A Organização das Nações Unidas declarou 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas. Pode parecer estranho para muita gente, pois no Brasil o conceito permanece ligado ao setor agrícola, onde o cooperativismo floresceu no início do século XIX influenciado por colonos de origem europeia. Em outros países, entretanto, as cooperativas se espalharam para vários setores da economia e hoje representam uma maneira diferente de fazer negócios e de manter recursos e empregos localmente.
A organização de pessoas para alcançar um objetivo comum com benefícios mútuos ocorre há muito tempo. O movimento conhecido como cooperativismo, entretanto, nasceu quando os princípios da cooperação passaram a ser aplicados no mundo dos negócios. A primeira cooperativa de consumo apareceu em 1769 na Escócia. Sessenta anos depois, havia centenas de cooperativas na Inglaterra e, em 1844, uma delas em Rochdale estabeleceu os princípios que até hoje norteiam as cooperativas ao redor do mundo.
A Aliança Internacional das Cooperativas adaptou os princípios originais e hoje são esses que dão identidade às cooperativas: associação aberta e voluntária; governança democrática; retorno limitado sobre o capital; receita excedente (depois de gastos e investimentos) retorna aos membros; educação dos membros e do público sobre os princípios cooperativos; cooperação entre cooperativas; e preocupação com a comunidade.
São princípios que, pelo jeito, ressonam para muita gente. Segundo um estudo feito pela Co-operatives UK, 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo são associadas de algum tipo de cooperativa, enquanto apenas 328 milhões são detentoras de ações de empresas. No Brasil, informa o estudo, 1,7% da população possuem ações de empresas, enquanto 4,4% são membros de cooperativas – percentual baixo se comparado a outros países em desenvolvimento.
As cooperativas oferecem uma alternativa ao modelo de propriedade em que o indivíduo compra ações e, como acionista, recebe dividendos da empresa. No cooperativismo, os membros são os donos do negócio, o que torna o empreendimento mais voltado para as pessoas. As cooperativas ajudam a evitar a formação de monopólios de mercado, mantêm os empregados engajados e oferecem mais opções aos consumidores. Como stakeholders e não shareholders, os membros das cooperativas estão interessados em resultados que não só os financeiros.
Nos Estados Unidos, em que as quase 30 mil cooperativas contam com US$ 3 trilhões ativos e mantêm cerca de um milhão de empregos, há cooperativas nos mais diversos setores, de alimentos a bancos. Os Credit Unions americanos – cooperativas financeiras em que os correntistas são também donos e elegem o conselho diretor de maneira democrática – são entidades “not for profit”, pois servem aos seus membros (promovendo a poupança e oferecendo crédito a taxas competitivas) em vez de maximizar os lucros. Recentemente, eles vêm ganhando terreno com movimentos como o Occupy Wall Street e o Bank Transfer Day. Hoje, segundo a Credit Union National Association, 93,5 milhões de americanos são membros de cooperativas financeiras.
As cooperativas de consumidores mais conhecidas dos americanos são as “food co-ops”, lojas de varejo que vendem – em geral alimentos saudáveis, orgânicos e a granel – aos membros e ao público em geral. Mas há cooperativas também na área de saúde, seguros, imóveis e energia, e de todos os tamanhos. A pequena cooperativa de Mount Pleasant, por exemplo, foi formada por um casal a pedido do filho adolescente para reduzir a pegada de carbono da família ao instalar painéis solares no telhado. Hoje com mais de 70 famílias associadas, a co-op trabalha para tornar o bairro, no distrito de Columbia, um modelo para o uso de energia solar.
Nos países em desenvolvimento, as cooperativas foram patrocinadas por governos nacionalistas nos anos 50 e 60 e o setor encolheu quando as economias desses países foram abertas a partir da década de 90. Desde então cooperativas independentes vêm nascendo e o cooperativismo floresce, por exemplo, em várias partes da África. A ONU afirma que as cooperativas nas nações em desenvolvimento são um elemento importante para que o mundo alcance os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em 2015.
Em geral, quem aposta nas cooperativas acredita no que Yochai Benkler, pesquisador de Harvard, chama de o “gene altruísta”. Benkler refuta a teoria do gene egoísta e cita pesquisas recentes em biologia evolutiva, psicologia, sociologia, ciência política e economia experimental que apontam que as pessoas agem muito menos egoisticamente do que se espera. “Não somos todos Madre Teresa; se fôssemos, não teríamos ouvido falar dela”, escreve o pesquisador. “Entretanto, a maioria dos seres humanos está mais disposta a ser cooperativa, fidedigna e generosa do que o modelo dominante nos permite supor”.