Pesquisa mostra que a maioria da população brasileira ainda vê a Amazônia como distante, misteriosa e pouco conectada ao cotidiano. A região é vista como grandiosa e um motivo de orgulho, mas inacessível, associada ao misticismo e à destruição. A partir desse diagnóstico, o estudo busca identificar mensagens capazes de mobilizar o público e ajudar a construir um imaginário positivo em torno da região e da sua bioeconomia, destacando ideias com maior potencial de gerar compreensão e engajamento em ações futuras
A relação dos brasileiros com a Amazônia ainda é marcada por distanciamentos e estereótipos. Cerca de 65% da população afirma desconhecer a região, seja por nunca ter visitado a floresta, seja por só acompanhar quando a região ganha destaque na mídia. Essa falta de contato direto alimenta uma visão idealizada e, ao mesmo tempo, fatalista: a Amazônia aparece como território mítico, grandioso, mas inacessível, associado ao misticismo e à destruição. Esses são alguns dos achados da pesquisa “O que o Brasil pensa da Amazônia?”, a ser lançada no dia 22, durante a Semana do Clima em Nova York.
O levantamento foi idealizado pela Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio), em parceria com a FutureBrand São Paulo, com apoio de dados da Timelens, e financiamento do Fundo Vale. Realizado entre junho e agosto deste ano, avalia o grau de proximidade da população com a região e quais atributos estão hoje associados à floresta.
A partir desse diagnóstico, o estudo busca identificar mensagens capazes de mobilizar o público e ajudar a construir um imaginário positivo em torno, sobretudo, da bioeconomia amazônica, destacando ideias com maior potencial de gerar compreensão e engajamento em ações futuras.
O levantamento organiza seus achados em cinco eixos: o distanciamento dos brasileiros em relação à Amazônia; o imaginário marcado por mitos e narrativas de crise; o consumo sustentável restrito a práticas básicas; a bioeconomia ainda pouco conhecida; e o consumo de produtos amazônicos, limitado por barreiras de acesso e preço, mas com forte potencial de interesse.
“Encomendamos esta pesquisa justamente para enfrentar o desconhecimento estrutural sobre a Amazônia. Acreditamos que a bioeconomia é o caminho para aproximar a floresta da vida dos brasileiros, articulando negócios sustentáveis que já estão em curso na região. Os empreendimentos apoiados pela Assobio demonstram que é possível gerar renda, conservar a floresta e fortalecer comunidades locais ao mesmo tempo”, destaca o presidente da associação, Paulo Reis.
“A pesquisa foi estruturada para compreender as dualidades humanas que marcam a relação dos brasileiros com a Amazônia. Há orgulho e admiração no discurso, mas o consumo ainda obedece lógicas tradicionais de preço, marca e conveniência — revelando o desafio de transformar esse desejo em escolhas que mantenham a floresta em pé e fortaleçam a bioeconomia”, garante Estela Brunhara, diretora de Behavior Consumer da FutureBrand São Paulo.
No imaginário da maioria dos brasileiros
Apesar de 35% reconhecerem que a região abriga grandes cidades, a maioria ainda a percebe como intangível, congelada no tempo e distante do cotidiano nacional. O resultado é um imaginário coletivo em que a floresta desperta os sentimentos de admiração para 47% dos entrevistados, orgulho para 39% e fascínio para 27%, mas também frustração e impotência diante das ameaças constantes.
Esse imaginário, no entanto, não se resume ao distanciamento. A pesquisa mostra que a Amazônia também é carregada de significados simbólicos, que oscilam entre a idealização da natureza e a valorização da vida cultural. A floresta é vista como mãe protetora e doadora de vida, guardiã de sabedoria ancestral e símbolo de força e resiliência. Para 64% dos entrevistados, ela representa uma riqueza biodiversa única, e para 59% é motivo de orgulho nacional.
Ao mesmo tempo, 56% a associam imediatamente ao desmatamento ilegal, e 55% reforçam a imagem de “pulmão do mundo”, revelando como preocupações ambientais marcam a percepção coletiva. Outros atributos também emergem, como os sabores tradicionais (45%), o caráter místico e folclórico (40%) e a ideia de utopia sustentável (40%), que traduz o desejo de um futuro em que a floresta permaneça de pé gerando riqueza. Esse conjunto de imagens reforça a Amazônia como um território de orgulho, espiritualidade e cultura, mas também de ameaças e contradições.
A relação dos brasileiros com a sustentabilidade segue a mesma lógica de ambivalência. Embora 81% declarem adotar práticas para economizar água e energia, 74% separem o lixo para reciclagem e 70% reutilizam embalagens, apenas 15% dizem ter a sustentabilidade como um tema de real interesse cotidiano. O consumo de produtos sustentáveis também aparece cercado de ambiguidades: 60% afirmam consumir esses itens com frequência e 86% concordam que essa escolha ajuda o meio ambiente, mas, na prática, critérios como preço, qualidade e conveniência pesam mais na decisão de compra. A sustentabilidade, assim, funciona como um valor secundário, associado muitas vezes à culpa e à moralidade, mas dificilmente suficiente para sustentar sozinha a escolha do consumidor.
Esse cenário se reflete diretamente na forma como os brasileiros consomem produtos amazônicos. O estudo mostra que, embora exista familiaridade, o consumo ainda é limitado por barreiras de preço, acesso e informação. Entre quem não consome os produtos atualmente, mais da metade (54%) afirma não encontrar esses produtos onde vive e 34% dizem não saber identificá-los. Apesar disso, o interesse é alto: 42% têm total interesse em consumir produtos da bioeconomia amazônica, sobretudo nas categorias de alimentação (84%) e cosméticos (80%), que lideram tanto em consumo atual quanto em potencial de crescimento. Para os consumidores, esses produtos carregam atributos de naturalidade e originalidade, associados a benefícios de saúde, qualidade superior e identidade cultural brasileira. No entanto, a confiança depende de garantias: 84% consideram selos e certificações fundamentais para assegurar procedência, responsabilidade ambiental e impacto positivo em comunidades locais.
Conceito de bioeconomia ainda é distante da maioria dos brasileiros
Quando o assunto é bioeconomia, a pesquisa mostra que este ainda é um conceito distante para os brasileiros: apenas 34% afirmam conhecer o termo e, mesmo entre eles, a associação costuma ser superficial, ligada à sustentabilidade, geração de renda ou reciclagem. O interesse digital pelo tema teve seu auge em 2019, quando políticas públicas e eventos institucionais deram visibilidade à pauta, e desde então segue em crescimento. Apesar do desconhecimento, há sinais de potencial: 83% acreditam que consumir produtos amazônicos é uma forma de apoiar comunidades locais e 82% concordam que é possível desenvolver economicamente a região sem destruir a floresta.
Para os brasileiros, a bioeconomia desperta curiosidade por representar ao mesmo tempo inovação, preservação e oportunidade de renda, mas esse interesse vem acompanhado de cautela: a maioria considera essencial garantir fiscalização, transparência e envolvimento das comunidades tradicionais para que o incentivo ao consumo não reproduza práticas injustas ou predatórias.
Para a Assobio, os dados reforçam a urgência de criar novas narrativas sobre a Amazônia, capazes de desconstruir estereótipos e aproximar a floresta da vida cotidiana. “É preciso ultrapassar a visão dicotômica entre preservação e exploração e promover a ideia de conservação com produção consciente. Só assim será possível transformar a Amazônia em um espaço produtivo, com a floresta em pé, gerando renda para suas populações e promovendo um futuro sustentável”, destaca Reis.
O estudo conclui que fortalecer os vetores de conexão simbólica e cultural da Amazônia com o restante do país é um caminho importante para aproximar os brasileiros da região. Ao mesmo tempo, abre-se uma oportunidade estratégica para o fortalecimento da bioeconomia, capaz de unir desenvolvimento econômico, valorização das comunidades locais e conservação ambiental.
Destaques
Para chegar ao objetivo, o estudo combinou entre junho e agosto deste ano metodologias qualitativas, digitais e quantitativas: analisou postagens online, promoveu grupos de discussão em diferentes regiões do país e consolidou os dados inéditos. Entre os números que chamaram a atenção estão:
● 65% dos brasileiros desconhecem a Amazônia.
● 35% dos brasileiros afirmam que a região possui grandes cidades urbanizadas.
● 34% dos brasileiros acreditam conhecer a bioeconomia amazônica.
● 54% dos brasileiros declaram frequentemente escolher marcas com certificações ambientais.
● 60% dos brasileiros afirmam que consomem produtos sustentáveis frequentemente.
● 82% dos brasileiros afirmam que é possível desenvolver economicamente a Amazônia sem destruir a floresta.
● 53% dos entrevistados disseram se sentir culpados(as) quando não escolhem a opção mais saudável.
● 84% dos entrevistados afirmaram que selos e certificações são importantes para garantir a origem e a responsabilidade dos produtos amazônicos.
“Os resultados da pesquisa evidenciam a necessidade de ampliar o entendimento sobre a Amazônia, superando estereótipos e reconhecendo a importância da bioeconomia como um modelo de desenvolvimento. É fundamental conectar a conservação da floresta em pé com modelos produtivos inovadores, que fortaleçam comunidades locais e consolidem a região como vetor de desenvolvimento sustentável para o Brasil e para o mundo”, reforça Marcia Soares, gerente de Amazônia e Parcerias do Fundo Vale.
Pesquisa sobre Amazônia será lançada durante a Climate Week, em Nova York
A pesquisa “O que o Brasil pensa da Amazônia” será lançada durante a Semana do Clima de Nova York (21 a 28 de setembro), um dos principais eventos globais sobre mudança climática. O lançamento será no dia 22, na sede do Banco do Brasil em NY, às 15h.
A apresentação da pesquisa marca um passo importante para ampliar o conhecimento sobre a relação entre a floresta amazônica, sua biodiversidade e o potencial econômico sustentável associado ao território.
“O lançamento durante a Climate Week em Nova York reforça a importância de inserir a Amazônia no centro do debate global, destacando que soluções sustentáveis precisam estar conectadas à conservação da floresta e à valorização das comunidades locais”, destaca Reis, da Assobio.