Esta reportagem integra o “Especial 10 anos da PNRS”,
uma série de conteúdos produzida pela Página22
em parceria com a Coca-Cola
Substituir sistemas lineares por uma economia circular é o grande desafio não só para lidar com a questão dos resíduos, como também promover modelos mais eficientes em uso de insumos, água e energia, além de gerar oportunidades de trabalho e renda ao longo de cadeias que envolvem diversos atores – como os catadores. O olhar precisa ser abrangente e sistêmico. A reciclagem é apenas um dos instrumentos para se atingir a circularidade e deve ser precedida por uma série de iniciativas, como o redesenho de sistemas, processos e produtos
Um consumidor pergunta ao caixa do supermercado se teria uma sacolinha para levar o peixe. O caixa responde: “A sacola está dentro do peixe, senhor”.
Memes como esse viralizaram nas redes sociais. Pudera. Em 2050, mantido ritmo atual de produção e descarte, haverá mais plástico que peixe nos oceanos, sem contar os demais resíduos. Só nas águas do Atlântico, foi calculada a existência de 12 milhões a 21 milhões de toneladas de partículas microscópicas de três dos tipos mais comuns de plástico, segundo o Centro de Oceanografia Nacional do Reino Unido.
Na natureza, como sabemos, não existe “jogar fora”. Reutilizados, decompostos, reciclados ou simplesmente abandonados em lixões e cursos d’água, os materiais permanecem no planeta. E os mares acabam sendo o destino de muitos resíduos que não tiveram uma destinação correta. Também sabemos que na natureza não existe lixo. Esta é uma criação humana, resultante de um sistema econômico linear que se baseia em extração-produção-consumo-descarte.
Substituir sistemas lineares por uma economia circular é o grande desafio não só para lidar com a questão dos resíduos, como para promover modelos mais eficientes em uso de água e energia, além de gerar oportunidades de trabalho e renda ao longo de cadeias que envolvem diversos atores – como os catadores. A reciclagem é apenas um dos instrumentos para se atingir a circularidade e a última alternativa a ser buscada, como explica nesta entrevista Luísa Santiago, diretora executiva da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.
A fundação, uma referência no tema, preconiza que primeiramente o descarte seja evitado, utilizando o material por mais tempo possível e estimulando o seu compartilhamento. Em segundo lugar, que o produto seja reutilizado por outros consumidores (mercado de usados, por exemplo). Em terceiro, que o produto seja restaurado ou reformado. E, só por último, que o produto seja quebrado mecanicamente em micro-materiais para a remanufatura, processo conhecido como reciclagem.
Isso porque nas primeiras etapas gastam-se menos recursos em termos de energia, água e combustível do que na reciclagem. A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) permite quantificar o impacto ambiental de cada etapa do ciclo de vida do produto, resgatando desde a extração do material, passando pela sua produção, até chegar ao fim de sua vida útil.
“A ACV é um instrumento de diagnóstico essencial para avaliar a cadeia de produtos e de embalagens e direcionar os esforços das empresas para esses quatro processos básicos da economia circular citados”, afirma Daniel Lerner, integrante da equipe de Projetos & Parcerias da Eureciclo, empresa especializada em logística reversa de embalagens pós-consumo.
“Claro que a economia circular passa pela reciclagem e o reaproveitamento de materiais por parte das empresas, mas é preciso entender que a abordagem é muito mais sistêmica. Ações pontuais são muito importantes e já demonstram uma mudança de pensamento mas, se não houver um olhar para a cadeia como um todo, o impacto é muito pequeno”, afirma Lerner.
O especialista da Eureciclo cita o arquiteto Walter Stahel, um dos teóricos da economia circular, para quem o conceito precisa de fato ser amplo e genérico, como um framework que abarca abordagens específicas. Segundo Stahel, os três princípios básicos da economia circular são preservar e aumentar o capital natural, ou seja, reduzir a extração de recursos e valorizar os serviços ecossistêmicos; otimizar o rendimento de recursos, que envolve aumento do ciclo de vida e reinserção na cadeia; e fomentar um sistema mais eficaz e sustentável, eliminando externalidades negativas (impactos de uma atividade que são sofridos por aqueles que pouco ou nada contribuíram para gerá-los).
Isso fica claro no livro Cradle to Cradle (Do berço ao berço), no qual os autores William McDonough e Michael Braungart deixam clara a importância do uso de energias renováveis e da gestão consciente de água. “A redução da pegada de carbono e de água faz parte da agenda da economia circular, não apenas como consequência”, diz Lerner.
“A ACV é a régua, mas a intenção se inspira na economia circular”, afirma Rafael Viñas, coordenador de Sustentabilidade Aplicada da Fundação Espaço Eco. A ACV procura avaliar os impactos da extração até o descarte sob diversos indicadores, como consumo de água, energia e geração de resíduos, fornecendo informações para que se caminhe na direção da economia circular.
Um exemplo: a Fundação Espaço Eco faz, desde 2015, um estudo do ciclo de vida da linha de atomatados da Cargill, e disso resultou a criação de uma embalagem reutilizável para o extrato de tomate Elefante, já disponível no mercado. A ideia é que a embalagem seja colecionável, usada como um pote para armazenamento de alimentos.
Para exemplificar como a economia circular vai muito além da reciclagem, Viñas cita ações como empréstimo de ferramentas, compartilhamento de automóveis, escritórios e residências e até mesmo a plataforma RenovaBio, que permite a transição de uma matriz energética fóssil para uma matriz energética renovável ou circular.
Uber das embalagens
Um outro exemplo é da empresa Loop, que atua no Reino Unido, na França e nos Estados Unidos e oferece serviços de embalagem e entrega. O consumidor pede o produto por assinatura e a Loop faz o serviço de logística, permitido que a mesma embalagem seja usada por vários clientes. Isso porque o consumidor devolve a embalagem vazia e recebe uma cheia com o produto. A Loop possui parceria com empresas como a P&G, a Unilever e a Nestlé.
“Quando você quer um amaciante, quer o produto, não a embalagem. Da mesma que se procura o serviço de transporte e não o carro, o Loop é como se fosse um Uber, só que para embalagens. Este é um modelo de negócio que pode servir a diversos bens de consumo”, compara Viñas.
Daniel Lerner observa duas vertentes em economia circular. Uma voltada para engenharia de materiais, com o desenvolvimento de materiais alternativos, utilização de matéria prima reciclada, rastreamento das embalagens, tecnologias de reciclagem, reaproveitamento de materiais. E a segunda voltada a reconstruir sistemas e fluxos, como compartilhamento de produtos, redução a utilização de material, cadeias mais eficientes na utilização de recursos, produtos a granel. O exemplo da Loop, portanto, se encaixaria nesse grupo.
“O melhor para o meio ambiente nem sempre está em novas tecnologias. O exemplo das embalagens retornáveis é um clássico, utilizado amplamente há alguns anos atrás, caiu em desuso por uma série de fatores e agora está sendo retomado”, diz.
É o caso da Coca-Cola, que voltou a apostar em garrafas retornáveis (ver nos casos abaixo). “Ainda assim, o desenvolvimento tecnológico deve ser constante”, diz Lerner, que vê embalagens como extremamente essenciais até mesmo para promover a proteção ambiental. “Pode ser para a proteção de resíduos perigosos presentes em medicamentos, ou para evitar o desperdício de determinado produto transportado”, exemplifica.
Embalagens de plástico: imenso desafio
As embalagens de plástico merecem muita atenção pelos desafios que impõem à economia circular – a começar do fato de que há pelo menos sete categorias de plástico diferentes, com características de mercado próprias. “É importante entender a cadeia de cada uma dessas categorias”, diz Lerner. Segundo ele, essa análise não passa apenas pela reciclabilidade do material, mas também por sua capacidade de reaproveitamento; como o material chega na triagem e nos recicladores; qual seu valor de venda no mercado de reciclagem; e qual o impacto dos recursos utilizados na limpeza e reciclagem, como água e energia. São questões que devem ser consideradas e inclusive comparadas com outros materiais.
A Fundação Ellen MacArthur traçou uma visão de futuro sobre embalagens plásticas e conclama empresas e governos a adotar políticas para atingi-las. A prioridade é eliminar de embalagens plásticas problemáticas ou desnecessárias por meio de redesenho, inovação e novos modelos de entrega. A visão inclui:
- Modelos de reuso são empregados onde for relevante, reduzindo a necessidade de embalagens de uso único;
- Todos os plásticos são 100% reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis;
- Todas as embalagens plásticas são reutilizadas, recicladas ou compostadas na prática;
- O uso de plásticos é completamente dissociado do consumo de recursos finitos;
- Todas as embalagens plásticas são livres de substâncias químicas perigosas, e a saúde, segurança e os direitos de todas as pessoas envolvidas são respeitados.
Questionada sobre quais dessas visões dependem primordialmente da ação das empresas para efetivamente se concretizarem, e quais dependem de outros fatores, como engajamento dos consumidores e marcos institucionais, Luísa Santiago responde que “as empresas têm um papel crucial para alcançarmos essa visão de futuro, bem como os governos. E ambos podem, inclusive, se beneficiar da sua adoção”.
Segundo ela, embora consumidores sejam atores importantes na transição para uma economia circular, podendo tomar melhores decisões de compra, na prática escolhem entre uma gama de opções disponível no mercado. “Essas opções são determinadas, em grande parte, pelas empresas, que têm o poder de decidir quais produtos fabricar, qual modelo de entrega utilizar, quais materiais incluir na composição de um produto ou embalagem”, afirma.
Santiago informa que mais de 850 organizações, incluindo governos líderes e empresas que juntas representam mais de 20% das embalagens plásticas globalmente, já se comprometeram com essa visão de futuro, por meio do Compromisso Global por uma Nova Economia do Plástico e pela rede de Pactos do Plástico.
“No entanto, precisamos que mais organizações se juntem a elas e tomem ações urgentes em direção a uma economia circular para o plástico. Por isso fazemos um chamado para que empresas e governos estabeleçam metas claras para a redução do uso de plásticos virgens, ampliem e garantam o funcionamento efetivo de esquemas de responsabilidade estendida do produtor e outros mecanismos equivalentes e intensifiquem seus esforços de inovação”, diz Santiago.
Responsabilidade estendida às indústrias
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) teve o grande mérito, na opinião de Daniel Lerner, de trazer a responsabilidade estendida à indústria. As cooperativas de triagem são remuneradas apenas pela venda do material para o reciclador. Entretanto alguns materiais não contam com o incentivo necessário para sustentar sua destinação correta, de modo que não há demanda para sua triagem, e por isso acabam em aterros. “É onde está o gargalo. As cooperativas de triagem devem ser remuneradas pelo serviço ambiental de triagem para que o processo seja escalável. O cientista social Ricardo Abramovay já dizia isso em 2014, com o livro Lixo Zero: Gestão de Resíduos Sólidos para uma Sociedade mais Próspera, diz. A seguir, conheça alguns casos que buscam contornar gargalos como este.
Exemplos na prática
Nestlé: menos é mais
Em 2018, a Nestlé assinou o compromisso global de usar 100% das embalagens recicláveis ou reutilizáveis ate 2025. Isso impôs desafios para o design, pois uma empresa de alimentos precisa, ao mesmo tempo, precisam entregar ao consumidor um produto protegido, com frescor e qualidade.
As embalagens torcidas de bombons eram um exemplo dessa dificuldade. Continham polietileno, uma outra camada de alumínio em uma caixa de papel envolvida com polietileno. A saída para reduzir materiais, facilitar a reciclagem e garantir a vedação necessária foi usar um monomaterial, que impede a infestação por microorganismos e dispensa o plástico que embalava a caixa de bombons. “Isso permitirá uma redução em um ano de 450 toneladas de materiais plásticos só neste produto que é a Caixa de Especialidades Nestlé”, afirma Cristiani Vieira, gerente de Sustentabilidade da Nestlé Brasil.
Já a dificuldade de utilizar material reciclado nas embalagens permanece, pois a legislação brasileira impõe restrições – permite apenas nos casos de polietileno, PET, embalagens de bebidas e águas. “Se quisermos usar um polipropileno de conteúdo reciclado para contato com alimento, a lei ainda não permite. Introduzir o conteúdo reciclado é um super desafio para a indústria de alimentos no Brasil, ao contrário de outros países, como na Europa”, diz Vieira.
Isso porque nesses outros países há rastreamento na cadeia e remoção de contaminantes com algumas tecnologias ainda não estão ainda desenvolvidas no Brasil. “Aqui, a coleta e a segregação de materiais foram construídas na informalidade, então alguns processos ainda não conferem segurança para que este material consiga ser aprovado para o contado com alimentos”, explica ela.
Para aumentar a profissionalização e eficiência das cooperativas de catadores, a empresa participa desde 2018 do projeto Reciclar pelo Brasil, criado pela Coca-Cola e Ambev. “O objetivo é que o cooperado se entenda como um empreendedor social, entendendo a cooperativa como um negócio, que pode verticalizar alguns processos. E aderiu também ao programa Cidade+Recicleiros, que, segundo o site, “implanta a coleta seletiva nos municípios e ajuda o setor empresarial a estar em dia com a obrigação da logística reversa”.
“Geralmente são os municípios menores que têm mais necessidade dessa implementação. É uma parceria que engaja o poder público para trabalhar o seu plano de gerenciamento de resíduos sólidos, construir e modelar uma cooperativa a partir do zero e, então, começar a colher estes frutos”, diz Vieira.
E para conscientizar a outra ponta, a dos consumidores, a empresa apoia o Cataki, aplicativo que conecta consumidores com catadores e cooperativas. Além disso, no ano passado, lançou o Ecobot, que produz conteúdo a partir das dúvidas sobre reciclagem geradas pelos consumidores e enviadas por WhatsApp. O EcoBot está conectado à plataforma RE, de repensar: www.nestle.com.br/re.
Unilever: nenhum plástico, menos plástico, melhores plásticos
Esses são os três pilares da Unilever no que se refere à economia circular. Primeiramente, eliminar plásticos desnecessários e pensar em maneiras de vender produtos a granel. Em segundo lugar reduzir, desenvolvendo embalagens menores e mais finas. E em terceiro usar plásticos com maior reciclabilidade.
Uma das ações para reduzir a quantidade de material plástico é entregar mais produto por dose, ou seja, com maior concentração. Outra ação é usar refis da maneira correta – nem sempre um refil é a melhor saída, pois pode ser composto de muitos materiais, o que atrapalha ou impede a reciclagem. Um item da Unilever comercializado no exterior é o Eco Refil de CIF, uma cápsula do produto concentrado que é engatada a um frasco reutilizável e diluído, eliminando 75% do plástico que se usa em frascos convencionais.
A questão é como implementar mudanças como essas de modo que o consumidor entenda os benefícios envolvidos. “Sempre que lançamos um produto concentrado, o consumidor precisa acreditar que aquilo funciona”, diz Juliana Marra, gerente de relações institucionais da Unilever. Por exemplo, uma embalagem de sabão em pó com 800 gramas, rende o mesmo do que a embalagem de 1 quilo. “O consumidor pode dosar menos e precisa perceber que o produto é eficiente. Temos de fazer essas mudanças aos poucos porque, se vendemos tudo pequenininho, é possível que as pessoas digam que não vai funcionar”.
O desodorante Dove, por exemplo, não teve o giro de vendas esperado pela empresa. Embora a embalagem menor, contendo o produto comprimido, durasse o mesmo que o frasco maior, os consumidores não aderiram à novidade.
Existe, portanto, um desafio de comunicação, a começar do rótulo. “O marketing fala que não se pode passar muitas mensagens ao mesmo tempo porque nenhuma delas será assimilada pelo consumidor. Mas hoje, com as redes sociais, existe maneiras mais diversificadas de comunicar”, acredita.
Outro obstáculo que Juliana Marra menciona é a falta de disponibilidade de material reciclável para ser reinserido na cadeia. “Se quiséssemos colocar 100% de polietileno de alta densidade reciclado nos nossos frascos, não íamos encontrar”, afirma. Segundo ela, a PRNS, é uma legislação excelente ao trazer o conceito de responsabilidade compartilhada, mas há alguns materiais “rodam” bem, enquanto outros, não. “Alguns plásticos nem sequer são separados e assim não geram volume suficiente para chegar em quem recicla”, diz.
Para incentivar as cooperativas a recuperar os materiais, a Unilever investe no Dê a Mão para o Futuro”, um programa dos setores de higiene pessoal e de limpeza voltado a aumentar os índices de reciclagem no Brasil. “A gente não pode esperar chegar em índice de 99%, como no caso do alumínio, porque há uma diferença muito grande em relação ao plástico. No caso alumínio é muito mais barato separar e reciclar do que gastar energia para você produzir um novo. No plástico, não necessariamente.”
Como o desafio é grande, a Unilever impôs a si mesma metas ambiciosas: reduzir em 50% as embalagens de plástico virgem até 2025, o que inclui usar resina reciclada, e coletar e processar mais embalagens plásticas do que vende. Ou seja, a cada 10 colocadas no mercado, precisa retirar 11.
Coca-Cola: a lei do retorno
A Coca-Cola vê dois efeitos na economia circular: não gerar resíduos e ao mesmo tempo proporcionar um outro ciclo econômico. “O que seria um passivo ambiental volta para a cadeia produtiva e produz mais riqueza, mais emprego”, afirma Andrea Mota, diretora de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil. Em se tratando dos índices de reciclagem de PET, é preciso avançar muito: segundo o dado de 2019 da Associação Brasileira da Indústria de PET (Abipet), é de 56%.
Diante disso, a Coca-Cola tem centrado esforços em embalagens retornáveis, que hoje já representam 22% das vendas da empresa no Brasil, com meta de atingir 30% até 2025. Em 2019, a empresa deixou de colocar no mercado 1,6 bilhão de garrafas PET com a operação em retornáveis.
Embora seja uma operação complexa, porque depende de trazer a garrafa de volta, higienizar, verificar se não restou nenhum odor, e recolocar no mercado, vale a pena do ponto de vista ambiental, quanto se aplica a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV).
Considerando as dimensões de emissões de carbono, depleção de água e geração de resíduos, a PET retornável ganha do vidro retornável e da PET descartável. “A RefPET gabaritou em todos os requisitos”, diz Fernanda Daltro, gerente de sustentabilidade (ver imagem abaixo, em estudo desenvolvido pela Triciclos). Mas isso considerando que a mesma garrafa retornável seja usada 16 vezes.
O uso de uma garrafa universal ajuda muito em todo esse processo. Com investimento de R$ 100 milhões, a empresa passou a comercializar todas as garrafas de PET retornável de refrigerantes de 2 litros em um único formato. “A garrafa universal otimiza demais o ciclo. Primeiro para o consumidor, que pode estar com uma garrafa que era de Fanta e agora quer comprar uma Coca. E para a fábrica também. Quando a garrafa chega, retira-se o rótulo e ela é higienizada, podendo ser envasada com qualquer produto”, diz Daltro.
A garrafa retornável chega também ao segmento de sucos da empresa. O Del Valle Frut será o primeiro suco em embalagem retornável do País, em garrafa PET de dois litros, que pode ser reutilizada até 25 vezes. O produto chega em agosto, em Manaus, com expansão para o território nacional prevista para 2021.
Ao mesmo tempo, há uma ação para estimular que a resina de PET reciclado chegue à empresa. Para isso foi criada a SustentaPET, a primeira central de coleta de PET pós-consumo, em parceria com a fabricante Femsa. Inaugurada no fim de 2019, em Osasco (SP), com investimento de R$ 2,5 milhões, tem um espaço de 3 mil m² e capacidade de coletar 1 tonelada de PET por mês. Com isso, a empresa lança o primeira garrafa de água mineral feita 100% com PET reciclado do mercado brasileiro. Ao utilizar apenas resina reciclada, cerca de 400 milhões de novas embalagens PET de todos os tamanhos da marca Crystal deixarão de ser produzidas em um ano.
Se indústria de embalagens de forma geral procurou proporcionar conveniência ao consumidor criando embalagens one way, agora busca formas de reduzir os resíduos. Não faz tanto tempo, as garrafas eram retornáveis, e os consumidores levavam os cascos aos supermercados. Depois, isso foi crescentemente sendo substituído pelas embalagens descartáveis. E chegou a hora de “reeducar” novamente a sociedade para adotar o reúso.
“De fato, a conveniência falou mais alto. O que aconteceu de lá para cá é que é prática foi excessiva”, reconhece Mota. “E hoje o próprio consumidor está pedindo: ‘Quero uma embalagem que não deixe resíduo’. Com isso, a indústria terá de fazer um esforço e que bom que a Coca-Cola nunca desistiu desta embalagem, sempre sempre manteve esta operação, embora fosse cara e complexa ”, diz a executiva. A empresa, inclusive, é citada como case internacional de reuso pela Fundação Ellen MacArthur.
[Foto: Immo Wegmann/ Unsplash]
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