Os métodos não destrutivos (MND) na construção propõem reduzir os impactos ambientais e sociais em obras de infraestrutura urbana. Congresso sobre a tecnologia será realizado em julho, em São Paulo
O mundo moderno demanda conexões. Seja por meio de antenas, internet, computadores e smartphones, seja de forma física, no ambiente urbano. Não é possível imaginar esse momento da humanidade sem sistemas robustos de saneamento básico ou distribuição de energia elétrica, por exemplo. No entanto, essas conexões requerem manutenção, ampliação e diversos outros cuidados. E qualquer pessoa que já passou por obras em seu perímetro de circulação sabe o tamanho do transtorno que isso pode provocar. Por isso, os métodos não destrutivos (MND) vêm se desenvolvendo com o objetivo de reduzir os impactos ambientais e sociais na promoção de infraestrutura urbana.
O uso dos MNDs dá-se sobretudo na substituição, recuperação e ampliação de redes de tubulações. Em vez de abrir grandes valas, todo o processo é realizado abaixo do nível da rua. Dessa forma, a necessidade de interdições é muito menor do que no sistema tradicional, com valas a céu aberto. Em vez de escavações intermináveis, utilizam-se tecnologias para a execução, reabilitação, troca e controle de qualidade de tubulações. Segundo o membro da diretoria da Associação Brasileira de Tecnologias Não Destrutivas (Abratt), o engenheiro Ênio Aguiar, esse sistema promove diversas vantagens.
“A economia intangível é muito grande. Só de não precisar interromper o tráfego já temos uma economia de tempo, do transtorno para moradores e comerciantes, e até na emissão de CO² pelos veículos que eventualmente ficariam parados em congestionamentos. Além disso, esse tipo de obra é muito mais rápido e gera pouca poluição sonora”, completa.
Apesar disso, as tecnologias não destrutivas ainda não têm amplo conhecimento dentro do mercado da construção civil e infraestrutura urbana. Por isso, a Abratt atua há mais de 20 anos promovendo a difusão dessas modalidades de trabalho, com foco nos serviços de infraestrutura subterrânea.
“As diferenças de custos diretos entre os MNDs e os métodos tradicionais vêm se reduzindo cada vez mais. E em várias situações, as técnicas MND tem sido mais baratas do que as convencionais sem considerar os custos indiretos e intangíveis. No entanto, ainda falta, tanto ao prestador de serviços quanto aos contratantes, saber da existência dessa opção de trabalho”, reforça Aguiar.
Ele também acredita que os custos diretos tendem a se reduzir a partir do crescimento da adesão aos MNDs no País. “Alguns dos insumos para realizar os serviços ainda precisam vir de fora. A gente já percebe o interesse de fabricantes de vir ao Brasil e produzir esses materiais aqui dentro. Isso reduzirá bastante as despesas para realização desse tipo de obra”, completou.
O desenvolvimento dessa tecnologia também interessa às empresas que demandam por esse tipo de serviço, como as companhias fornecedoras de água e coleta de esgoto. De acordo com Agostinho Geraldes, diretor técnico da Associação dos Engenheiros da Companhia de Saneamento Básico do Estado de SP, a AESabesp, há diversos problemas na adoção de métodos tradicionais nas obras de saneamento.
“Abrir vala numa avenida, em um centro urbano de muito movimento, gera inúmeros transtornos. Desde a mobilização de todo o maquinário e dos profissionais para fazer a obra ao impacto no trânsito e comércio. Isso sem contar com o impacto nas residências, porque fica a vala aberta e os moradores não conseguem sair ou entrar com seus veículos. E as intempéries acabam aumentando esse transtorno e o tempo de execução”, destaca Geraldes.
Por outro lado, reforça as vantagens do uso de tecnologias não destrutivas em regiões de grande adensamento urbano. “Uma obra em MND é mais rápida, mais limpa e mais segura do que em outros métodos. Seus benefícios fazem muita diferença no relacionamento da obra com a sociedade e com o meio ambiente urbano”, completa Geraldes.
Evento internacional
Uma das ações que pretende promover um salto de qualidade do setor no Brasil é o São Paulo No Dig Show 2023. O congresso ocorrerá de 4 a 6 de julho de 2023, no Instituto de Engenharia de São Paulo, e reunirá empresas públicas e privadas, indústrias e governos para apresentar o que há de mais moderno dentro das tecnologias não destrutivas. Promovido pela Abratt e pela Associação de Engenheiros da Sabesp (AESabesp), este será o primeiro evento da América Latina com demonstrações ao vivo de diversas tecnologias, pelas quais os participantes poderão conhecer o funcionamento prático de diversos tipos de MNDs (inscrições e mais informações aqui).
Por se tratarem de equipamentos de grande porte e que serão colocados em funcionamento, o pavilhão de exposições será construído na área externa do Instituto, com estruturas metálicas e totalmente coberto. Além da exibição dos maquinários e dos estandes, o evento contará com palestras técnicas de especialistas do Brasil e do mundo.