Por Amália Safatle
Qual a importância da informação, da comunicação e da arte na defesa da causas ambientais? Para o Documenta Pantanal, é a estratégia central de atuação. Essa é uma iniciativa que reúne profissionais de diversas áreas, ambientalistas e ONGs, com o objetivo de proteger o bioma e aumentar a conscientização pública sobre suas questões urgentes.
“Nosso esforço caminha no sentido de tornar o Pantanal, com sua beleza e também questões urgentes, mais conhecido de todos”, afirma Mônica Guimarães, coordenadora do Documenta Pantanal desde a sua fundação, em 2019, ao lado de Teresa Bracher. O objetivo é levar informação a um número cada vez maior de pessoas, dentro e fora do Brasil.
Guimarães atua nas áreas de audiovisual, multiplataforma de comunicação e teatro com funções diversas: planejamento e execução de conteúdos artísticos, direção artística e gestão de negócios. Também é produtora executiva do “É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários” desde 2004. Confira a seguir três perguntas que fizemos a ela:
1.
Há um ano, o Pantanal sofreu novamente com incêndios de grandes proporções, que têm se tornado recorrentes. Segundo a SOS Pantanal, o ressecamento do solo observado na região em 2023 e 2024 é sem precedentes em termos de intensidade e duração. As altas temperaturas, somadas à falta de chuva por um longo período auxiliaram para que o solo estivesse extremamente seco, facilitando, assim, o alastramento de incêndios. Diante disso, a tendência é que o Pantanal sofra novamente com incêndios, que se tornariam um “novo normal” na região?
Neste momento, o Pantanal vive uma pausa dessa secura, o que é ótima notícia. Mas sim, estão previstos focos de incêndio e todos devem estar preparados para enfrentar. Por exemplo, em resposta aos incêndios trágicos de 2020, o Documenta Pantanal coordenou uma campanha com a venda de 45 obras de artes doadas e doações diretas que somaram R$ 2 milhões. Os recursos foram gerenciados pelo SOS Pantanal e usados para equipar 24 brigadas voluntárias anti-incêndio, o que foi crucial para ajudar naquele momento.
Mas o fogo, é sabido, pode vir com fúria e de locais não previstos. Não é o novo normal achar que o Pantanal vá sofrer com novos incêndios. Precisamos sempre estarmos alertas e atentos para o combate a qualquer ameaça de fogo na região.
2.
Os impactos da atividade humana – especialmente a agrícola – no Cerrado é apontada como uma das principais causas dos prejuízos ambientais sofridos pelo Pantanal, considerando a visão da bacia hidrográfica do território. Com isso, as principais ações de comando e controle e também de conscientização devem ser direcionadas aos produtores rurais? Quais outros públicos são importantes para serem trabalhados em ações de comunicação, mobilização e sensibilização?
As ações de conscientização devem ser direcionadas a todos, incluindo os produtores rurais. Essa sensibilização tem de acontecer com qualquer seguimento que atua na natureza e sobretudo no uso do solo. Isso porque o Pantanal é a maior área úmida contínua do planeta, e tem um papel fundamental na estabilização do clima brasileiro.
Apesar de ser declarado Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988, o Pantanal não tem legislação ambiental própria e está sob constante ataque. São muitas as ameaças: o desmatamento; a poluição que compromete as nascentes e concorrem para assorear seus rios; a seca prolongada e a mudança climática que produz incêndios devastadores.
A conservação do Pantanal passa pela prevenção e o controle dessas ameaças, mas também pelo desenvolvimento de boas práticas produtivas, sustentáveis e inovadoras. Nosso papel é sensibilizar cada vez mais pessoas sobre a urgência de se engajar na luta para proteger esse tesouro brasileiro vivo.
3.
Desde o início do Documenta Pantanal, como vocês medem os resultados obtidos no sentido de sensibilizar os públicos e promover a conservação? Qual a importância de atingir o público internacional e o que se espera com essa estratégia em termos de apoio à causa?
Desde 2019, o Documenta Pantanal produziu 8 documentários que mostram a realidade do bioma e ajudam a entender a importância do Pantanal, também editou 13 livros e apoiou outras 4 obras para servirem de referência para a construção da história, cultura e visibilidade pantaneira. A iniciativa apresentou a websérie aula-pantaneira com 39 aulas em 6 temporadas com o biólogo e professor da Universidade Federal da Grande Dourados (MS) Sandro Menezes Silva, apresentando temas científicos variados da vida no bioma.
Nosso objetivo é levar a informação a cada vez mais pessoas, e estamos tendo ótimos resultados com isso. Por exemplo, a exposição “Água Pantanal Fogo” foi vista por 15 mil pessoas em dois meses em São Paulo, outras 16 mil pessoas em Hamburgo, na Alemanha, no mesmo período, e agora está em cartaz por quase 3 meses em Lisboa, em Portugal.
Levar o nome do Pantanal para além das fronteiras brasileiras é trazer mais pessoas aliadas à causa da conservação deste bioma único no mundo. Percebemos que na comunidade internacional é ainda mais relevante levar essa informação por meio da arte.
Muitos estrangeiros não conhecem a realidade brasileira e começam a se conscientizar para, então, apoiar a nossa causa principal que é a preservação do Pantanal. Você só preserva o que conhece e pelo que se apaixona, por isso a importância dessa nossa iniciativa e estamos conseguindo ótimos resultados com os materiais que desenvolvemos e apoiamos.