Por Amália Safatle
Investidores com mais de 625 bilhões de euros em carteira fizeram um cerco às montadoras. Reunidos em uma coalizão, solicitam que as empresas esclareçam suas políticas de emissões de gases de efeito estufa e de poluentes – episódio que se segue ao escândalo da Volkswagen, que fraudou testes sobre emissões e qualidade do ar em seus veículos a diesel.
Os 19 investidores da coalizão escreveram cartas a 11 grandes montadoras solicitando detalhes específicos sobre o posicionamento das empresas sobre os padrões de emissão de CO2 propostos na União Europeia, relacionados com os gases de efeito estufa e eficiência energética (Corporate Average Fuel Economy-CAFE) nos Estados Unidos.
A iniciativa foi coordenada pelas organizações sem fins lucrativos ShareAction e InfluenceMap, que analisam e classificam o posicionamento das empresas em relação ao clima.
Para nove empresas – Volkswagen, BMW, Honda, Daimler, General Motors, Ford, Fiat, Peugeot e Toyota – os investidores pediram informações detalhadas sobre o posicionamento de lobby que estão assumindo no que tange à legislação de emissões em debate hoje nos Estados Unidos e na União Europeia.
Eles também pedem mais informações sobre as interações das empresas com o processo de regulamentação dessas normas, seus gastos com associações de classe e também maior clareza e abertura sobre as atividades da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (Acea) – associação de classe que foi descoberta obstruindo o progresso da regulação das emissões de automóveis na União Europeia.
Estas áreas foram identificadas pelo InfluenceMap, que analisa e classifica as empresas por sua influência sobre as políticas relacionadas com as mudanças climáticas segundo as áreas nas quais as empresas não reportam detalhes suficientes. Essas áreas podem ser cruciais para que os investidores prevejam futuras crises como a da Volkswagen.
Outra carta foi enviada para a Nissan e a Renault, reconhecendo o seu bom desempenho no que se refere às emissões de CO2 da frota da União Europeia, e incentivando o CEO dessas empresas, Carlos Ghosn, a dialogar mais, especialmente agora que ele preside a Acea.
Seb Beloe, sócio e chefe do setor de pesquisas do WHEB Group, um dos investidores membro da coalizão, afirma: “A crise da Volkswagen tem ajudado a descobrir a estreita e pouco saudável relação entre a indústria automotiva e os reguladores, em particular na Europa. No longo prazo, isso prejudica a competitividade dos fabricantes de automóveis europeus e acreditamos que é do interesse tanto dos investidores como do meio ambiente obter uma melhor compreensão do que se passa por trás de portas fechadas”.
Destacando o drástico efeito no preços das ações da montadoras provocado pelo escândalo, a presidente da ShareAction, Catherine Howarth, diz que a organização tem o prazer de auxiliar investidores institucionais a obter informações relevantes sobre os riscos aos quais os maiores fabricantes de automóveis do mundo estão expostos em seus relacionamentos com órgãos reguladores e políticos.
A ShareAction é um movimento baseado no Reino Unido para o Investimento Responsável.
Saiba mais em http://influencemap.org/report/Automotive-Report-October-2015.
Os investidores que apoiam as cartas são:
AXA Investment Managers, Environment Agency Pension Fund, Second Swedish National Pension Fund/ AP2, Third Swedish Pension Fund/ AP3, Fourth Swedish Pension Fund/ AP4, Seventh Swedish Pension Fund/ AP7, Menhaden Capital, WHEB Group, Ilmarinen Mutual Pension Insurance Company, Öhman, The Joseph Rowntree Charitable Trust, The LankellyChase Foundation, Barrow Cadbury, Christopher Reynolds Foundation, Zevin Asset Management, Tellus Mater Foundation, Dignity Health, Sisters of St. Francis of Philadelphia, Northwest Coalition for Responsible Investment.