Das mais combativas organizações de defesa dos direitos dos animais no mundo, a People for the Ethical Treatment of Animals (Peta), baseada nos Estados Unidos, é conhecida em grande parte por causa de suas táticas de buscar a adesão de celebridades às suas campanhas, sobretudo em iniciativas contra o uso de peles, e também de criticar publicamente personalidades que transgridem os princípios da entidade. Nesta entrevista concedida por e-mail, Ashley Byrne, especialista em campanhas da Peta, fala sobre as investigações secretas da entidade e explica a oposição da organização ao uso do couro bovino pelas indústrias de calçados e do vestuário.
A Peta tem ideia da participação de produtos fabricados com partes dos animais nas vendas da indústria calçadista e do vestuário?
As vendas de peles e pelagem de animais continuam declinando, visto que mais e mais pessoas opõem-se ao sofrimento dos animais que são confinados em jaulas superlotadas e sujas, antes de serem afogados, golpeados até a morte, estrangulados, eletrocutados e mesmo despelados vivos.
A Peta tem sido eficaz nas campanhas para eliminar os negócios com produtos fabricados à base de animais?
As investigações secretas da Peta são nossa sobrevivência. Numa fazenda de peles na China, encontramos um guaxinim despelado sobre uma pilha de carcaças. Ele levantou sua cabeça ensanguentada e mirou a câmera. Uma outra investigação revelou que coelhos numa fazenda de lã angorá também na China são pendurados de cabeça para baixo, gritam e chutam, sendo forçados a assistir a outros coelhos morrerem violentamente, antes que suas gargantas sejam cortadas. Trabalhos atrás das cortinas como esses têm levado grandes varejistas a trocar mercadorias por produtos oriundos de processos livres de crueldade com os animais.
Há muito tempo a Peta incentiva negócios com vestuário produzido sem uso de animais. É um mercado ascendente?
Para o público geral, o uso de pele animal continua tão popular quanto a afta. As pessoas viram as costas para essa indústria cruel quando aprendem sobre como os animais são violentados e eletrocutados, antes de morrerem, para que sua pele seja removida. Diversas celebridades já declararam que não vestem roupas fabricadas com pelagem e peles de animais, incluindo Penelope Cruz, Natalie Portman, Kristen Stewart, Charlize Theron e Eva Mendes, apenas para mencionar algumas poucas. Até a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, anunciou que também não veste roupas feitas com pelos e peles.
A Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) admite o consumo de carne e a produção de couro bovino desde que os frigoríficos sigam padrões de bem-estar animal no abate. Já a Peta parece trilhar caminho distinto, promovendo o uso de produtos livres de couro animal. Levando em conta que o consumo massivo de carne poderá se prolongar por décadas, não seria desejável que consumidores pudessem comprar couro com certificado de bem-estar animal? Ou a escolha estaria somente entre comprar produtos fabricados com couro ou artigos livres desse insumo?
Os animais não são nossos para comer, vestir, fazer experimentos, usar para entretenimento ou abusos de qualquer outra ordem. No mundo atual, onde há virtualmente chances ilimitadas (em substituição à utilização dos animais), qualquer exploração animal é simplesmente inaceitável – seja ela uma ave utilizada para fornecer penas, um boi usado para carne ou qualquer produto que ajude a manter em funcionamento essas indústrias abusivas. Milhões de bovinos abatidos para extrair seu couro padecem dos horrores da criação industrial. São confinados em espaços bastante lotados e privados de tudo o que é natural e importante para eles. São castrados, marcados com ferro quente e têm seu rabo e chifres removidos, tudo sem analgésicos. No fim de suas curtas e miseráveis vidas, esses animais ficam atordoados (após serem golpeados) e são pendurados de cabeça para baixo e despelados.
O couro é o subproduto mais valioso da indústria da carne. Isso significa que ele é um contribuinte direto para os horrores do sistema de criação industrial e o abate de milhões de animais a cada ano. Animais assassinados para fornecer alimento aos humanos morrem assistindo a outros em frente a eles também sendo sacrificados, antes de receber um (tiro de pistola) na cabeça e serem suspensos de cabeça pra baixo, e tendo sua garganta cortada, muitas vezes enquanto ainda estão conscientes. A melhor coisa que alguém pode fazer pelo meio ambiente e para interromper o sofrimento dos animais é tornar-se vegano.