A Agência Nacional de Águas (ANA) estima que 40% da água para consumo é desperdiçada no Brasil. A crença na abundância pode estar na origem da negligência, o que leva o engenheiro Wilson Passeto a reiterar o caráter cultural e local da questão da água. “O uso da água diz respeito à comunidade, ou seja, ao comum”, afirma. Portanto, a relação que cada povo mantém com suas fontes de água é bastante particular. Para Passeto, os países da América Latina demonstram comportamentos semelhantes, o que permite a extensão das campanhas da ONG Água e Cidade para países da região, como a Costa Rica. Mas há duas exceções importantes: o Chile e a Bolívia, em que a água é um recurso escasso e objeto preferencial de políticas públicas. No Chile, onde o deserto do Atacama ao norte contrasta com as geleiras do sul, a mudança climática é um problema real, tanto pela intensificação do degelo quanto pela expansão dos desertos.
Um país considerado modelo na gestão de água escassa é Israel, onde a irrigação e o consumo individual são rigidamente controlados. Ainda assim, metade da água usada em Israel tem fontes consideradas não convencionais, como a reciclagem, que serve a fins não alimentares, e a dessalinização, apesar de mais cara. Na situação oposta está o Canadá, que possui mais de 1 milhão de lagos e 9% das reservas mundiais de água potável, para menos de 1% da população mundial. Com a mudança climática, tanta água pode se tornar um ativo: um estudo na província do Québec estimou que exportações de água poderiam render anualmente US$ 65 bilhões.
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