Não faltam soluções inovadoras, e sim infraestrutura institucional para convertê-las em negócios escaláveis. A COP 30 pode ser o momento em que o Brasil para de discutir se o pipeline existe e começa a construir a ponte entre laboratório e mercado. Para isso, três movimentos são urgentes, saiba quais
Por Ricardo Gravina*
Investidores brasileiros dizem que faltam projetos com potencial de financiamento. Já as startups afirmam que não há investidores que entendam de climate techs. Nesse impasse, soluções em agtech (agricultura + tecnologia) regenerativa, biocombustíveis e tecnologias da floresta migram para países que as levem a sério ou acrescentem. O problema nunca foi falta de inovação, e sim falta de estrutura para convertê-la em escala.
Em 2024, a América Latina captou simbólicos 1% dos US$ 92 bilhões investidos globalmente em climate techs. No mercado brasileiro, com mais de R$ 1 bilhão travados em capital de risco para negócios climáticos, persiste o argumento de que falta “pipeline investível”. A realidade aponta para outra direção: não faltam soluções inovadoras, e sim infraestrutura institucional para convertê-las em negócios escaláveis.
Nos últimos meses, em parceria com o Fórum Brasileiro de Climatechs e a GIZ, conduzimos um estudo sobre o setor. O diagnóstico foi inequívoco: a tal escassez de pipeline é, na verdade, escassez de estrutura. Uma startup de agricultura regenerativa no Cerrado gasta dois anos para captar R$ 2 milhões — boa parte desse tempo explicando o que é ciclo agrícola para investidores acostumados a negociar no mundo virtual. Sobram talento, produção científica e propostas inovadoras. O que falta é arcabouço institucional para mitigar riscos e atrair capital em escala.
Os obstáculos são conhecidos: fragilidades em governança e gestão financeira, escassez de aceleradoras especializadas, ausência de mecanismos para estágios iniciais e políticas públicas que não reconhecem climate techs como vetor estratégico. Investidores hesitam, e startups não se desenvolvem por falta de capital.
A Europa estruturou 150 bilhões de euros em incentivos verdes. A Colômbia criou linhas de crédito para bioeconomia. Até a Indonésia, com desafios semelhantes, atraiu fundos internacionais para climate techs florestais.
Mas o Brasil, convocado para protagonizar, segue no banco de reservas. É por isso que defendo a COP 30 como marco de inflexão. Não basta transformar o evento em vitrine da Amazônia: é preciso posicionar o Brasil como um mostruário de soluções concretas. Para isso, três movimentos são urgentes.
Em primeiro lugar, construir instrumentos financeiros adequados para atuar em escala. Articular recursos filantrópicos, instrumentos de dívida conversível e capital de equity com mecanismos de mitigação de risco, como first loss e capital concessional. É o que permite superar o “vale da morte” das startups climáticas.
Também é necessário integrar as climate techs à política pública de inovação. O setor precisa ser reconhecido como estratégico, com ambientes regulatórios controlados, linhas de crédito via BNDES, prioridade no Fundo Clima e incentivos fiscais. Isso é política industrial no século XXI.
Por último, deve-se fortalecer o ecossistema por meio de parcerias estratégicas. Aproximar universidades, aceleradoras, corporações e investidores para oferecer capacitação em governança, gestão financeira e acesso a mercados.
O Brasil mapeou centenas de climate techs promissoras e tem vantagens comparativas que poucos países reúnem. A COP 30 pode ser o momento em que o Brasil para de discutir se o pipeline existe e começa a construir a ponte entre laboratório e mercado. Ou pode ser mais um evento em que exportamos paisagem, enquanto outros países exportam tecnologia. A escolha é nossa.
*Cofundador e co-CEO da Climate Ventures