Caminhos e obstáculos enfrentados pelas empresas e pelo poder público servem de inspiração para a evolução dos sistemas de compras
Ao poder somar mais de 80% dos gastos de uma empresa e ainda representar entre 10% e 16% do PIB nacional, a influência
das compras públicas e empresariais nos sistemas de produção e consumo é imensa. Profissionais de mais de 50 organizações públicas e empresariais com gestões voltadas para a sustentabilidade responderam a uma pesquisa inédita no Brasil sobre políticas e práticas institucionais de inserção de atributos de sustentabilidade nas compras e suprimentos. O levantamento foi elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp (GVces) e pelo Iclei – Governos Locais pela Sustentabilidade.
Entre os resultados da pesquisa, destacam-se três barreiras identificadas pelos próprios respondentes, que são: a barreira informacional, que remete ao grau de familiaridade dos profissionais da área de compras com as políticas de sustentabilidade; a barreira financeira, que diz respeito à prevalência de fatores financeiros na tomada de decisão; e a barreira estrutural/gerencial, relacionada à falta de uma diretriz institucional e de comprometimento e apoio da alta liderança.
Para as organizações públicas, foram mais frequentes a identificação de obstáculos relacionados à gestão e estrutura da organização e à falta de informações. Isso pode ser atribuído ao fato de que os respondentes já estavam cientes da tendência da edição de normas que obriguem órgãos públicos a adotar atributos de sustentabilidade em suas licitações, a exemplo do decreto Federal número 7.746/2012 lançado às vésperas da Rio+20. (Regulamenta o conceito de sustentabilidade em compras do governo Federal)
Fica evidenciada, então, a carência de capacitações e treinamentos voltados para a melhoria dos sistemas de contratações e orientados à sustentabilidade, bem como a existência de um processo ou plataforma de informações e formação continuada nesse tema. Além disso, o compromisso da cúpula estratégica das organizações com a sustentabilidade nas compras, bem como uma estrutura organizacional que propicie uma integração entre as áreas de sustentabilidade e de suprimentos podem ser elementos iniciais para um caminho rumo à tal da economia verde e inclusiva proposta por muitos governantes e suportada por alguns teóricos.
Das organizações respondentes, 45% realizam capacitação em sustentabilidade para os profissionais responsáveis pelas compras, ao passo que apenas 20% afirmam oferecer capacitação em sustentabilidade para seus fornecedores. Quanto à adoção de atributos de sustentabilidade nos processos de gestão de suprimentos, 61% das organizações declaram adotar critérios sociais e ambientais para cadastramento e seleção de fornecedores e 47% afirmam considerar certificações sociais e ambientais (como selos verdes) no processo de especificação do produto ou serviço, ou mesmo na seleção de fornecedores. No entanto, somente 4% anunciam premiar seus fornecedores utilizando critérios sociais e ambientais.
Já sobre as práticas de inclusão e relacionadas a aspectos socioeconômicos, 46% das organizações afirmam possuir políticas voltadas para os fornecedores locais, 42% para os micros, pequenos e médios e 19% para aqueles geridos por grupos minoritários, como mulheres, pessoas com deficiência, indígenas e quilombolas. Isso mostra que compra sustentável não se restringe às compras verdes. Olhares para as questões sociais e socioeconômicas são importantes de serem endereçados, já que podem ajudar na redução de desigualdades e na promoção do desenvolvimento local e regional.
Essa pesquisa subsidiou a produção do livro Compra Sustentável: a força do consumo público e empresarial para uma economia verde e inclusiva, redigido pelas equipes do GVces e do Iclei com o jornalista Sérgio Adeodato, e que trouxe uma linguagem leve, para comodidade do leitor. Fruto da união de conhecimentos e da consolidação de experiências de ambas as instituições, o livro indica metodologias e proposições para gestores e compradores.
Recheada de casos e exemplos práticos inéditos, a obra mostra também como instituições romperam resistências e agregaram valor a seus negócios ao observarem não apenas atributos ambientais, mas também questões como direitos humanos, diversidade, segurança e compra de pequenas empresas locais. A linguagem agradável do livro e os infográficos que o ilustram explicitam com clareza as inter-relações entre empresas, poder público e sociedade, e ainda mostram ciclos de vida de produtos em algumas cadeias, como a da construção civil e a da indústria têxtil.
A apresentação desses casos e uma rica discussão sobre as perspectivas para as compras sustentáveis serão destaque no lançamento da obra, a ser realizado no dia 12 de dezembro de 2012, no Salão Nobre da Fundação Getulio Vargas. Para participar, acesse o site fgv.br/ces e faça sua inscrição.
*Lígia Ramos é bacharel em Relações Internacionais, pesquisadora do Programa Consumo SustentáveL do GVces e coautora do livro Compra Sustentável. E Thiago Hector Kanashiro Uehara é gestor ambiental pela ESALQ, mestre em Ciência Ambiental pela USP e coautor do livro Compra Sustentável.