Os negócios selecionados trazem soluções em agricultura e pecuária sustentável, manejo e produção florestal, produtos e serviços ambientais, educação para a conservação do meio ambiente, mitigação e adaptação à mudança do clima, entre outros
Por Mônica C. Ribeiro
Foto: Rodrigo Kugnharski / Unsplash
Selecionadas entre 201 inscritos, 15 iniciativas participarão do Programa em 2020 e já concorrem a investimentos de até R$ 800 mil durante uma rodada de negócios em dezembro deste ano. São eles: Academia Amazônia Ensina, Cacauway, Coex Carajás, Codaemj, Instituto Ouro Verde, ManejeBem, Na Floresta, NavegAM, Nossa Fruits, Oka, ONF Brasil, Prátika Engenharia, Serras Guerreiras de Tapuruquara, Taberna da Amazônia e Tucum.
Dos 15 selecionados, seis estão localizados no estado do Amazonas, quatro no Pará, dois no Mato Grosso, dois no Rio de Janeiro e um em Santa Catarina. Pela primeira vez a Chamada de Negócios abriu a possibilidade de inscrição para empresas sediadas em outras regiões do País, desde que estejam dispostas a abrir endereço na região Norte em até seis meses após o início do Programa.
As iniciativas se conectam com 14 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a Agenda 2030. Os negócios selecionados trazem soluções em: agricultura e pecuária sustentável, manejo e produção florestal, produtos e serviços ambientais, educação para a conservação do meio ambiente, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, entre outros.
“Além do aumento no número de negócios inscritos, a diversidade e qualidade dos negócios chamou atenção nessa segunda edição da Chamada da PPA. Os 201 inscritos vieram de 15 estados brasileiros, o que mostra como os empreendedores de impacto têm olhares voltados para a Amazônia nesse momento. A maioria dos inscritos se concentram, ainda, nos estados do Pará e do Amazonas, mas tivemos propostas vindas de todas as cinco macrorregiões do País”, avalia Mariano Cenamo, diretor de Novos Negócios do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e coordenador executivo da PPA.
Para Cenamo, a quantidade, a diversidade e a qualidade dos negócios inscritos são fatores que demonstram que o Programa de Aceleração da PPA, ainda em sua segunda edição, já se destaca como referência na região. “Foi difícil chegar aos 15 finalistas, mas estamos seguros que daqui surgirão soluções inovadoras para os problemas socioambientais mais urgentes da Amazônia. Muitos negócios de qualidade e potencial foram inscritos, demonstrando o grande interesse em participar do Programa. Acredito que o nosso grande diferencial é ser um programa da Amazônia para a Amazônia, ou seja, customizado de acordo com as necessidades daqui e cocriado com uma extensa rede de parceiros e com a primeira turma acelerada em 2019.”
A conexão que se criou entre os empreendedores participantes é um dos pontos altos da iniciativa. Além de se perceberem como parte de uma rede, trocam experiências e testam possibilidades de negócios entre si, potencializando a cultura amazônica e ativos de sua sociobiodiversidade. A expectativa é que esse grupo se una à nova turma que começa o Programa em 2020, e que essa rede cresça e se fortaleça a cada ano.
“Nós acreditamos no fortalecimento da economia da região Amazônica através do apoio a negócios com soluções de impacto e pautados pela sustentabilidade. O Programa de Aceleração da PPA é uma excelente oportunidade para fortalecer iniciativas inovadoras, que geram renda e valorizam a biodiversidade. São negócios com práticas inclusivas e justas, que preservam o meio ambiente e incrementam o desenvolvimento econômico de toda a região,” avalia Márcia Côrtes, gerente de sustentabilidade do Instituto Humanize.
Além de integrarem o Programa de Aceleração em 2020, os negócios selecionados participarão de uma rodada de negócios com investidores em dezembro deste ano, buscando aportes financeiros para demandas específicas de suas iniciativas, com possibilidade de obter até R$ 800 mil por negócio.
“O Programa de Aceleração é um modelo importante para a Amazônia, porque está preparando empreendedores e negócios sociais para terem um crescimento sustentável e, ao mesmo tempo, produzirem resultados envolvendo comunidades e preservando a floresta. Se queremos modelos que substituam uma economia da ilegalidade ou não sustentável, precisamos apoiar negócios, startups, ideias que seguem nessa direção. E esse programa está fazendo isso”, avalia Ted Gehr, diretor da Usaid Brasil, parceira estratégica da PPA.
A Chamada de Negócios PPA 2019 foi realizada pela Plataforma Parceiros pela Amazônia, com coordenação do Idesam, parceria estratégica e apoio financeiro de Usaid, Ciat, Instituto Humanize e Fundo Vale. Contou com a parceria da Pipe Social, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, Instituto Centro de Vida (ICV), Fundação Certi, Fundação Rede Amazônica, Fiimp, Sitawi, ICE, NESsT e Conexsus e apoio das seguintes empresas e organizações: Natura, Instituto Peabiru, Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam) Bemol, DD&L, Whirpool Cervejaria Ambev, Beraca, Agropalma, Abrapalma, Althelia e Grupo Rede Amazônica.
Conheça os negócios selecionados
Academia Amazônia Ensina (Manaus, AM)
Criada em setembro de 2018 com a ideia do fundador João Tezza de preparar estudantes de graduação e pós-graduação para novas habilidades do futuro, a Academia Amazônia tem a Floresta Amazônica como plano de fundo e foco principal. Oferece cursos, que contam em média com 15 alunos por turma, para difundir e discutir sustentabilidade, tecnologia, conservação meio ambiente e desenvolvimento econômico, com expedições para a floresta, nas quais os alunos participam de vivências sensoriais e se comprometem a desenvolver projetos para desenvolvimento sustentável na região. O público principal está nas universidades, centros de capacitação e empreendedores em diversos níveis.
Cacauway (Medicilândia, PA)
A Cacauway é uma iniciativa da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (Coopatrans), formada por um grupo de produtores de cacau de Medicilândia, quebrando o paradigma de serem fornecedores de matéria-prima (dentre as indústrias da região é a única liderada por uma cooperativa). Tem como missão produzir, industrializar e comercializar cacau e chocolate com alto padrão de qualidade, agregando valor e sustentabilidade à cadeia produtiva, proporcionando maior geração de renda aos cooperados. Já oferece cerca de 40 produtos em suas lojas, entre barras de chocolate, trufas, cacau em pó, nibs, amêndoas de cacau, geleias etc. De acordo com os empreendedores, o diferencial de seus produtos está no uso reduzido de manteigas ou aditivos na composição do chocolate além do trabalho/acompanhamento da produção, colheita e pós-colheita do cacau que gera amêndoas com qualidade superior.
Codaemj (Carauari, AM)
A Cooperativa de Desenvolvimento Agroextrativista e de Energia do Médio Juruá (Codaemj) foi fundada em 2003 e tem por objetivo a comercialização e a produção agroextrativista do Médio Juruá, garantindo geração de renda para os comunitários por meio de práticas sustentáveis e contribuindo para o fortalecimento da região. A cooperativa produz, vende e entrega óleos de sementes de andiroba, murumuru e ucuuba para a indústria de cosméticos. Já alcança 64 comunidades rurais de Carauari, envolvendo cerca de duas mil pessoas e 370 famílias, sendo as mulheres 70% dos cooperados. Indiretamente, em parceria com outras instituições, atua com 645 famílias e mais de quatro mil pessoas. A Codaemj também tem parceria com a associação de mulheres/mãe do Médio Juruá para apoio da atuação de 7 instituições no Médio Juruá que atuam na comunidade, desenvolvendo produtos derivados para uso cosmético e limpeza.
Coex Carajás (Parauapebas, PA)
A Cooperativa dos Extrativistas da Flona de Carajás (Coex Carajás) foi criada em 2011 com o nome Cooperativa Jaborandi, tornando-se Coex Carajás em 2011. Atua na Floresta Nacional de Carajás. Possui 39 cooperados e tem como missão gerar renda por meio da extração sustentável das folhas do jaborandi, matéria-prima para a formulação de produtos farmacêuticos, e da comercialização de sementes de outras espécies, atividade esta que já auxiliou na recuperação de aproximadamente mil hectares de floresta.
ManejeBem (Florianópolis, SC)
Fundada em 2016, a ManejeBem é uma empresa que oferece inteligência e soluções para o desenvolvimento da agricultura por meio de uma plataforma (aplicativo) de coleta de dados e diagnósticos, visando otimizar recursos técnicos e melhorar a produtividade de maneira sustentável. Fornece apoio no processo de certificações, técnicas de manejo, escala de produção e uso de técnicas sustentáveis. Atualmente, a ManejeBem roda um piloto no estado do Maranhão, com 75 produtores familiares, e pretende expandir e consolidar sua atuação na Amazônia. Possui também um site com mais de cinco mil pessoas cadastradas, tendo realizado mais de 20 mil horas de assistência técnica remota. Fornece serviços para plataformas europeias e americanas de compartilhamento e análises de dados agrícolas.
Na Floresta Alimentos Amazônicos (Manaus, AM)
Empresa criada em 2003, tem como principal produto o Chocolate Na’kau, produzido desde 2017 com cacau amazônico comprado de comunidades ribeirinhas agroextrativistas. Nasceu a partir da preocupação em conservar a floresta amazônica por meio do fornecimento de alimentos éticos e íntegros, incluindo os povos amazônicos. Hoje trabalha com oito famílias de produtores de cacau e outros 24 indiretamente impactados. Os produtores estão localizados nos rios Madeira e Amazonas, sendo uma unidade de conservação e um assentamento da reforma agrária, nos municípios de Manicoré, Nova Olinda, Novo Aripuanã e Borba.
NavegAM (Manaus, AM)
Startup de tecnologia fundada em 2018, promove vendas de passagens e transporte de cargas fluviais online e serviço de acompanhamento logístico rodoviário e fluvial na Amazônia. Sua plataforma online permite também a gestão de serviços e operações financeiras de transportadores/clientes locais, de dados e informações logísticas variadas como quantidade de pessoas, preços, vendas por agência etc. Atualmente, a NavegAM consiste em um módulo interno para embarcações, gerenciando informações de venda de passagens, e um aplicativo para efetuar a venda dessas passagens, tanto na própria embarcação quanto nas agências que oferecem essas passagens. A proposta da empresa é reduzir custos e democratizar o transporte de passageiros e cargas na Amazônia, viabilizando, assim, cadeias de valor estratégicas para a conservação da floresta.
Nossa Fruits (Curralinho, PA)
Fundada há cinco anos e localizada em Paris, na França, tem como foco os desafios enfrentados pela cadeia produtiva do açaí na Amazônia. Vende açaí brasileiro na Europa, sendo líder naquele mercado. Atualmente encontra dificuldades em desenvolver e estruturar sua cadeia de fornecimento para garantir 100% da matéria-prima de origem orgânica e produzida por comunidades de forma sustentável e com relações de comércio justas. Dessa forma, a empresa pretende construir uma fábrica de beneficiamento para intensificar as boas relações com comunidades produtoras, e assim controlar mais de perto a origem de seus produtos. O projeto da fábrica envolve parcerias com uma cooperativa local – Sementes do Marajó – proporcionando o aumento do preço pago aos produtores, financiamento de projetos sociais por meio de fundo comunitário, segurança do trabalho, entre outros.
OKA (Ananindeua, PA)
A OKA Juice é uma empresa de alimentos, fundada em 2018, que tem como missão ser referência nacional e internacional na produção de alimentos associados à preservação da Floresta Amazônica. Nasceu como opção de escala industrial para oferta de sucos com frutas nativas da Amazônia para o mercado nacional e internacional, e objetiva verticalizar a produção primária de frutas regionais. Produz sucos e néctares de frutas nativas da região como açaí, bacuri, cupuaçu, etc. utilizando açúcar demerara. Todo o ciclo produtivo é pensado de forma sustentável para que gere o mínimo de lixo e impactos negativos ambientais. Além dessa produção, a empresa também tem como objetivo atender a cadeia de uma ponta a outra, desde a produção dos insumos, capacitação dos fornecedores, recuperação de área florestal, utilização de fornecedores de garrafas e rótulos da região até a logística reversa das embalagens.
Pratika Engenharia (Manaus, AM)
Fundada em 2018, a Pratika Engenharia é uma organização com fins lucrativos que tem como missão reduzir impactos ambientais de painéis solares para produção de energia elétrica em comunidades indígenas e quilombolas isoladas da Calha Norte do Estado do Pará. O gerador a diesel é uma das principais alternativas utilizadas nos locais sem acesso à energia distribuída, e a Prática oferece venda e instalação acessível de painéis solares tradicionais para produção de energia elétrica em comunidades isoladas da Amazônia como forma de substituir os geradores movidos a diesel, reduzindo gastos, fornecendo energia limpa e renovável e mitigando o impacto ambiental negativo do uso de óleo diesel.
Tucum (Rio de Janeiro, RJ)
Fundada em 2012, a organização tem como missão valorizar e promover a arte das populações indígenas e tradicionais do Brasil, gerando renda para suas comunidades. A Tucum faz isso por meio de parcerias comerciais com associações, cooperativas, grupos produtores ou artistas, pautadas pela ética, legalidade, sustentabilidade, respeito às realidades locais e relações economicamente equilibradas. É reconhecida pelo selo Origens Brasil e atualmente conta com 2.500 artesãos em 31 terras indígenas e/ou áreas protegidas, representando 54 etnias. O desenvolvimento da cadeia produtiva do artesanato promove geração de renda de modo sustentável, valorização da cultura, empoderamento de mulheres e circulação pelo território, sendo um contraponto ao envolvimento com atividades em garimpo e madeira.
Instituto Ouro Verde (Alta Floresta, MT)
O Instituto é uma organização não governamental fundada em 1999 com foco a participação social como base para o desenvolvimento sustentável. Atua em Mato Grosso desde 2004, e nasceu com o intuito de auxiliar pequenos agricultores familiares, criando uma rede de atuação em estilo de associação, reforçando práticas de produção sustentáveis e dinamizando a geração de renda. Hoje atua em oito municípios e facilita o acesso de agricultores a recursos para restauração de áreas degradadas e transição agroecológica dos sistemas de produção de alimentos, aproximando consumidores e produtores familiares, segundo três frentes: sistema de crédito solidário, restauração de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e novos canais de comercialização. Atua junto a 1.200 famílias de pequenos agricultores, tendo apoiado o plantio de 2.700 hectares de sistemas agroflorestais, 190 projetos de microcrédito e a comercialização de cerca de R$ 2 milhões de produtos anualmente.
ONF Brasil Fazenda São Nicolau (Cotriguaçu, MT)
Após o Tratado de Kyoto, em 1998, por meio do apoio da empresa Peugeot à estatal francesa ONF (Escritório Nacional das Florestas, integrante do Ministério do Meio Ambiente francês), foi iniciado um projeto de reflorestamento de uma área desmatada de 2 mil hectares na Floresta Amazônica em Mato Grosso, sendo este um piloto, que vem sendo aplicado há 40 anos na fazenda São Nicolau, no nordeste do estado. Pequenos produtores, gestores públicos, alunos e professores de escolas e universidades públicas, entre outros, são beneficiados pelas atividades atuais. A iniciativa oferece créditos de carbono da área de reflorestamento, além de produtos procedentes da integração entre agricultura, pecuária e floresta como gado, café, cacau, urucum, castanha, madeira de teca e de árvores nativas de manejo sustentável, ecoturismo e mudas florestais e frutíferas. O desafio atualmente é transformar o projeto em negócio, com sustentabilidade econômica e potencial de replicabilidade nas comunidades do entorno, que possa servir de referência para outras propriedades rurais da Amazônia.
Taberna da Amazônia (Rio de Janeiro, RJ)
Fundada em 2015, a Taberna da Amazônia atua na criação de elos mais curtos na cadeia de produção e vínculos mais diretos entre pequenos produtores da região Norte e consumidores do Sudeste, de forma direta ou por meio de participação em feiras de alimento. Tem como objetivo criar uma rede confiável que empodere e apoie o desenvolvimento sustentável das iniciativas locais. Oferece 65 produtos, entre castanhas, biscoitos, doces, polpas de frutas, chocolates, cafés, queijos etc, provenientes da região Amazônica. Atua com 20 pequenos produtores dos estados do Amazonas e do Pará. Atualmente está também focada em desenvolver melhor seu plano de negócios e reativar uma plataforma online com plano de assinatura, além de realizar o desenvolvimento de indicadores de impacto do negócio.
Serras Guerreiras de Tapuruquara (Santa Isabel do Rio Negro, AM)
Empreendimento de turismo de experiência fundado em 2017, que atua em 13 comunidades indígenas na região do município de Santa Isabel do Rio Negro, norte do Amazonas. A Associação de Comunidades Indígenas e Ribeirinhas (ACIR) é a protagonista da gestão do projeto e lidera a operação com auxílio da instituição Garupa, parceira que operacionaliza as excursões. Tem por objetivo a promoção de uma atividade econômica na região que desenvolva o turismo de base comunitária indígena e estimule a manutenção dos espaços das comunidades, de sua cultura, a produção de seu alimento e artesanato e a sensibilização daqueles que visitam as comunidades, gerando renda. Oferece dois roteiros que contemplam práticas e experiências amazônicas guiadas pelos povos das Terras Indígenas Médio Rio Negro I e Médio Rio Negro II. Os próximos passos incluem a preparação para ter infraestrutura própria de transportes, implantar sistema ecológico de saneamento e formação em gestão para jovens indígenas.