As transformações e impactos que ocorrem na vida da população local com a chegada de um grande projeto precisam ser observados para que haja oportunidades de desenvolvimento para o território. Quando não há informação clara e antecipada para a comunidade, dificilmente se toma uma decisão que reflete uma agenda de futuro comum, diminuindo assim a possibilidade de acordos e diálogos que possibilitem não só o desenvolvimento local, mas um processo de instalação e operação do empreendimento mais justo e eficiente.
O projeto Diálogo Tapajós surge com o objetivo de contribuir para que a população que reside no trecho do rio Tapajós (Pará), que irá receber uma série de hidrelétricas nos próximos anos, se organize e tome decisões fundamentadas ainda enquanto o empreendimento está em etapa de estudo de impactos na região. O processo é feito por meio de oficinas, que visam à divulgação e troca de informação entre os atores locais e os técnicos a cargo dos estudos, potencializando redes de comunicação e interação social. Faz parte também do projeto a produção e distribuição de materiais de comunicação sobre todas as etapas dos empreendimentos, com linguagem e outras características estéticas e de conteúdo pensadas a partir da cultura local.
Como o projeto é viabilizado por um consórcio de empresas que são potenciais empreendedores na região, a existência de algum tipo de conflito de interesses entre essas empresas e a comunidade local foi debatida durante a oficina da iniciativa Inovação em Desenvolvimento Local. Débora Proença, integrante da equipe do Consórcio Tapajós, respondeu que “quem contrata a gente nem sempre são os mesmo que estão construindo, pode ser o órgão que quer realizar o estudo, mas de antemão deixamos claro que a regra para a saída do jogo é a liberdade de atuação. Nós não preparamos para a audiência pública, é mais um trabalho de inserir os estudos. A nossa missão é fazer circular a informação”.
Isso não significa, contudo, que a equipe responsável pelo projeto não têm outros desafios, como a predominância – ainda que com a população informada – de aspectos técnicos e econômicos do projeto sobre os sociais e ambientais, e a resistência de lideranças locais que já passaram por experiências anteriores de tentativa de diálogo com empresas que planejam a sua chegada à região.
Milene Fukuda