A CPFL Energia, maior grupo privado do setor elétrico brasileiro, divulgou em junho o Relatório Anual 2013, disponível no portal. A publicação segue as diretrizes internacionais da Global Reporting Initiative (GRI) e, pela primeira vez, do International Integrated Reporting Council (IIRC), incorporando elementos do relato integrado.
A empresa também anunciou em 2013 a criação da Plataforma de Sustentabilidade que, por meio de temas e metas estratégicas, permitirá à CPFL Energia maior capacidade para gerenciar a sustentabilidade em suas iniciativas e projetos, além de novas oportunidades de crescimento e agregação de valor. No total, 11 temas compõem a base para a nova estratégia, dos quais seis serão priorizados no momento: relacionamento com clientes; gestão da cadeia de valor; ecoeficiência; gestão de impactos socioambientais; desenvolvimento comunitário; e saúde e segurança.
O compromisso com a sustentabilidade empresarial também se reflete na adesão da CPFL Energia ao Programa Piloto do Relato Integrado. Coordenado pelo IIRC e reunindo mais de 100 empresas de 25 países, a iniciativa tem como principal objetivo redefinir a comunicação das informações relevantes das corporações, relacionando as estratégias de negócio e os resultados obtidos nos campos econômico-financeiro e socioambiental.
O grupo tem investido pesadamente em energias limpas e renováveis, por meio da CPFL Renováveis, maior geradora do país, a partir de fontes alternativas – usinas eólicas, pequenas centrais hidrelétricas (PCH), térmicas a biomassa e solar. Depois de captar mais de R$ 900 milhões com a abertura de capital, em 2013, encerrou o ano com capacidade instalada de 1,283 mil MW.
A seguir, a íntegra da entrevista concedida por Rodolfo Nardez Sirol, diretor de Meio Ambiente da CPFL Energia, à PÁGINA22.
Por que a CPFL decidiu adotar as diretrizes do relato integrado para comunicar seu desempenho em 2103?
Entendemos que as diretrizes desenhadas pelo IIRC [International Integrated Reporting Council] vêm ao encontro dos anseios de acionistas, investidores e da diretoria da CPFL em mostrar mais adequadamente como a empresa gera valor para todos seus stakeholders e como planeja fazê-lo, no longo prazo. Portanto, em 2013 decidimos integrar o grupo de empresas piloto do IIRC. No Relatório Anual 2013 não utilizamos toda a estrutura proposta pelo IIRC, mas apenas alguns elementos. Por exemplo, o modelo de negócio, a visão de longo prazo e a discussão por meio dos seis tipos de capital. Foi um primeiro exercício, mas estamos certos de que conseguiremos implementar a estrutura conceitual em sua plenitude, com o apoio dos acionistas e do presidente.
A empresa acredita que a integração de dados contábeis com os socioambientais e de governança poderá contribuir para que os analistas financeiros controlem riscos e oportunidades, na condução dos negócios?
Sem dúvida. Vem se tornando frequente a CPFL ser procurada por empresas de rating ESG [sigla em inglês para informações ambientais, sociais e de governança] e analistas de bancos que se utilizam dessas ferramentas para melhor aferir riscos e visualizar oportunidades. Na sociedade contemporânea, não há mais espaço para as empresas que não buscam evitar os impactos socioambientais ou mitigá-los adequadamente. Isso afeta consideravelmente o caixa vis-à-vis à construção de grandes obras hidrelétricas no país, que vêm exigindo somas astronômicas adicionais ao planejado no início. Veja o exemplo das hidrelétricas do rio Madeira (Santo Antonio e Jirau) que gastarão mais que o dobro do que foi orçado. Essas despesas não planejadas podem chegar a mais de R$ 1,5 bi. Com isso, investidores e a sociedade em geral começam a exigir a demonstração da inter-relação entre os diferentes capitais descritos pelo IIRC. Os investidores estão preocupados com a geração de valor no longo prazo. Esse movimento, iniciado principalmente por fundos de pensão, pode ser percebido em vários momentos, por exemplo, com as exigências socioambientais de bancos de fomentos, green e socialbonds etc.
O que a CPFL tem feito na direção do relato integrado?
Gostaria de esclarecer um ponto. Muitas empresas veem o relato integrado como um relatório adicional ao de sustentabilidade ou que venha a substitui-lo. Uma peça de comunicação anual consolidadora é importante para as partes interessadas, mas trata-se de um processo, ou seja, de incutir a integração de informações de ESG na rotina da companhia. Isso requer capacitação e disciplina de todas as áreas da empresa, além do patrocínio da alta direção.
Primeiro, nos integramos às empresas pilotos e participamos de grupos de trabalho do IIRC. Estamos nos capacitando. Então, fizemos um planejamento para internalizar o tema, que consiste na criação de um Grupo de Validação (diretores) e um Grupo de Trabalho (gerentes e analistas), inúmeros encontros desses grupos e da alta liderança com especialistas, entre eles, Vania Borgerth (assessora da presidência para assuntos de transparência do BNDES), Gustavo Pimentel (diretor da Sitawi – especialista em análise ESG), Banco Itaú, e Pavan Sukhdev (grande especialista em valoração de externalidades). Também contratamos consultorias para nos apoiar nessa tarefa.
Em que medida as diretrizes propostas pelo Conselho Internacional para Relatos Integrados podem contribuir, na prática, para ajudar a empresa a aprimorar seu relato corporativo?
A estrutura desenhada pelo IIRC para estabelecer o processo de integração nos traz caminhos claros a serem seguidos para a efetiva comunicação do modelo de negócio da empresa, o impacto nos diversos capitais (financeiro, manufaturado, humano, social e de relacionamentos, e natural), a apresentação da estratégia no curto e no longo prazo, entre outros aspectos. Portanto, orienta uma nova forma de demonstrar aos acionistas e à sociedade como protegemos e agregamos valor, ao longo do tempo, a todos os grupos de relacionamento.
Quais as principais vantagens de se integrar a comunicação de resultados aos públicos de relacionamento? Nesse processo, quais são os desafios?
Os públicos estratégicos das empresas terão a oportunidade de ter uma visão mais completa da organização, em um único documento. Por exemplo, as empresas que estão listadas na bolsa de Nova York devem publicar o relatório de riscos (20F); informações e resultados gerais podem ser encontrados em relatórios de administração, relatórios anuais e a visão de futuro da empresa estão nos planejamentos estratégicos. A estrutura proposta pelo IIRC pretende trazer de forma concisa as informações relevantes desses relatórios.
O exercício rumo à integração demanda uma grande interação entre diversas áreas. Com todas à mesa, a empresa só tem a ganhar. Com a frenética rotina das corporações, poucas áreas conseguem ter uma visão integral. Portanto, esses momentos são muito ricos para trocas entre os profissionais. O conhecimento gerado pode resultar em maior eficiência nos processos ou em novos projetos.
Com o foco na integração, avalia que a CPFL tem conseguido melhorar a linguagem dos relatos? A seu ver, qual seria a abordagem mais adequada para assegurar clareza e objetividade, como requer o RI, na divulgação dos resultados?
Ainda é cedo para tirarmos conclusões, considerando que a CPFL iniciou o processo de integração no início deste ano. Mas podemos dizer que a busca pelo enquadramento à estrutura do IIRC e às diretrizes da GRI G4 trouxeram um novo ânimo para elaboração do relatório anual da companhia. O IIRC, pelo racional de modelo de negócios, os riscos e as oportunidades, além da estratégia de geração de valor; e a GRI G4, pela nova proposta de relacionamento com os públicos.
Mas, em nossa opinião, foco estratégico e materialidade são duas diretrizes fundamentais para manter a clareza e a objetividade na divulgação dos resultados.
Acredita que a integração também facilitará a divulgação periódica (trimestral, por exemplo) das informações socioambientais?
Não acredito que esse seja o caminho. A proposta é trazer a integração ao dia a dia da empresa, dos processos às decisões estratégicas, e, além disso, ter um fluxo constante de informações materiais aos diversos públicos. Não estamos falando apenas de ter um disclosure trimestral ou anual.
O relatório integrado também pode contribuir para uma maior veracidade das informações não financeiras, mais conectadas ao negócio?
Grande parte das empresas, como a CPFL, realiza a verificação externa das informações contidas nos relatórios anuais por meio de empresas de auditoria. Portanto, essas informações passam por um acurado processo de validação, antes de serem divulgadas.
Quais são os critérios básicos para elaborar o conteúdo do RI?
A estrutura do IIRC definiu como princípios básicos: foco estratégico e orientação para o futuro; conectividade da informação; relações com partes interessadas; materialidade; concisão; confiabilidade e completude, além de coerência e comparabilidade.
Entendo que as empresas já trabalhavam boa parte desses pontos, mas os grandes desafios estão na conectividade das informações. Para isso, exige-se um relacionamento estreito e frequente das diferentes áreas. No trabalho diário, isso também requer disciplina e orientação da alta liderança.
Como a gestão integrada pode facilitar, na prática, a divulgação de informações financeiras e socioambientais no modelo de relato integrado?
A gestão integrada é essencial para a efetividade da divulgação de informações, segundo a estrutura proposta pelo IIRC. Sem ela, o processo continuará como é feito em muitas empresas: uma grande mobilização de equipes, em determinada época do ano, para reunir informações que têm pouca conectividade com os públicos. Ou seja, uma bela peça de marketing que não é lida por ninguém. O processo de relato tem que fazer parte da gestão da empresa e o relatório, um espelho disso. Um processo natural da interação com investidores e demais públicos, ao longo do ano.
Como definir os temas mais relevantes para relatar? O engajamento de stakeholders segue como uma boa prática, no diálogo com os públicos estratégicos?
Sem dúvida, mas gostaria de esclarecer o que a CPFL Energia entende por engajamento de stakeholders. Há uma prática muito comum de, anualmente, montar um painel de stakeholders para definir os temas materiais, visando à elaboração de relatórios anuais ou de sustentabilidade.
Temos alguns pontos a considerar nessa tratativa. Primeiro, em geral, os temas materiais não se alteram num espaço de tempo tão curto. Segundo, as empresas já possuem inúmeros canais de interação com os diversos públicos, sendo que a frequência dessa interação é, na maioria dos casos, muito maior do que apenas uma vez ao ano. Portanto, entendemos que os princípios de inclusão, de relevância e de responsabilidade, como preconizados pela norma AA1000, devam ser processuais, e não apenas para cumprir uma etapa no desenvolvimento dos relatórios. Além de considerar a ótica dos públicos, é necessário incorporar nessa definição a estratégia de negócios.
Integrar não é uma tarefa fácil. Vale a pena seguir com esse desafio?
De fato, não é uma tarefa fácil, e existem muitas dúvidas sobre o processo. Por exemplo: como valorar? quais critérios e métricas adotar? como definir limites? Mas certamente o desafio vale a pena sim, para a prosperidade e a perenidade das empresas.
Há algum outro aspecto que gostaria de comentar?
Destacaria o desafio da comparabilidade como princípio básico para preparação do relato integrado. As empresas têm compartilhado aprendizados e desafios desse processo, mas entendemos que existe uma grande oportunidade de mobilização setorial, trabalho conjunto e efetivo de empresas com similaridade nos negócios e atividades e que, portanto, podem ter riscos e oportunidades (materialidade) comuns.
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Sobre a CPFL Energia
Há 101 anos presente no setor elétrico, a CPFL Energia atua nos segmentos de distribuição, geração, comercialização e serviços. Líder no mercado de distribuição, com 13% de participação, mais de mais de 7 milhões de clientes nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná. Na comercialização, conta com cerca de 9% de participação no mercado livre. Na geração, é o segundo maior agente privado do país, com base em matriz energética limpa e renovável.
A CPFL Geração conta com 2.234 MW de potência instalada, considerando sua participação equivalente em cada um dos ativos de geração. Em 2011 criou a CPFL Renováveis, com ativos como PCHs, parques eólicos, termelétricas a biomassa e a usina solar Tanquinho, pioneira no estado de São Paulo, e uma das maiores do Brasil. Considerada a participação equivalente na CPFL Renováveis, a capacidade instalada total do Grupo CPFL atingiu 2.988 MW no final de 2013.
A CPFL Energia tem ações listadas no Novo Mercado da BM&FBovespa e ADR Nível III na Bolsa de Valores de Nova York (New York Stock Exchange – NYSE), além participar do Dow Jones Emerging Markets Index. Pelo nono ano consecutivo, as ações da companhia integram a carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da BM&FBovespa.