POR ELAINE CARVALHO
No mundo inteiro, as oficinas de engenhocas crescem em quantidade e público. O “aprender fazendo” possibilita desenvolver nas crianças habilidades valorizadas no século XXI: capacidade de criar, de ser propositivo e de desenvolver soluções compartilhadas usando a tecnologia.
Por isso, os Estados Unidos transformaram algumas de suas bibliotecas em makerspaces: espaços para pôr a mão na massa e fazer experimentações transdisciplinares. No Brasil, os 69 centros binacionais (institutos culturais de ensino do inglês e da cultura americana) estão fazendo o mesmo.
Áreas de leitura serão preservadas, mas não serão as únicas alternativas. “Uma bancada no canto de uma escola ou biblioteca pode ser considerada um makerspace se tiver ferramentas simples de criação”, explica a especialista em tecnologia educacional Daniela Lyra, da Casa Thomas Jefferson, centro binacional de Brasília que oferece atividades desse tipo.
No Canadá, um grupo de entusiastas criou um Makerbus, laboratório ambulante que dissemina tecnologias hands on (impressoras 3D, drones, softwares livres) para o público interessado e também para professores e bibliotecários. Eles também mostram como criar ambientes de experimentação com menos de 500 dólares.
Embora o interesse por colocar a mão na massa tenha sido impulsionado pela internet, pelas tecnologias digitais e de código aberto, recursos artesanais são igualmente válidos porque o que se aprende vai muito além da técnica. Tem a ver com motivação, estabelecer relações de colaboração, execução de projetos que façam sentido para cada participante; mesmos caminhos apontados por Paulo Freire e Jean Piaget para uma educação transformadora.
Nas oficinas dadas pelo artista e professor Glauco Paiva na rede Sesc, ele fornece brinquedos velhos, sucatas e quinquilharias de R$ 1,99 para serem desmontadas e recriadas. “O efeito é viral. A meninada leva a referência para casa e lá continua criando e ensina os amigos. Tudo o que eles precisam é de um adulto que abra caminho para esse autodidatismo”, diz.
A vivência também desperta uma nova relação com os objetos, de reflexão sobre o material do qual eles são feitos, seu funcionamento, vida útil, e de afeto. “Eles se empolgam mais com um brinquedo que fizeram que com os comprados”, percebe Paiva.
Pensamento lógico e crítico
No computador, o empoderamento se dá quando se sabe programar, um modo de criar “fluência” nesta linguagem que, estima-se, será universal em até 50 anos. Ao mesmo tempo em que ajuda a pensar de maneira lógica e sistemática, a programação estimula a criatividade e o pensamento crítico. “As pessoas aprendem não só a criar soluções para seus desafios cotidianos, como também desenvolvem competências e habilidades que podem lhes ser úteis na vida pessoal e profissional”, justifica Lucas Machado Rocha, coordenador de projetos da Fundação Lemann.
Em setembro de 2014, a Fundação lançou o didático Programaê, que reúne os melhores sites autoexplicativos de programação da internet. O esforço foi para disseminar as ferramentas entre alunos e professores vem dando certo. Cinco mil alunos de escolas públicas aderiram, nas cidades de São José dos Campos, Itaquaquecetuba, Elisário (SP), Bombinhas (SC) e Duque de Caxias (RJ). Juntos, os sites do Programaê dos parceiros contabilizam 300 mil acessos mensais.