No período de 3 a 5 de novembro tive o privilégio de participar de um grupo convidado pela Natura para visitar uma de suas comunidades fornecedoras e sua planta industrial em Benevides, no estado do Pará.
Formado por 31 pessoas ligadas aos temas de comunicação, moda e sustentabilidade, este grupo pôde ver de perto a execução de um modelo de negócios ousado, complexo e inspirado pela possibilidade de transformar os desafios do desenvolvimento sustentável em oportunidades de criação de valor compartilhado.
No primeiro dia chegamos em Belém no início da tarde, ainda em tempo de uma rápida visita a lugares que expressam os encantos desta cidade alegre, acolhedora e fortemente influenciada pelo convívio com a floresta amazônica, da qual herdou ingredientes que são base para uma culinária que explode em aromas e sabores.
Na manhã do segundo dia, após três horas de carro em estradas com asfalto precário ou mesmo de terra, começamos a experimentar um pouco da complexidade de uma cadeia de valor que optou pelo uso sustentável de ativos da sociobiodiversidade. Ativos como murumuru, açai, cupuaçu, castanha do Brasil e andiroba, que são fornecidos por cerca de três mil e quinhentas famílias organizadas em 35 comunidades, das quais 25 na região amazônica, como é o caso da Associação Jauarí, que há oito anos se relaciona com a Natura. Localizada nas margens do rio Moju, caudaloso como só os rios da Amazônia sabem ser, esta comunidade nos proporcionou uma experiência inesquecível do que a Natura chama de bem estar bem, ou seja, o convívio harmonioso consigo mesmo, com os outros e com o mundo à nossa volta.
Entre caminhadas na mata, banho de rio, alimentação saudável, dança do carimbó e conversas com significado, nosso grupo conheceu pessoas que têm clareza do que é liberdade e, por isso, optaram por um modelo de desenvolvimento que lhes permite viver com dignidade e em estreita sintonia com o ambiente em que estão inseridas.
Se a ida para a comunidade de Moju revelou os obstáculos logísticos do transporte rodoviário, a volta para Belém nos mostrou a faceta da imprevisibilidade com a qual esta cadeia de valor convive. Foram duas correias de motor quebradas em uma viagem de barco que durou cerca de cinco horas.
O terceiro e último dia começou ainda mais cedo e teve como destino a unidade fabril da Natura. Inaugurada em março deste ano, esta fábrica é parte de uma iniciativa complexa e ambiciosa denominada pela Natura de Programa Amazônia, o qual possui três pilares: ciência, tecnologia e inovação com foco nos ativos provenientes da floresta; cadeias produtivas que agregam valor aos recursos da região e fortalecimento institucional pautado nos desafios prioritários para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Fundamentada no conceito de simbiose industrial a fábrica de Benevides é o embrião do Ecoparque, um empreendimento que se propõe a abrigar empresas que, junto com a Natura, estabeleçam uma rede comprometida com o uso sustentável da biodiversidade da região. Entre as práticas desta rede espera-se que os resíduos de uma empresa sejam utilizados como matéria prima por outra, com se dará na relação entre Natura e Symrise (www.symrise.com), uma das empresas que já decidiu se estabelecer no Ecoparque.
Dedicada exclusivamente à produção de sabonetes, esta unidade da Natura emprega 228 colaboradores e 130 funcionários terceirizados, dos quais cerca de 90% são originados dos municípios do entorno. Para esses que já ocupam o Ecoparque, chama atenção alguns elementos deste condomínio industrial, como os jardins filtrantes que processam 50% dos resíduos industriais e o sistema de refrigeração, que faz uso de tubos subterrâneos pelos quais circula água de chuva capturada em diferentes pontos, como nas estruturas de convivência.
Após três dias intensos e inspiradores, em que reencontrei colegas e fiz novos, deixei Belém com muitas lembranças. Nenhuma maior do que o sorriso das crianças a jovens que conheci às margens do rio Moju. Sorrisos que reforçaram em mim a convicção de que negócios podem, e devem, estar a serviço de propósitos e valores.
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Paulo Branco