Milhões de pessoas deixam para trás suas cidades, devastadas pelos efeitos do aquecimento global. Enfrentam o aumento do nível do mar, escassez de alimentos e de combustível. Esses migrantes são chamados “refugiados climáticos” e rumam para as regiões mais frias da Terra, como o Alasca. O ano é 2075.
A situação acima é o cenário do romance Polar City Red (sem tradução para o português), do americano Jim Laughter. Desde sua primeira edição, em 2012, o livro tem ganhado repercussão ao mesmo tempo em que cresce o destaque de um novo gênero de produção artística: a ficção climática – ou “cli-fi”, do inglês climate fiction.
Essas produções vão além da ficção científica – que, no geral, almeja levar terráqueos para outros planetas ou estabelecer contato com formas de vida inteligente extraterrestres. A ficção climática tem uma premissa específica: abordar a vida na Terra transformada pela intensificação do efeito estufa causada pela espécie humana.
Segundo o jornalista americano e ativista climático Dan Bloom, a arte tem um importante papel na forma como lidamos com o aquecimento global. Ele foi um dos precursores a defender o gênero em 2007.
Para Bloom, são produções com o potencial de popularizar os dilemas que a humanidade enfrentará neste século. “Imaginem um romance de ficção climática, que não só chegue a milhares de leitores, mas que também os emocione e, talvez, os motive a se converter em uma voz mais forte no debate político internacional sobre as emissões
de carbono”, escreveu em um artigo em abril.
…NAS AULAS E NAS MÍDIAS
Desde o início deste ano, a Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, deu início a uma disciplina que reúne assuntos de ciências ambientais e literatura. As aulas da disciplina “As culturas da mudança climática” envolvem a leitura de textos, poesias, análise de fotos, artigos e até filmes. Todos fazem parte do gênero ficção climática.
Essa é a primeira disciplina do tipo em uma universidade no mundo e mostra o amadurecimento na forma que a academia lidará com assuntos, antes considerados apenas ambientais.
Com base em autores como Susan Sontag, alunos discutem o significado de termos como “espetáculo” e debatem os inconvenientes da mídia que aborda o aquecimento global pela perspectiva do mundo desenvolvido.
Em abril, foi dado outro passo importante ao reconhecimento do gênero. O jornal The New York Times publicou uma reportagem a respeito do curso da Universidade do Oregon e foi o primeiro, na grande imprensa, a considerar a ficção climática – até mesmo sem aspas. Ao escrever para o site TeleRead, o jornalista Dan Bloom comemorou a reportagem, que poderá pautar outros veículos. “Quando o NYT fala, o mundo escuta”, escreveu.