Embora a inteligência de dados já esteja amplamente disponível no Brasil, sua adoção plena no setor ambiental requer investimentos e estratégias. No contexto em diferentes atores da sociedade nem sempre caminham na mesma direção ou no mesmo ritmo, o engajamento dos tomadores de decisão torna-se ainda mais efetivo quando apoiado por ferramentas baseadas em dados, proporcionando segurança jurídica, traduzindo responsabilidades e garantindo benefícios concretos aos territórios
Por João Raphael Gomes*
A gestão ambiental baseada em dados se consolida como uma tendência promissora para o Brasil, país que abriga a biodiversidades do mundo. Essa característica abre uma série de oportunidades, mas também impõe desafios, considerando o vasto potencial de serviços ecossistêmicos e a dimensão continental do território. Nesse cenário, a elaboração, o desenvolvimento e o monitoramento de ações e políticas públicas eficientes tornam-se essenciais para mitigar ameaças e promover a sustentabilidade.
Nos últimos anos, foram observados avanços significativos em parcerias público-privadas voltadas à gestão ambiental baseada em inteligência de dados. Esse movimento se reflete tanto no fortalecimento da fiscalização e no combate aos crimes ambientais quanto na construção de indicadores e políticas ambientais que aprimorem a gestão e mitiguem eventos climáticos extremos.
Nesse contexto, as discussões sobre a agenda ambiental ganham uma nova perspectiva. Com a aproximação da COP 30, que será realizada no Brasil em novembro, e considerando o papel de liderança do País nas diretrizes ambientais globais desde a Rio 92, surge uma oportunidade de impulsionar uma transformação interna.
Este é o momento de aprofundar o conhecimento sobre as ferramentas tecnológicas disponíveis e redefinir, de forma mais objetiva, como estamos conduzindo nossas responsabilidades e compromissos, além de identificar os recursos necessários para avançar na transformação digital.
Atualmente, não há estatísticas precisas sobre o número de serviços ambientais digitalizados no Brasil. No entanto, essas soluções vêm ganhando cada vez mais importância, promovendo maior interação entre diferentes setores e aumentando a transparência.
No campo ambiental, a digitalização já é uma realidade com exemplos concretos, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), ou o monitoramento por satélite e o mais recente lançamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Plataforma de Apoio à Recuperação Ambiental (Recooperar). Essas iniciativas demonstram o potencial da tecnologia para aprimorar a gestão ambiental.
No caso da Recooperar, a plataforma reúne informações de diferentes bases de dados para possibilitar uma visão analítica sobre áreas ambientais degradadas passíveis de recuperação. Além de fornecer informações qualificadas sobre esses territórios, a ferramenta possibilita subdividir as áreas de acordo com suas especificidades e analisar a situação geoespacial delas, com a utilização de outras camadas públicas, entre as quais a presença em Terras Indígenas, Unidades de Conservação e terras quilombolas.
Muitas das soluções no setor estão ancoradas na interoperabilidade, conectando empresas, governos e organizações. Em um cenário global marcado por constantes mudanças políticas, o acesso e a implementação de ferramentas que trazem transparência dos processos tornam-se urgentes e estratégicos.
Mas os diferentes atores da sociedade nem sempre caminham na mesma direção ou no mesmo ritmo. Nesse contexto, o engajamento dos tomadores de decisão se torna ainda mais relevante e efetivo quando apoiado por ferramentas baseadas em dados, proporcionando segurança jurídica, traduzindo responsabilidades e garantindo benefícios concretos aos territórios.
A agenda ambiental, que cada vez mais incorpora ferramentas tecnológicas, não só contribui para uma visão geral do estado atual do País, mas também aponta caminhos futuros. No Brasil, o uso da tecnologia para modernizar os serviços públicos já é uma tendência consolidada. Segundo dados do governo federal, em 2023, mais de 4 mil serviços estavam disponíveis em formato digital pela plataforma Gov.br. Esse número engloba todos os processos do governo federal, e demonstra o potencial de evolução considerando o tema meio ambiente.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios na jornada da maturidade tecnológica. Embora a inteligência de dados já esteja amplamente disponível, sua adoção plena no setor ambiental requer investimentos e estratégias para garantir a aplicação efetiva. O País vive um momento importante de evolução tecnológica, em que a otimização de processos, a transparência e a clareza de responsabilidades podem fortalecer a cultura de sustentabilidade e avançar na agenda ambiental.
Assim como a realização da COP 30 na Amazônia simboliza um marco para o Brasil no cenário climático global, ela também representa uma oportunidade de mostrar ao mundo um novo modelo de governança ambiental. Ao colocar a inteligência de dados no centro da tomada de decisões e consolidar a interoperabilidade como princípio de gestão, o País tem a oportunidade de se destacar como referência em transparência, inclusão e sustentabilidade.
Mais do que um evento internacional, a COP 30 pode ser uma vitrine de um Brasil que busca, por meio da inovação e da tecnologia, soluções concretas para a proteção do meio ambiente e para a construção de um futuro mais sustentável.

* João Raphael Gomes é Executivo de Negócios da Codex, empresa brasileira que atua nas áreas de governança de dados, meio ambiente, mudança climática, cidades, infraestrutura e gás.