O Brasil melhora sua posição no ranking da energia eólica. Mas ainda não aprendeu a utilizar toda sua força
De acordo com o relatório do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), o Brasil é o décimo quinto país com o maior potencial eólico instalado no mundo e o maior da América Latina. Ao todo, o parque eólico brasileiro conta com 2,5 gigawatts de capacidade total instalada. Em 2012, o país teve o oitavo maior crescimento, com incremento de 1 gigawatt, que ajudou a duplicar o potencial dessa matriz limpa.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), somente em 2012 foram instalados 38 novos parques eólicos, totalizando 108 empreendimentos. Temos, em tese, 108 parques eólicos. Enquanto China e EUA ocupam o topo global, lideramos na América Latina.
Dizemos em tese, porque já chegam a 50 os parques instalados sem linhas de transmissão. Ou seja, as imensas pás dos moderníssimos geradores continuam girando, mas não produzem nada. São como os moinhos imaginários vistos por Dom Quixote.
Enquanto o resto do planeta inaugura um parque eólico por dia, o Brasil deixa de produzir cerca de 630 megawatts. Energia suficiente para abastecer uma cidade de 350 mil habitantes.
Quem viaja pelas estradas do Nordeste, onde se concentram as usinas eólicas, com certeza já cruzou com as carretas transportando as enormes hélices. Em uma primeira impressão, imagina-se que aquele trambolho faça parte de alguma hidrelétrica.
Exatamente o contrário. Essas pás gigantes servem para substituir a energia produzida pelas usinas tradicionais.
Nos últimos dias de fevereiro visitamos o Parque Eólico na Barra dos Coqueiros, em Sergipe. Pela primeira vez pudemos sentir o impacto de um parque eólico visto de perto.
São 23 torres gigantescas, de 100 metros de altura cada uma. Produzem uma paisagem futurista, um panorama visual inesquecível. As pás girando lentamente ali, no litoral sergipano, onde já faz parte do horizonte de quem olha para o mar a visão, na distância, das torres de petróleo tirando óleo da plataforma marítima.
Uma combinação inusitada, o encontro de duas fontes de energia, a do petróleo com a dos ventos, sempre generosos naquela região.
A responsabilidade pelas linhas de transmissão no Nordeste é, por enquanto, um privilégio da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. E a lentidão com que age a estatal Chesf é um desafio constante para os investidores privados que estão descobrindo a força dos ventos.
No caso da Barra dos Coqueiros, o investimento total foi de R$ 125 milhões, parte vinda do Banco de Desenvolvimento da China e gerida pela Desenvix (do grupo Engevix), tendo como sócios a Jackson Empreendimentos, a norueguesa SN Power e a Fundação de Previdência Complementar dos Funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef).
No Ceará está instalada a Central de Geração (ICG) Ibiapina II, que abrange cinco usinas e cuja previsão era entrar em operação em agosto deste ano. Com a demora na construção dos 22 quilômetros da linha de transmissão, poderá começar a funcionar em 20 de abril de 2014. Em situação semelhante estão as ICGs João Câmara, com 26 parques eólicos, e Lagoa Nova, com 8 parques.
Mas isso não desanima os investidores. Com 300 milhões de euros, a companhia elétrica espanhola Iberdrola e o consórcio brasileiro Neoenergia iniciaram o complexo eólico de Carlango, no Rio Grande do Norte, prevendo a incorporação de mais 150 megawatts de potência no sistema brasileiro.
Com esse projeto, a Iberdrola e a Neoenergia passam a ter 10 parques eólicos em fase de construção no Brasil, gerando quase 300 megawatts. Outras cinco instalações, no Rio Grande do Norte – entre elas o complexo de Caetité, previsto para 90 megawatts –, compõem um cenário apto a fornecer eletricidade a 450 mil brasileiros e evitar a emissão de 510 mil toneladas anuais de carbono.
Claro, se o governo, ou alguém, instalar os linhões necessários. Caso contrário, continuaremos a utilizar as altamente poluentes usinas termelétricas que foram ligadas em razão do longo período de estiagem no segundo semestre de 2012.
A última manifestação oficial do Ministério de Minas e Energia diz que as termelétricas só serão desativadas a partir de maio, dependendo da continuidade da temporada de chuvas.
Seja qual for a intensidade das águas vindas do céu, o ar em movimento (a definição mais simples para o vento) continuará sendo a principal alternativa energética para o País, combinada com a produção das hidrelétricas, da bioenergia ou energia verde, da energia solar e, nas eventualidades, com as velhas termelétricas.
Prevê-se que, em dois anos, os ventos poderão trazer para o Operador Nacional do Sistema mais de 7 mil megawatts. E, pelas estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no ritmo atual, a produção eólica brasileira poderá passar dos 11 mil megawatts até 2016.
Exagero? Otimismo em excesso? Talvez não. Ainda será pouco se comparado, por exemplo, com a China, segundo maior produtor de energia eólica do planeta: 25 mil megawatts de capacidade instalada.
*JORNALISTA, FOI UM DOS FUNDADORES DO JORNAL DA TARDE E TRABALHOU NAS REVISTAS VEJA, ISTOÉ E MANCHETE[:en]O Brasil melhora sua posição no ranking da energia eólica. Mas ainda não aprendeu a utilizar toda sua força
De acordo com o relatório do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), o Brasil é o décimo quinto país com o maior potencial eólico instalado no mundo e o maior da América Latina. Ao todo, o parque eólico brasileiro conta com 2,5 gigawatts de capacidade total instalada. Em 2012, o país teve o oitavo maior crescimento, com incremento de 1 gigawatt, que ajudou a duplicar o potencial dessa matriz limpa.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), somente em 2012 foram instalados 38 novos parques eólicos, totalizando 108 empreendimentos. Temos, em tese, 108 parques eólicos. Enquanto China e EUA ocupam o topo global, lideramos na América Latina.
Dizemos em tese, porque já chegam a 50 os parques instalados sem linhas de transmissão. Ou seja, as imensas pás dos moderníssimos geradores continuam girando, mas não produzem nada. São como os moinhos imaginários vistos por Dom Quixote.
Enquanto o resto do planeta inaugura um parque eólico por dia, o Brasil deixa de produzir cerca de 630 megawatts. Energia suficiente para abastecer uma cidade de 350 mil habitantes.
Quem viaja pelas estradas do Nordeste, onde se concentram as usinas eólicas, com certeza já cruzou com as carretas transportando as enormes hélices. Em uma primeira impressão, imagina-se que aquele trambolho faça parte de alguma hidrelétrica.
Exatamente o contrário. Essas pás gigantes servem para substituir a energia produzida pelas usinas tradicionais.
Nos últimos dias de fevereiro visitamos o Parque Eólico na Barra dos Coqueiros, em Sergipe. Pela primeira vez pudemos sentir o impacto de um parque eólico visto de perto.
São 23 torres gigantescas, de 100 metros de altura cada uma. Produzem uma paisagem futurista, um panorama visual inesquecível. As pás girando lentamente ali, no litoral sergipano, onde já faz parte do horizonte de quem olha para o mar a visão, na distância, das torres de petróleo tirando óleo da plataforma marítima.
Uma combinação inusitada, o encontro de duas fontes de energia, a do petróleo com a dos ventos, sempre generosos naquela região.
A responsabilidade pelas linhas de transmissão no Nordeste é, por enquanto, um privilégio da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. E a lentidão com que age a estatal Chesf é um desafio constante para os investidores privados que estão descobrindo a força dos ventos.
No caso da Barra dos Coqueiros, o investimento total foi de R$ 125 milhões, parte vinda do Banco de Desenvolvimento da China e gerida pela Desenvix (do grupo Engevix), tendo como sócios a Jackson Empreendimentos, a norueguesa SN Power e a Fundação de Previdência Complementar dos Funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef).
No Ceará está instalada a Central de Geração (ICG) Ibiapina II, que abrange cinco usinas e cuja previsão era entrar em operação em agosto deste ano. Com a demora na construção dos 22 quilômetros da linha de transmissão, poderá começar a funcionar em 20 de abril de 2014. Em situação semelhante estão as ICGs João Câmara, com 26 parques eólicos, e Lagoa Nova, com 8 parques.
Mas isso não desanima os investidores. Com 300 milhões de euros, a companhia elétrica espanhola Iberdrola e o consórcio brasileiro Neoenergia iniciaram o complexo eólico de Carlango, no Rio Grande do Norte, prevendo a incorporação de mais 150 megawatts de potência no sistema brasileiro.
Com esse projeto, a Iberdrola e a Neoenergia passam a ter 10 parques eólicos em fase de construção no Brasil, gerando quase 300 megawatts. Outras cinco instalações, no Rio Grande do Norte – entre elas o complexo de Caetité, previsto para 90 megawatts –, compõem um cenário apto a fornecer eletricidade a 450 mil brasileiros e evitar a emissão de 510 mil toneladas anuais de carbono.
Claro, se o governo, ou alguém, instalar os linhões necessários. Caso contrário, continuaremos a utilizar as altamente poluentes usinas termelétricas que foram ligadas em razão do longo período de estiagem no segundo semestre de 2012.
A última manifestação oficial do Ministério de Minas e Energia diz que as termelétricas só serão desativadas a partir de maio, dependendo da continuidade da temporada de chuvas.
Seja qual for a intensidade das águas vindas do céu, o ar em movimento (a definição mais simples para o vento) continuará sendo a principal alternativa energética para o País, combinada com a produção das hidrelétricas, da bioenergia ou energia verde, da energia solar e, nas eventualidades, com as velhas termelétricas.
Prevê-se que, em dois anos, os ventos poderão trazer para o Operador Nacional do Sistema mais de 7 mil megawatts. E, pelas estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no ritmo atual, a produção eólica brasileira poderá passar dos 11 mil megawatts até 2016.
Exagero? Otimismo em excesso? Talvez não. Ainda será pouco se comparado, por exemplo, com a China, segundo maior produtor de energia eólica do planeta: 25 mil megawatts de capacidade instalada.
*JORNALISTA, FOI UM DOS FUNDADORES DO JORNAL DA TARDE E TRABALHOU NAS REVISTAS VEJA, ISTOÉ E MANCHETE