Abril foi um mês inclemente nos Estados Unidos. Durante três dias, o estado de Oklahoma registrou 267 tornados, que mataram quase 300 pessoas. O Texas teve um número de incêndios florestais sem precedentes, várias partes do país foram atingidas por tempestades acima da média e o vale do rio Mississippi teve as maiores enchentes dos últimos cem anos.
Abril só veio confirmar que as catástrofes de origem climática estão cada vez mais agudas. No ano passado, a Federal Emergency Management Agency (Fema), a agência norte-americana de resposta emergencial, declarou estado de calamidade 81 vezes, um recorde histórico. Durante os 60 anos precedentes, a média foi de apenas 33 ocorrências anuais. Num relatório recente, a agência de notícias Reuters informa que a indústria de seguros está sentindo o baque e que já não sabe como conter seus prejuízos.
Não é um problema exclusivamente norte-americano. A Cruz Vermelha internacional acaba de divulgar que, no ano passado, fez 30 milhões de atendimentos a vítimas de catástrofes naturais – boa parte destas agravadas pelas mudanças climáticas.
Na esteira da destruição causada pelos tornados, a imprensa dos EUA resgatou dois estudos de 2007 que previam essa evolução. O primeiro, coordenado por Jeff Trapp da Purdue University, previa que muitas localidades da costa Atlântica veriam dobrar o número de dias propensos a tempestades violentas. O segundo trabalho, da equipe de Tony Del Genio, pesquisador da agência espacial Nasa, fez uma série de simulações e concluiu que a instabilidade e a agressividade do clima vão crescer num mundo mais quente e úmido.
Mas, claro, como sempre, quando se trata do debate climático, muitas vozes se levantaram para dizer que a conexão entre tornados e aquecimento estava sendo construida, articificalmente, por oportunistas. A rede de TV Fox News, notoriamente conservadora, liderou a grita geral dos negacionistas, citando meteorologistas que minimizavam a relação entre os tornados e a concentração atmosférica dos gases estufa. O diário Washington Post embarcou na mesma onda, afirmando em editorial da quinta-feira que essa correlação não foi comprovada cientificamente e que os tornados estão sendo usados como instrumento de “propaganda”:
Um vídeo amador de casas sendo destruídas por tempestades mortais é mais fascinante que imagens de geleiras que supostamente [sic] estariam derretendo. Tais estratégias de propaganda foram tentadas antes. Logo após a devastação promovida pelo Furacão Katrina, em 2005, os verdes juraram que isso era só o começo, que os próximos furacões seriam maiores, mais destrutivos e frequentes. Mas então vieram três anos com períodos de furacões relativamente moderados. A verdade inconveniente para os que prevêem o fim do mundo é que os dados de longo prazo indicaram uma relativa estabilidade no tamanho e frequência dos furacões.
A pergunta aqui é: quando a crise climática e a massiva comprovação científica serão suficientes para convencer estes São Tomés?