“People of COP” , ou Pessoas da COP, é um projeto artístico e documental que nasce de um gesto simples e profundamente humano: olhar para as pessoas que fazem a Conferência das Partes das Nações Unidas, a COP, acontecer. Muito além das negociações climáticas, das delegações oficiais e das estruturas complexas dos pavilhões, existem rostos, culturas, histórias e trajetórias que se cruzam diariamente em busca de um futuro melhor
Por Amália Safatle
Em 2015, durante a COP 21, em Paris, a comunicadora Vania Bueno caminhou pelos corredores e pavilhões registrando espontaneamente mais de 900 pessoas de diferentes países, idades e causas — um retrato vivo da diversidade humana presente nas discussões sobre o clima. Movida pela sensibilidade e por um desejo genuíno de conexão, ela criou ali, diante da efervescência global do evento, um cartaz escrito à mão com a frase Finding beautiful people (Revelando Pessoas Bonitas). Diante da câmera e provocados pela frase, desconhecidos sorriam, compartilhavam sua presença e se deixavam fotografar.

As fotos nunca foram publicadas. Dez anos depois, Bueno resolveu resgatar o projeto em Belém com o nome “Pessoas da COP / People of COP”, ampliando o acervo visual que celebra a pluralidade, a delicadeza e a potência humana por trás dos grandes temas ambientais.
Para compartilhar essas imagens, foi criada a página no Instagram @PeopleOfCop, com o intuito de fortalecer conexões e reconhecer os indivíduos que, de maneira silenciosa ou visível, contribuem para a agenda climática.
As fotografias são publicadas individualmente, valorizando cada rosto, com o convite: “Se você se reconhecer, escreva seu nome, conte sua atuação e compartilhe nas suas redes marcando #PeopleOfCOP.”
O projeto não possui fins lucrativos. Segundo a autora, trata-se de uma iniciativa social, artística e afetiva, que busca registrar a humanidade pulsante nas COPs e criar um espaço de memória coletiva, reconhecimento e pertencimento.
“Pessoas da COP é conexão na diversidade. É um encontro entre olhares. É um lembrete de que a transição ecológica, antes de ser técnica, é humana”, diz Bueno.
Ela descreve a iniciativa como um projeto artístico e documental, que nasce de um gesto simples e profundamente humano: olhar para as pessoas que fazem a Conferência das Partes das Nações Unidas, a COP, acontecer. Muito além das negociações climáticas, das delegações oficiais e das estruturas complexas dos pavilhões, existem rostos, culturas, histórias e trajetórias que se cruzam diariamente em busca de um futuro melhor.
Confira alguns retratos:
























A seguir, um bate-papo com a autora.
Três perguntas para… Vania Bueno
1.
Como surgiu a ideia? Algum acontecimento ou inspiração te levou a essa iniciativa?
Desde 2009, na primeira vez que fui para Copenhague, o que mais me impressionou na COP foi essa diversidade. Fiquei encantada. Então, eu escolhi um lugar no corredor central e ficava horas sentada, vendo as pessoas passarem. Fazia registros à distância e tentava capturar isso que, para mim, é o mais bonito desde sempre.
Na COP de Paris, eu mantive esse hábito. Quando já estava chegando o final da Conferência, eu percebi que havia uma atmosfera de que o acordo [Acordo de Paris] ia sair. Estava tudo muito movimentado. Tinha uma energia no ar. Falei: quer saber? Vou fotografar essas pessoas. O meu marido me disse: as pessoas não vão te autorizar, você não pode chegar na frente de uma pessoa e fotografar. Eu respondi: pode deixar que eu vou achar um jeito. Então, entrei em um dos estandes, peguei um papelão e escrevi Looking for beautiful people. Passei o dia fotografando. Não comi, não fui mais no banheiro, eu só queria fotografar. E vi a resposta das pessoas, como elas reagiam e era lindo.
Agora, tinha um ajuste de comunicação a fazer. Porque muitas vezes as pessoas diziam: mas eu não sou bonita. E eu tinha que explicar. No fim do dia, eu fui na casa de uma amiga, peguei essa folha azul que tá colada aí por cima [do cartaz] e coloquei Finding Beautiful People, porque aí já não era mais uma questão de procurar. Eu estava encontrando as pessoas bonitas.
E isso foi incrível. A troca dessa palavra mudou a reação das pessoas. Elas ficaram ainda mais espontâneas e eu passei todos os últimos dias fotografando por todos os corredores, o que rendeu mais de 900 fotos, das quais eu fiz uma edição, e hoje tenho um acervo de cerca de 700 imagens únicas de Paris. Esse acervo ficou guardado, eu tentei mandar para a ONU, mas não tive uma resposta da secretaria. Guardei o acervo até quando eu soube que ia rolar a COP em Belém, e resolvi fechar esse ciclo. Paris-Belém, dez anos depois.
2.
Uma leitura possível do projeto seria de que, se as pessoas estão na raiz do problema climático, a solução também está com elas?
Isso! Eu acho que se as pessoas estão na raiz do problema, elas têm que estar na solução. Em todas as COPs que fui tinham muitos painéis, muitos estudos sobre desmatamento, sobre degelo. Existe um olhar muito apurado e técnico sobre a natureza, mas eu nunca vi em nenhuma COP uma análise profunda sobre cultura, sobre o papel dos humanos nessa relação. Eu acho que a gente deveria, sim, trazer mais estudos e análises de quais são os comportamentos que podem, de fato, fazer a diferença.
3.
O que você espera deste projeto em termos de alcance? Quais são os próximos passos?
O que eu espero do projeto é que ele viralize. Eu gostaria que ele voasse pelo mundo, que as pessoas se vissem. Na COP de Paris, muita gente me perguntou: o que você vai fazer com esse material? Eu dizia: não sei. Não sei o que eu vou fazer, porque se eu parasse para pensar, eu não teria feito tantas fotos. Eu só segui meu instinto e não pensei em um projeto.
Desta vez, eu tentei falar com a ONU, com a UNFCCC [Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima]? Estou buscando caminhos no Ministério da Cultura. Quando eu vim pro Congresso do Cebds e fotografei quem tava lá, fotografei os indígenas nas próprias comunidades, eu tenho um outro material bem bonito sobre isso.
Então estou tentando viralizar isso mesmo, porque as pessoas estão aí pelo mundo. A ideia é que que as pessoas curtam, compartilhem o People of COP, que se identifiquem, marquem as pessoas que elas conhecem, só pra gente poder se ver enquanto comunidade global.
O próximo passo é divulgação, contar com mais veículos de comunicação. E vou continuar batalhando algum espaço na página da ONU. Quero colocar isso no mundo porque esse material não me pertence. Eu tenho essa sensação desde sempre. É um acervo que não é meu. É um acervo das pessoas. Dessas pessoas bonitas.

