A autora é a única brasileira selecionada pelo Portulans Institute, de Washington, para integrar o corpo de pesquisadores de sua rede acadêmica em 2023. Há mais de 140 experiências de tecnologia social bem-sucedidas na região amazônica
Avaliar o ecossistema de inovação tecnológica e social na Amazônia e pensar na região de uma forma transversal e interdisciplinar, por meio de uma gestão pública baseada em evidências. Esta é a proposta de pesquisa que Cláudia Souza Passador está desenvolvendo. Docente de pós-graduação da Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace), vinculada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, ela é a única brasileira selecionada pelo Portulans Institute para integrar o corpo de pesquisadores de sua rede acadêmica em 2023. Os outros dois selecionados são o americano Courtney Bower, da Universidade de Cornell, e o egípcio Ismaeel Tharwat, da Universidade Americana no Cairo.
Sediado em Washington, DC, o Portulans é um instituto educacional e de pesquisa independente que trabalha para desenvolver conhecimento e diálogo entre comunidades sobre políticas e práticas de inovação tecnológica, viabilizando pesquisas sobre os principais problemas que afetam um crescimento econômico sustentável e centrado no ser humano. Tem parceria com a Oxford University e apoio da Google.
O trabalho traz à tona o debate sobre a pobreza, desigualdade econômica e social, a ausência de saneamento básico da população ribeirinha, além de abordar políticas públicas sobre educação básica e saúde pública. O estudo a ser desenvolvido pela pesquisadora, com financiamento da rede acadêmica americana, baseia-se no Ecossistema de Inovação Tecnológica e Social na Amazônia.
A pesquisa, com duração de um ano, busca traçar um panorama desse ecossistema na região da Amazônia Legal. “De um lado, a proposta é realizar um levantamento sobre a inovação tecnológica tradicional, com parques tecnológicos, centros de pesquisa e referência, e de outro, um levantamento das tecnologias sociais existentes. São mais de 140 experiências bem sucedidas que geram trabalho, renda, qualidade de vida e, ao mesmo tempo, conservam a Amazônia”, diz.
Como se sabe, a região é muito mais do que rios, mata, fauna e a população indígena: também envolve as populações das cidades e desafios sociais. Ela lembra que a Amazônia é um imenso território que congrega nove estados, com uma população de aproximadamente 28 milhões de pessoas.
“A Amazônia Legal também envolve geração de trabalho e renda, desigualdade social, violência, educação, saúde pública etc. A pesquisa é uma forma de discutir esses elementos e trazer para a agenda do governo esse debate. Além de possibilitar uma aproximação com os pesquisadores e atores da região, com os quais precisamos discutir no Brasil o que é a Amazônia. A inovação tecnológica e a inteligência artificial podem auxiliar muito também na preservação do território, na fiscalização e no combate à corrupção”, diz.
Segundo a pesquisadora, atualmente há mais de 140 experiências bem-sucedidas nesta área, como o extrativismo, o artesanato, a elaboração de óleos, produção de farinhas, entre outros elementos que compõem o território amazônico.
“Aprofundando esse cenário, a pesquisa promove a efetividade das políticas públicas sobre a região e pode auxiliar na tomada de decisões da gestão dos entes federados presentes; na melhoria do gasto público, na sustentabilidade da floresta, dos povos originários e dos demais cidadãos envolvidos”, complementa.
Uma das experiências de tecnologia social, por exemplo, ocorre na Ilha do Combu, em Belém do Pará. Mulheres lideradas pela ribeirinha Izete dos Santos Costa, mais conhecida como Dona Nena produzem chocolate, garantindo trabalho e renda com conservação da floresta (saiba mais nesta reportagem: https://www.p22on.com.br/en/2018/10/02/dinheiro-que-da-em-arvores/)