sua melhor estatística registrou, em 2012, cerca de 2,14 milhões de contratos.
Hoje, o problema consiste menos na quantidade de recursos alocados e mais nas limitações de capacitação, assistência técnica e acesso às linhas de crédito, pouco atrativas aos agentes financeiros.
É hora de partir para um esforço conjunto de inclusão desse segmento nos agronegócios, abandonando de vez a visão anacrônica que insiste em separar agricultura familiar de agronegócio.
Por suas particularidades e exigência de maior integração à cadeia produtiva, o agronegócio familiar deve operar a partir de modelos de negócio próprios, desenhados segundo suas especificidades.
Como preconiza o atual diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano, “o apoio à agricultura familiar não precisa e não deve ser feito em oposição à grande escala, a agricultura especializada, que também desempenha um papel importante para garantir o abastecimento global de alimentos”.
Quem sabe não seria um bom momento para nos unirmos em torno de iniciativas voltadas para o fortalecimento do agronegócio familiar? Estão previstas várias delas em 2014, no Brasil e em mais 45 países, e da sociedade brasileira se espera uma resposta efetiva para a inclusão desse segmento como um imperativo de sustentabilidade nos agronegócios.
*Engenheiro agrônomo, diretor da Hecta – Desenvolvimento Empresarial nos Agronegócios e consultor de agronegócios com foco em sustentabilidade e responsabilidade social corporativa – hecta.sp@gmail.com