Tanto no cumprimento de metas do Acordo de Paris, como na implementação do Plano ABC, a recuperação pode promover retornos econômicos advindos da maior lotação dos pastos, além dos ganhos ambientais e da redução de emissões
Um estudo desenvolvido pelo Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas calcula que seriam necessários R$ 383,77 bilhões para recuperar e reformar todas as áreas de pastagem que apresentam algum nível de degradação no Brasil. Mas o esforço compensa: a implementação de tecnologias de recuperação de pastagens degradadas tem potencial de gerar receitas mais do que suficientes para cobrir esses custos. Além de promover ganhos ambientais e econômicos, tem o potencial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 463,7 Mt CO2eq/ano (milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente).
Segundo o relatório, 18,94% do território brasileiro é composto por áreas de pastagens, o que corresponde a aproximadamente 160 milhões de hectares. Deste total, 52% apresentam algum nível de degradação (cerca de 89 milhões de hectares), sobretudo, na Amazônia e no Cerrado.
Áreas de pastagem entre os seis biomas brasileiros. E áreas de pastagem, por nível de degradação, entre os biomas:
O governo brasileiro estabeleceu como contribuição nacionalmente determinada, no âmbito
do Acordo de Paris, a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas no País. Além disso, manifestou a intenção de dobrar as áreas recuperadas até 2030, como parte da iniciativa Plano ABC+. Caso o governo brasileiro atenda a esses compromissos priorizando os menores custos possíveis, será necessário o investimento de R$ 21,17 bilhões para recuperar 15 milhões de hectares de pastagens, no período atual. Caso sejam recuperados 30 milhões de hectares de pastagens, o valor investido será de R$42,51 bilhões.
Considerando o ganho potencial, em termos de taxa de lotação adicional no pasto, advindo da recuperação, a adoção de tecnologias de reabilitação de pastagens pode ser viável e efetiva para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na pecuária e ainda gerar retornos econômicos.
No caso da recuperação de 15 milhões de pastagens, o retorno potencial seria de R$ 15,60 bilhões no cenário atual e de R$ 581,25 milhões em um cenário de preço médio. Já os retornos econômicos da recuperação de 30 milhões de hectares de pastagens, tal como indicadas no Plano ABC+, poderiam gerar R$ 33,04 bilhões no cenário atual e R$ 2,18 bilhões em um cenário de preço médio.
Custos médios de tecnologias de recuperação/reforma de todas as áreas de pastagens degradadas nos biomas:
“Esses resultados mostram como ainda é tímida a alocação de recursos do Plano Safra no Plano ABC. No plano de 2022 o valor foi de 2% do total. Em 2023 foi menor: 1,8%. Com o avanço do mercado voluntário de carbono, a recuperação de pastagens tem uma grande possibilidade de gerar renda para a pecuária”, afirma Eduardo Assad, pesquisador do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas.
Os resultados do estudo evidenciam que a implementação de tecnologias de recuperação de pastagens degradadas teria o potencial de gerar receitas mais do que suficientes para compensar os custos incorridos na recuperação de 15 e 30 milhões de hectares de pastagens.
Portanto, dadas as externalidades ambientais positivas e os benefícios econômicos que pastagens recuperadas podem promover, a tecnologia de recuperação de pastagens degradadas pode ser um instrumento efetivo e viável para potencializar a descarbonização do setor pecuário. Acesse o estudo completo aqui.
[Foto: Victor Camilo/ Flickr]