Mais de 50 anos se passaram desde que o Dia Mundial do Meio Ambiente foi criado para mostrar a relevância da conservação da natureza. Mas ainda estamos distantes de uma consciência coletiva
Por Daniela Vilela*
Outro dia me deparei com um artigo na internet que perguntava quanto tempo leva para uma sociedade aprender a não lesar a si mesma, quanta comprovação é necessária para que se altere a conduta geral. O assunto era outro, completamente diferente, mas esses questionamentos fazem todo sentido também quando falamos sobre mudança climática, aquecimento global e desmatamento.
Ainda na década de 1970, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Mundial do Meio Ambiente – celebrado agora, em 5 de junho – para conscientizar a população sobre a importância da conservação da natureza. Mais de 50 anos se passaram e constata-se que ainda estamos distantes de uma consciência coletiva e a necessidade de adotar medidas que priorizem práticas mais sustentáveis só se torna mais urgente.
Os impactos do aquecimento global não são mais uma possibilidade para lidarmos no futuro. Já lidamos com eles, hoje, na prática, e com comprovação científica. Incêndios, secas e enchentes cada vez mais frequentes e intensos, aumentando a desigualdade social e ameaçando ecossistemas; prejuízos na produção agrícola, reduzindo volume e produtividade e, consequentemente, colocando em perigo a segurança alimentar; e aumento no risco de problemas de saúde e doenças transmitidas por animais.
Ao longo de sua história geológica, as temperaturas médias na Terra alternaram entre altos e baixos. O problema é que o aquecimento causado pela humanidade é bem mais acelerado que o dos ciclos naturais. Desde 1880, tivemos registros de temperaturas cada vez mais altas, com os anos de 2016, 2019 e 2020 sendo os mais quentes já registrados. Inclusive, foram registradas em 2020 temperaturas 1,2°C acima dos valores pré-industriais, ou seja, muito próximo do limite estabelecido globalmente como meta. Por isso, cada vez mais, é preciso enxergar e entender a correlação entre as nossas atividades e a natureza.
Junto com os oceanos, as florestas são os principais ecossistemas que o planeta usa para remover o dióxido de carbono, o principal gás do efeito estufa. Contraditoriamente, aqui no Brasil, é a mudança do uso da terra, ou seja, a derrubada das florestas, o maior responsável pelas emissões.
Nesse cenário, fomentar o manejo responsável é fundamental para frear o desmatamento ilegal e conservar a biodiversidade, assegurar o abastecimento de água, fornecer matérias-primas para uma economia de baixo carbono e preservar os meios de subsistência de milhões de pessoas.
As florestas, não de hoje, já são vistas como fundamentais para atender a demanda crescente de comida, fibras, combustíveis e outros serviços ecossistêmicos essenciais, como água e solo. Não faltam razões para ampliar a discussão sobre o uso responsável das florestas e incluí-las tanto em decisões políticas quanto de consumo por governos, empresas e pessoas.
A participação das florestas nativas e plantadas em nossas vidas, juntas, é enorme. Já são milhares de produtos de origem florestal que consumimos no dia a dia. Do açaí à castanha, cosméticos e medicamentos, dos livros às embalagens de papel, da madeira da construção civil e da movelaria até a energia produzida a partir da biomassa. E vemos uma tendência de crescimento das aplicações destes produtos nas mais diversas áreas. Sem contar a contribuição para a produção agrícola, para manter a biodiversidade e abrigar as pessoas que vivem nas florestas e delas sobrevivem.
Infelizmente, mostrar essas informações e repeti-las quase à exaustão tem levado a passos muito pequenos no sentido de mudar de forma efetiva a nossa relação com o meio ambiente. Não digo a sua, a minha, mas a nossa como sociedade. Estamos, literalmente, pressionados pelo descontrole da temperatura global.
No entanto, continuaremos a fazer nossa parte, demonstrando a importância de prestar atenção na origem daquilo que compramos todos os dias – e mesmo questionar se precisamos comprar tantas coisas – e compreendermos que o custo não é apenas o preço na etiqueta. Mas a nossa sobrevivência. Qualquer coisa que aconteça com a floresta afeta todas as relações que existem com ela, e isso nos afeta diretamente.
*Daniela Vilela é diretora executiva do FSC Brasil, engenharia florestal pela Esalq/USP, com especialização em Sistemas de Gestão da Qualidade pela Unicamp e grande experiência no setor, tendo atuado na Veracel Celulose S/A, no Imaflora e no Programa Cooperativo sobre Certificação Florestal do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef).