Qual o jeito mais sustentável de secar as mãos no banheiro público?
Aqui nos Estados Unidos é muito raro um toalete que não tenha um daqueles rolos de papel grosso pendurado na parede ou um secador que emite um vento quente mais prazeroso do que eficiente. Minha filha, de cinco anos, claro, adora apertar os botões e puxar o papel, mas aprendeu que a melhor solução é secar as mãos nas minhas calças.
E você, o que deveria escolher?
Cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) debruçaram-se sobre este dilema durante os últimos meses. Produziram um estudo sem precedentes que analisou o ciclo de vida dos métodos mais comuns de secagem das mãos em banheiros públicos, inclusive o uso de toalhas de pano e papel, e diversos equipamentos que emitem jatos de ar quente ou frio. Concluíram que a toalha de papel tem uma pegada de carbono 70% maior que a tecnologia mais inovadora do mercado, o secador a ar frio de alta velocidade que aparece na foto ao lado.
Parece uma pesquisa importante de ciclo-de-vida que pode ajudar o cidadão a reduzir o impacto ambiental de suas decisões, certo? Sim, é verdade. Mas investigue um pouco mais a fundo a questão e você descobrirá que:
1) a Dyson, fabricante do modelo de secador apontado como sendo o mais sustentável, foi a responsável pela encomenda do estudo do MIT. Isso certamente não invalida o trabalho, mas é um dado que definitivamente não pode ser ignorado;
2) no ano passado, a mesma empresa envolveu-se num imbroglio com a Kimberly Clark, fabricante de rolos de papel para secagem de mãos, que divulgou uma pesquisa que indicava que os secadores por jato de ar representavam riscos para a higiene, por aumentar a presença de microorganismos nas mãos, enquanto as toalhas de papel reduziriam a contaminação por bactérias em até 77%. Esse estudo tinha sido encomendado pelo European Tissue Symposium, uma associação de fabricantes de papel toalha. Mais uma vez, não dá para descartar um estudo só porque acabou corroborando a tese do seu patrocinador. Mas que dá para ficar com a pulga atrás da orelha, ah isso dá. A Dyson, que é uma das líderes entre os fabricantes de secadores a jato de ar, refutou a pesquisa.
Claro, todo o mundo quer levar a melhor nessa disputa, garantindo os corações dos usuários engajados. É uma briga que não tem nenhuma novidade. Ela me lembra o antigo embate saco de papel X saco de plástico. Enquanto as indústrias papeleiras argumentam que seu produto deriva de um recurso renovável, é biodegradável e facilmente reciclável, a indústria do plástico rebate, dizendo que suas sacolas são muito mais leves, de modo que um número enorme de unidades pode ser transportadas num único caminhão. Lembro também de um executivo do setor do plástico fazendo um muxoxo, dizendo que arqueólogos urbanos encontravam exemplares centenários de jornais enterrados em aterros sanitários, preservados pela falta de aeração da pilha de resíduos. “Dizer que o papel é biodegradável é muito relativo…”, dizia.
Tudo parece depender da posição do observador – e isso vale inclusive para os pesquisadores do MIT. Ok, eles concluíram que o modelo de secagem com vapor frio é a opção de menor impacto. Maravilha. Mas fica a pergunta: por que eles deixaram de avaliar uma solução simples e que dispensa o uso de energia ou materiais, como a que ensinei à minha filha? Qual o problema de se enxugar uma mão molhada, já sem sabão, na própria roupa?[:en]
Qual o jeito mais sustentável de secar as mãos no banheiro público?
Aqui nos Estados Unidos é muito raro um toalete que não tenha um daqueles rolos de papel grosso pendurado na parede ou um secador que emite um vento quente mais prazeroso do que eficiente. Minha filha, de cinco anos, claro, adora apertar os botões e puxar o papel, mas aprendeu que a melhor solução é secar as mãos nas minhas calças.
E você, o que deveria escolher?
Cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) debruçaram-se sobre este dilema durante os últimos meses. Produziram um estudo sem precedentes que analisou o ciclo de vida dos métodos mais comuns de secagem das mãos em banheiros públicos, inclusive o uso de toalhas de pano e papel, e diversos equipamentos que emitem jatos de ar quente ou frio. Concluíram que a toalha de papel tem uma pegada de carbono 70% maior que a tecnologia mais inovadora do mercado, o secador a ar frio de alta velocidade que aparece na foto ao lado.
Parece uma pesquisa importante de ciclo-de-vida que pode ajudar o cidadão a reduzir o impacto ambiental de suas decisões, certo? Sim, é verdade. Mas investigue um pouco mais a fundo a questão e você descobrirá que:
1) a Dyson, fabricante do modelo de secador apontado como sendo o mais sustentável, foi a responsável pela encomenda do estudo do MIT. Isso certamente não invalida o trabalho, mas é um dado que definitivamente não pode ser ignorado;
2) no ano passado, a mesma empresa envolveu-se num imbroglio com a Kimberly Clark, fabricante de rolos de papel para secagem de mãos, que divulgou uma pesquisa que indicava que os secadores por jato de ar representavam riscos para a higiene, por aumentar a presença de microorganismos nas mãos, enquanto as toalhas de papel reduziriam a contaminação por bactérias em até 77%. Esse estudo tinha sido encomendado pelo European Tissue Symposium, uma associação de fabricantes de papel toalha. Mais uma vez, não dá para descartar um estudo só porque acabou corroborando a tese do seu patrocinador. Mas que dá para ficar com a pulga atrás da orelha, ah isso dá. A Dyson, que é uma das líderes entre os fabricantes de secadores a jato de ar, refutou a pesquisa.
Claro, todo o mundo quer levar a melhor nessa disputa, garantindo os corações dos usuários engajados. É uma briga que não tem nenhuma novidade. Ela me lembra o antigo embate saco de papel X saco de plástico. Enquanto as indústrias papeleiras argumentam que seu produto deriva de um recurso renovável, é biodegradável e facilmente reciclável, a indústria do plástico rebate, dizendo que suas sacolas são muito mais leves, de modo que um número enorme de unidades pode ser transportadas num único caminhão. Lembro também de um executivo do setor do plástico fazendo um muxoxo, dizendo que arqueólogos urbanos encontravam exemplares centenários de jornais enterrados em aterros sanitários, preservados pela falta de aeração da pilha de resíduos. “Dizer que o papel é biodegradável é muito relativo…”, dizia.
Tudo parece depender da posição do observador – e isso vale inclusive para os pesquisadores do MIT. Ok, eles concluíram que o modelo de secagem com vapor frio é a opção de menor impacto. Maravilha. Mas fica a pergunta: por que eles deixaram de avaliar uma solução simples e que dispensa o uso de energia ou materiais, como a que ensinei à minha filha? Qual o problema de se enxugar uma mão molhada, já sem sabão, na própria roupa?