Usar bicicletas para fazer entregas é o negócio da Courrieros. Criada há menos de 3 anos, a empresa aproveita o filão crescente das magrelas
A busca por melhoria da mobilidade urbana é boa não apenas para a qualidade de vida nas cidades com para a redução de gases associados à mudança climática [1] e à poluição causadora de doenças respiratórias. Ela é ótima também para os negócios da Courrieros, empresa de São Paulo que se diferencia como inovadora por usar bicicletas e veículos elétricos para prestar serviço de entregas, dentro do conceito de logística urbana sustentável. “Depois de visitar um amigo em Nova York e conhecer a novidade lá, certo dia decidi eu mesmo entregar de bike um documento do trabalho e percebi o potencial do filão”, revela o empresário Victor Castello Branco. Foi a senha para o administrador de empresas largar o mercado financeiro e investir todas as fichas no apelo da sustentabilidade, ao lado ao sócio, o advogado André Biselli, amigo de infância.
[1] No município de São Paulo, o transporte é o principal gerador de gases do efeito estufa no setor de energia, que corresponde a 81,9% das emissões totais
Ter uma atividade condizente aos valores e estilo de vida da dupla é um sonho da adolescência agora realizado. Mas montar o negócio exigiu muito mais do que juntar meia dúzia de ciclistas dispostos a pedalar pela cidade. “Logo de início, em 2012, percebemos que a maior dificuldade estaria na mão-de-obra e fizemos disso nosso diferencial”, conta Victor, ao detalhar o rígido processo de seleção e treinamento dos entregadores, que vai desde o preparo físico e o senso de localização na cidade até o modo de se comportar no trânsito e lidar com clientes – capricho importante no ramo do delivery.
Um aplicativo de celular, desenvolvido pela empresa, facilita a comunicação e permite rastrear o deslocamento do entregador no mapa da cidade. Hoje com 41 ciclistas que pedalam em média 8 horas por dia (70 a 80 quilômetros), a Courrieros cobre a região das avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini, principais centros financeiros da capital paulista, abrangendo basicamente três categorias de atendimento: as entregas de e-commerce programadas, os serviços esporádicos e os fixos em que os ciclistas ficam alocados em restaurantes, drogarias ou cartórios. No total, são 140 clientes que associam a imagem às questões ambientais, detalhe que faz toda a diferença frente os principais concorrentes: as empresas de motoboy.
Para entrega de bike, além da Courrieros, só existem mais três, que seguem modelos diferentes. Na concorrência com o serviço de motoboys, as pedaladas são competitivas. “Com bicicletas, o tempo e o preço médio da entrega (40 minutos/R$ 25) são equivalentes aos das motos”, informa Victor. O maior argumento está quesito ambiental: quando se considera todos os impactos, inclusive o da necessidade de alimentação para o ciclista repor as energias, o uso da bicicleta e não da moto deixa de emitir 113 gramas de dióxido de carbono em cada 100 quilômetros. O valor exato da economia de emissões (média de 0,5 quilo em cada 5 quilômetros) é registrado no envelope da entrega, juntamente com um selo dizendo “obrigado pelo passeio de bike”.
Em São Paulo, o número de adeptos da bicicleta cresceu 50% entre 2013 e 2014 um ano, de acordo com pesquisa do Ibope. No período, a cidade ganhou 86,1 mil ciclistas
A expectativa do empresário é de pelo menos dobrar em 2016 o atual faturamento de R$ 1 milhão por ano, com o aumento do número de bikes e o uso de motocicleta elétrica, o que permitirá a cobertura de bairros mais distantes, via integração dos dois modais. Inovar para expandir o serviço em novas áreas da cidade e vencer as distâncias será sempre o maior desafio de agora em diante, na análise do empresário.
Chegar a outras capitais também faz parte do plano: em maio deste ano o negócio foi expandido para o Rio de Janeiro, onde é expressiva a cultura da vida saudável. “Os recentes investimentos públicos em ciclovias nas cidades, apesar de alguns erros, estão estimulando novos hábitos e dando visibilidade ao ciclista, que passa a ser mais respeitado e reconhecido pela contribuição ao meio ambiente”, afirma Victor, otimista com o futuro do negócio. “É um caminho sem volta”.
FICHA – Courrieros
Setor: Transporte e logística
- Microempresa
- Setor: Transporte (bike entrega)
- Faturamento 2015: R$ 841.000
- Funcionários: 51
- Fundação: 2012
- Principais clientes: NetShoes, Nike, Walmart, Odebrecht, Promon Engenharia, Chocolat Du Jour
O que faz: Empresa de logística urbana sustentável que usa bicicletas e outros modais elétricos para realizar entregas, dentro do conceito de “ecolivery”
Inovação para sustentabilidade
São uma alternativa de baixo carbono aos serviços prestados por outras empresas de entregas, como os motoboys, que emitem gases de efeito estufa em seus deslocamentos. Com a mesma rapidez das motos, o ciclista da Courrieros evita que 113 gramas de CO2 sejam emitidos a cada 100 quilômetros percorridos, de acordo com estimativas da empresa.
Potencial de replicação e escalabilidade
Planejam a ampliação da área de cobertura em São Paulo para bairros mais afastados da região central, mediante a integração de bikes e motocicletas elétricas. Recentemente, expandiram suas operações para o Rio de Janeiro. Usufruem dos investimentos recentes em ciclovias nas duas cidades para otimizar seu tempo e raio de entrega.
Destaques de gestão
Como os principais desafios são a segurança dos entregadores e a qualidade do atendimento, a empresa mantém um rígido processo de seleção, contratação e acompanhamento dos entregadores. Realizam ações de integração com os bikers para acompanhar suas queixas e sugestões e identificar melhorias no atendimento aos clientes. Oferecem bicicletas e equipamentos de primeira linha a seus funcionários. Possuem ações de viés social, como o trabalho com jovens de baixa renda.