Metade das espécies de plantas e animais pode enfrentar risco de extinção nas próximas décadas por conta das alterações no clima global, aponta novo relatório
Quando pensamos em efeitos da mudança do clima sobre a fauna e a flora da Terra, a cena mais comum é a do urso polar (que, inclusive, ilustra este post) – afinal, esta espécie sofre séria ameaça de extinção por causa do degelo no Polo Norte, seu habitat natural. No entanto, as perdas potenciais de diversidade biológica decorrentes do aquecimento do planeta não se resumem apenas ao urso polar: até metade das espécies de plantas e animais em áreas ricas em biodiversidade, como a Amazônia e as Ilhas Galápagos (Equador), podem enfrentar a extinção até o final do século XXI devido às mudanças nos padrões climáticos terrestres.
Essa constatação foi feita por um estudo pioneiro publicado na última quarta (14/3) pelas Universidades de East Anglia (Inglaterra) e James Cook (Austrália) e pelo WWF International na Revista Climatic Change. A pesquisa examinou o impacto da mudança do clima em quase 80 mil espécies da fauna e flora em 35 das áreas mais diversas e ricas em vida selvagem em todo o mundo, explorando diferentes cenários futuros de aquecimento, inclusive o de aumento da temperatura média global em 2 graus Celsius até 2100, que é o teto máximo definido pelo Acordo de Paris.
De acordo com o estudo, as áreas mais afetadas pelos efeitos da mudança do clima sobre a biodiversidade são as florestas do Miombo, na África Austral, o sudoeste da Austrália e as Guianas da Amazônia. Em um cenário de aquecimento de 4,5 grau Celsius até o final deste século, o clima destas regiões se tornaria problemático para muitas espécies da fauna e flora locais – algumas delas, endêmicas, não teriam condições de migrar para outros lugares. Nesse cenário mais dramático de aquecimento, por exemplo, a Amazônia poderia perder quase 70% de suas espécies de plantas.
O impacto da perda de biodiversidade vai muito além do desaparecimento de espécies da fauna e flora. Por exemplo, a extinção de espécies na Amazônia poderia levar consigo possíveis soluções medicinais ainda desconhecidas pela ciência.
“A biodiversidade tem um valor intrínseco e a perda de vida selvagem dos lugares naturais e mais espetaculares do mundo nos deixará mais pobres”, aponta o relatório. “Em alguns casos, existem implicações econômicas e sociais evidentes – a extinção local de espécies emblemáticas pode acabar com possíveis oportunidades de turismo, enquanto o desaparecimento de uma planta endêmica que não consegue acompanhar a rápida mudança do clima pode levar com ela um potencial avanço na medicina”.
Para Rachel Warren, pesquisadora do Centro Tyndall sobre Mudança do Clima (EUA), uma das responsáveis pelo estudo, a necessidade de ação para conter as emissões de gases de efeito estufa e seu impacto sobre o clima global é evidente para a preservação da vida selvagem em diversas partes do mundo. “Estudamos 80 mil espécies de plantas, mamíferos, aves, répteis e anfíbios e descobrimos que 50% delas poderiam ser perdidas nessas áreas sem política climática. No entanto, se o aquecimento global for limitado a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, isso poderá ser reduzido para 25%”.
Na mesma linha, Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil, reforça a necessidade de ação imediata e efetiva contra a mudança do clima. “Os dados são alarmantes e as consequências estão cada vez mais próximas”, afirma Voivodic. “Para garantir a sobrevivência das espécies, é fundamental diminuirmos as emissões globais, com mais ambição nas metas do Acordo de Paris, reduzirmos a pressão sobre as florestas, aumentarmos as áreas de proteção ambiental e de conectividade entre elas. Sem isso, a biodiversidade está em risco e a nossa qualidade de vida também”.
O relatório completo em português está disponível aqui.
Hora do Planeta 2018
A publicação do estudo marca o começo da mobilização internacional para a Hora do Planeta 2018, que acontecerá em 24 de março, às 20h30. Neste dia, milhões de pessoas em todo o mundo apagarão suas luzes para demonstrar seu compromisso em torno de um futuro sustentável.
Para Tanya Steele, do WWF britânico, a mobilização em torno da Hora do Planeta expressa a vontade das pessoas em todo o mundo de enfrentar os problemas ambientais contemporâneos. “Ao longo da vida de nossos filhos, lugares como a Amazônia e as Ilhas Galápagos podem tornar-se irreconhecíveis, com a metade das espécies que vivem lá destruídas pelas mudanças climáticas causadas pelo homem. É por isso que nesta Hora do Planeta pedimos a todos que façam uma promessa para o mundo e que promovam as mudanças diárias para proteger nosso lar – a Terra”.